Cresce a diferença de desemprego entre negros e brancos em Nova York

O índice de desemprego entre nova-iorquinos negros aumentou para 12,2%, enquanto o dos brancos caiu para 1,3%, diz relatório

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Stefanos Chen
The New York Times

A diferença entre as taxas de desemprego de moradores negros e brancos da cidade de Nova York é agora a maior neste século, superando até mesmo a maior lacuna durante a Grande Recessão, de acordo com um novo relatório.

Nos primeiros três meses do ano, a taxa de desemprego dos nova-iorquinos negros subiu para 12,2%, a mais alta entre todos os grupos, enquanto a taxa de desemprego dos moradores brancos caiu para 1,3%, a menor desde 2000. O relatório foi divulgado na quinta-feira (27) pelo Centro de Negócios da Cidade de Nova York na The New School. A taxa geral de desemprego entre os nova-iorquinos foi de 5,3%.

Os números da cidade de Nova York estão fora de sintonia com o panorama geral dos Estados Unidos. A taxa nacional de desemprego entre americanos negros foi de 5,4% no primeiro trimestre do ano, e a taxa entre brancos foi de 3,2%. Os números nacionais incluem candidatos a empregos hispânicos negros, enquanto os dados de Nova York não.

J. Marie Jones ajuda sua filha, Kayia, a se arrumar para a escola
J. Marie Jones ajuda sua filha, Kayia, a se arrumar para a escola, em Roosevelt, Nova York. - The New York Times

As taxas de desemprego de negros e brancos na cidade de Nova York não divergiram continuamente durante pelo menos um ano há cerca de 25 anos, e isso está acontecendo num momento em que o desemprego de negros em todo o país se aproxima de novos pisos, disse James A. Parrott, coautor do relatório e diretor de política econômica e fiscal do Centro de Negócios.

A diferença crescente agora ameaça a recuperação da cidade da pandemia, potencialmente exacerbando a desigualdade de renda em uma das cidades mais caras do mundo.

As claras diferenças raciais no desemprego decorrem de diversos fatores, incluindo as diferenças nos tipos de empregos em que os nova-iorquinos negros e brancos trabalham, racismo no processo de contratação e diferenças históricas nas qualificações profissionais que estão enraizadas em políticas discriminatórias do passado, disseram especialistas.

De 2020 até o final de 2021, com algumas das regras mais rígidas relacionadas à Covid no país, 310 mil nova-iorquinos perderam seus empregos devido ao fechamento permanente de empresas, e outros 406 mil devido à redução de escala das empresas, disse o doutor Parrott.

Mas a diferença no desemprego não é totalmente explicada por essas perdas. Os setores que mais sofreram foram os negócios "cara a cara", como varejo, construção e hotelaria. Essas perdas afetaram desproporcionalmente os trabalhadores latinos, que recuperaram empregos mais rapidamente do que os nova-iorquinos negros.

E algumas das indústrias que mais empregos criaram em Nova York no ano passado foram tecnologia e finanças, levando a ganhos desproporcionais para candidatos a emprego brancos e asiáticos, disse Parrott.

O relatório usou dados ajustados sazonalmente, seguindo um método adotado pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho.

Depois que as taxas de desemprego de brancos e negros caíram ao longo de 2021, a taxa de desemprego de cidadãos negros começou a subir novamente no primeiro trimestre de 2022, enquanto a taxa de brancos continuou caindo. A diferença entre os dois mais que dobrou desde então, de 5,2 pontos percentuais para 10,9 pontos percentuais, disse o doutor Parrott. A última vez que o hiato do desemprego chegou perto disso foi durante a Grande Recessão, quando atingiu 10,3 pontos percentuais em relação ao primeiro semestre de 2009.

"Esse tipo de divergência sustentada nunca aconteceu antes", pelo menos neste século, disse Parrott. "A discriminação com base na raça é uma grande parte disso", disse ele, observando que os dados mostram que os candidatos a empregos negros estão frequentemente entre os últimos a ser escolhidos para as vagas.

A Corporação de Desenvolvimento Econômico da cidade, que usa um método de análise diferente, informou na sexta-feira (28) que a taxa de desemprego dos moradores negros aumentou para 10,4%, enquanto a taxa de desemprego dos brancos caiu para 2,5%.

