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Lei de terceirização é irmã gêmea do trabalho escravo, diz ministro do Trabalho

Luiz Marinho criticou ainda a criação do saque-aniversário do FGTS e afirmou que modalidade permitiu 'farra' do sistema financeiro com fundo de garantia

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Brasília

A lei de terceirização em vigor no país é irmã gêmea do trabalho escravo e a reforma de 2017 trouxe uma "perversidade para a qualidade da relação de trabalho", afirmou nesta quarta-feira (12) o ministro Luiz Marinho (Trabalho), na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados.

A reunião da comissão teve poucas intervenções da oposição e ocorreu sem incidentes, em cenário completamente diferente do observado no dia anterior com o ministro da Justiça, Flávio Dino, na Comissão de Segurança e Justiça da Casa.

Marinho fez inúmeras críticas à reforma de 2017 ao longo das duas horas em que esteve no colegiado. Ele qualificou as mudanças aprovadas durante o governo de Michel Temer de tragédia e retrocesso e citou a necessidade de revisitar pontos do texto, mas sem canetaço ou revogaço.

"A lei de terceirização hoje no país é irmã gêmea do trabalho escravo. Criou a possibilidade de que vale tudo, pode tudo. Isso é algo que precisa ser considerado", afirmou o ministro.

Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, em frente a placa com iniciais da União Geral dos Trabalhadores
Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, em reunião na central sindical União Geral dos Trabalhadores - Zanone Fraissat/ Folhapress

As declarações foram feitas enquanto o ministro defendia a necessidade de enquadrar as atividades econômicas de aplicativos e de estudar formas de proteger os trabalhadores dessas plataformas.

"Não é uma coisa simples falar do enquadramento econômico das novas atividades que as novas tecnologias trazem, que os novos mecanismos, que a evolução traz para os desafios do mercado de trabalho", disse.

Segundo Marinho, é preciso avaliar uma cesta de possibilidades na regulação do trabalho por apps. Segundo ele, há "um certo viés ideológico" nas afirmações de que alguns trabalhadores são "empreendedores" e não desejam registro por meio da CLT.

O ministro argumenta que, quando se pergunta a esses trabalhadores o que desejam com proteção social, eles respondem "eu quero a Previdência Social, eu quero 13º [salário], eu quero férias, eu quero descanso semanal". "Ele está desejando, portanto, a CLT", disse Marinho.

O ministro disse haver um "debate ultraneoliberal" de rejeição à CLT. "Houve, na história recente do país, uma verdadeira pregação contra o trabalho formal. Houve aqui uma verdadeira pregação pela informalidade", continuou.

Marinho voltou a negar qualquer intenção de revogaço do texto de 2017 e afirmou que a intenção do governo é construir um diálogo nas relações de trabalho, com "menos intervenção e mais intermediação". Ele defendeu que sejam revistos pontos cruciais da reforma, sem citar quais, e negou que o governo pense em retomar o imposto sindical.

Durante sua participação, Marinho criticou novamente plataformas como Uber e iFood. "Dizer que é legal um trabalhador ter que trabalhar 16h por dia no trânsito para poder ter condição de levar alguma coisa para casa para sustentar seus filhos, isso beira o trabalho escravo pelo excesso de jornada."

Além disso, voltou a dizer que, caso essas empresas deixem o país após a regulação, outras ocuparão os espaços deixados por elas. "Seria bem-vinda alguma empresa que traga um aplicativo e coloque à disposição dos trabalhadores e trabalhadores sem o viés da exploração absurda que o iFood faz, que a Uber faz no Brasil."

O ministro falou ainda sobre saque-aniversário do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e afirmou que a modalidade tem graves problemas, como o enfraquecimento do próprio fundo para financiar habitação e saneamento.

Além disso, segundo ele, a mudança "criou a possibilidade da farra do sistema financeiro". "Hoje, dos R$ 504 bilhões depositados na conta corrente dos correntistas do FGTS, já temos quase R$ 100 bilhões alienados pelos bancos em empréstimos consignados do fundo de garantia a partir do formato de saque-aniversário", criticou. Ele disse ainda que o governo está discutindo como rediscutir esse mecanismo.

Ao final, Marinho foi questionado sobre as propostas em estudo no governo para a valorização do salário mínimo, entre elas a de considerar o PIB per capita no aumento anual acima da inflação.

"É uma das sugestões, entre várias. Ainda não está batido o martelo por parte do governo de qual será. Nós vamos bater isso com o presidente Lula, assim que retornar da China, para a gente sentar na sequência com as centrais sindicais e fazer o formato final."

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