Em um comunicado, o prefeito Eric Adams disse que desde que assumiu o cargo, no ano passado, a cidade de Nova York criou mais de 250 mil empregos no setor privado.

"Mas essa oportunidade não foi compartilhada igualmente, e estamos tomando medidas agressivas para reconstruir uma economia equitativa que ajude os nova-iorquinos que foram desproporcionalmente afetados pela pandemia e aborde a alta taxa de desemprego entre os nova-iorquinos negros", disse ele.

As políticas municipais e estaduais para estimular o crescimento do emprego não se concentraram o suficiente nas comunidades mais atingidas, disse Barika Williams, diretora executiva da Associação de Desenvolvimento de Bairros e Moradias, uma coalizão sem fins lucrativos de habitação e justiça econômica.

"A recuperação não está acontecendo uniformemente em toda a cidade", disse ela, especialmente nos bairros de maioria negra.

"O fato de termos agora uma lacuna de desemprego maior do que tínhamos com a Covid é chocante", acrescentou ela.

Ronnie Coaxum, 60, disse que foi demitido em 2020 de um cargo na divisão de alimentos e bebidas do hotel Marriott Marquis em Manhattan, onde trabalhou durante 36 anos. A procura de emprego tem sido difícil; na quinta-feira, ele foi de sua casa no sul do Bronx até um centro de empregos no Harlem, em busca de trabalho.

"Tenho feito trabalhos temporários, de segurança...", disse ele. "Tenho feito trabalhos de manutenção, apenas pulando por aí."

Ele não se surpreendeu com a crescente disparidade racial nas taxas de desemprego. "Sempre foi assim", disse. "Sinto isso nas entrevistas de emprego, mas só tenho que ser eu mesmo. Não deixo que isso me incomode."

A procura de emprego também tem sido difícil para os mais jovens. Cerca de 17% dos nova-iorquinos na força de trabalho entre 18 e 24 anos estavam desempregados, segundo o relatório, com os jovens negros desproporcionalmente representados nesse grupo.

Para os homens negros com condenações criminais anteriores, a busca pode ser duplamente difícil, disse Christopher Watler, vice-presidente executivo do Centro de Oportunidades de Emprego, uma agência de desenvolvimento profissional para pessoas com antecedentes criminais.

Raliek Mitchiner, 22, que foi condenado quando era menor, disse que não recebeu ligações de retorno de vários empregos a que se candidatou desde 2021. "Quando ouvem o nome Raliek, assumem automaticamente que sou negro", disse ele. "Ninguém sabe que sou um bom trabalhador, sou um cara legal, e isso é péssimo."

Mitchiner começou a trabalhar como estagiário remunerado em janeiro no Centro de Oportunidades de Emprego, e também trabalha no turno da noite como especialista de apoio numa unidade de saúde mental no Bronx.

O primeiro cargo só estava aberto para ele por causa de sua condenação anterior. "Eu tive que entrar em confusão para trabalhar", disse. Ele conseguiu o segundo graças a um parente que o indicou para a função.

Na quinta-feira, Zsanay Anderson, 19, estava no escritório do Departamento do Trabalho no centro do Brooklyn, esperando por uma atualização sobre seu pedido de seguro-desemprego, que havia apresentado seis semanas antes.

"Eles não ajudaram", disse ela. "Só disseram que ainda estão revisando."

Anderson perdeu o emprego em março como gerente de caso de uma agência de serviços sociais sem fins lucrativos, onde ajudava a conectar pessoas sem-teto a abrigos e serviços de saúde mental. Ela mora num abrigo para vítimas de violência doméstica em Flatbush com sua mãe, depois que elas fugiram de um relacionamento fisicamente abusivo na Carolina do Norte no ano passado.

Na Carolina do Norte, Anderson trabalhava como gerente de restaurante e se preparava para começar a faculdade para obter um diploma de dois anos. Ela disse que pretendia se matricular na faculdade em Nova York e esperava poder passar de um abrigo para um dormitório.

Mas primeiro ela quer trabalhar. "Tenho muita experiência", disse, citando cargos anteriores em atendimento a clientes e creches.

A busca por um novo emprego foi "horrível" até o início desta semana, disse ela, quando recebeu uma ligação de um provedor de serviços sociais no Brooklyn.

Sua próxima parada seria visitar o escritório do empregador para tirar impressões digitais e verificar os antecedentes.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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