Descrição de chapéu alimentação

Madero chega a Congonhas e encerra jejum de expansão

Rede de Junior Durski precisou segurar inaugurações para reduzir dívida

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São Paulo

A rede de restaurantes Madero vai interromper a desaceleração do ritmo de inaugurações, necessária para melhorar as condições de caixa e acalmar investidores, para abrir sua primeira unidade no aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista.

Com 155 metros quadrados e 40 lugares, o restaurante fica na área de embarque do terminal e deve abrir as portas no dia 11 de maio.

Junior Durski, fundador e presidente do grupo, diz que a unidade de Congonhas era um sonho antigo. A rede tem lojas nos aeroportos Santos Dumont, no Rio, Afonso Pena, em Curitiba, e em Brasília.

Os espaços para novos negócios no terminal doméstico de São Paulo são disputados, caros e escassos.

As negociações para a nova unidade do Madero começaram ainda antes da pandemia (e antes de a rede precisar alterar o plano de voo). Quando o processo andou, o entendimento da companhia foi o de que aquele era um investimento justificado.

Nova unidade do restaurante Madero em Congonhas - Gerson Lima/Divulgação

Segundo Durski, o principal chamariz do restaurante no aeroporto de Congonhas será o preço.

"Vamos vender pelo mesmo preço dos outros. Vai ter comida boa e não vai ser mais caro do que você paga fora dali."

O pé no freio em 2022 foi um revés para quem estava pronto para abrir capital. O IPO (sigla em inglês para oferta pública de ações) estava marcado para maio de 2020, em Nova York, mas o início da pandemia exigiu uma correção de rota.

O grupo ainda manteve o plano no ano seguinte. Durante a janela para pedidos de IPOs, solicitou registro de companhia aberta, liberado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em novembro. A oferta pública, porém, não saiu.

Os anos de 2020 e 2021 foram ruins para os negócios. No primeiro ano de pandemia, o prejuízo foi de R$ 249 milhões, e no segundo, de R$ 121,4 milhões. Foi em 2021 que a rede recebeu um aporte de R$ 300 milhões do grupo Carlyle por meio do fundo Madrid, que hoje tem 34,4% das ações da rede.

O acumulado de resultados ruins fez disparar a dívida financeira do grupo, que estava em R$ 764 milhões ao fim de 2021 e em R$ 898,8 milhões em dezembro do ano passado.

Apesar do aumento no valor, o endividamento caiu em relação ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) –de 3,55, em 2021, para 2,53, ao fim de 2022; a meta era 3, segundo os indicadores de convenantes.

Para conter o crescimento da dívida, o Madero precisou segurar inaugurações, enxugar operações e melhorar a gestão de recursos. Durski conta que durante o período mais agudo da pandemia, o índice de desperdício nos restaurantes chegou a 10%, puxado principalmente pelos fechamentos inesperados e pelo descontrole no balanço dos estoques. Agora, quer levar esse percentual para a faixa de 2,5%.

Desde 2020, o grupo reduziu significativamente o volume de investimentos para garantir a redução na alavancagem.

Em 2021, o grupo ainda investiu R$ 233,3 milhões em novos restaurantes, cifra que caiu a R$ 105,8 milhões no ano passado. A redução total de investimentos foi de 43,3% de 2021 para 2022.

Apesar do clima geral de aperto, Durski diz estar animado. Juros altos, crédito, falta de dinheiro, tudo isso é um problema, mas ele diz que no segmento em que atua foram muitos os altos e baixos nos últimos anos.

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Junior Durski, presidente do Grupo Madero, ainda sonha com o IPO - Brunno Covello-19.abr.18/Folhapress

Sem poder investir em novos restaurantes, algo que demandaria queimar dinheiro em caixa, a solução encontrada pelo grupo foi a criação de "subs-resturantes" dentro da própria rede. Foi assim que unidades do Madero Steak House passaram a ter também um cardápio italiano, sob o nome de Legno.

No Jerônimo, os hambúrgueres passam a dividir espaço com o Dundee, restaurante de frango frito. Incluir esses negócios em lojas já estabelecidas foi uma maneira, segundo Durski, de melhorar o fluxo de caixa sem fazer grandes investimentos.

As unidades do grupo em shoppings seguem afetadas pela redução na circulação de consumidores nesses espaços, cerca de 20% menor do que no início de 2020.

O grupo Madero tem hoje 275 restaurantes e mantém um modelo de operação 100% verticalizado. Ou seja, controla praticamente toda a cadeia até a ponta, nos restaurantes. Da cozinha central, em Ponta Grossa, no Paraná, saem hambúrgueres resfriados, alfaces e tomates lavados, pães preparados.

A cozinha central tem hoje capacidade para atender até 500 restaurantes. Os caminhões que saem de Ponta Grossa são do grupo, assim como o motorista que o dirige é funcionário da empresa.

Durski diz que o controle da cadeia faz sentido para que ele consiga garantir o padrão do que é servido em cada unidade, e porque dá agilidade na solução de problemas. Também custa menos do que terceirizar, segundo Durski, visão endossada por Ariel Szwarc, vice-presidente financeiro da rede.

Alfaces, tomates e morangos usados das unidades do Madero são cultivados por produtores que atendem praticamente só a rede.

Szwarc afirma que a regularidade na demanda dá a esses agricultores a segurança para produzir, uma vez que a capacidade de escoamento e ganho de escala são com frequência apontados como dificuldades do cultivo de orgânicos, o que leva ao encarecimento desses produtos. "Com a regularidade, também conseguimos negociar bons preços", afirma o chefe financeiro da operação de Durski.

Para que as saladas cheguem a estados do Norte e Nordeste em condições de consumo –a viagem leva 11 dias, pois, segundo Durski, os motoristas fazem todas as pausas previstas na legislação–, elas são colocadas em um tipo de saco especial que regula a troca de oxigênio e mantém a qualidade por até 32 dias.

Lembrado com frequência como um empresário bolsonarista, Junior Durski diz que nunca escondeu seu apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que, passadas as eleições, "a vida segue". Em alusão similar a feita por Luciano Hang, outro empresário próximo do ex-presidente, disse que torce pelo sucesso do governo, pois "estamos todos no mesmo avião."

Os dois primeiros governos Lula, lembra Durski, foram um período bom para os negócios. "Experiência, sabemos que ele tem. Agora é torcer."

O IPO projetado em 2020 e depois em 2021 não saiu dos planos do empresário, mas, segundo ele, já não ocupa um papel central nas decisões que toma.

Com um livro escrito e pronto para ser editado, o fundador do grupo Madero não esconde o desejo de encerrar o registro escrito de sua história com esse passo. "Falta um final e eu acho que poderia ser esse, mas vamos abrir [capital] quando der para abrir."


RAIO-X | GRUPO MADERO

4º trimestre de 2022
Receita líquida:
R$ 424 milhões
Ebitda: R$ 113 milhões
Prejuízo líquido: R$ 42,3 milhões
Unidades: 275 restaurantes; dos quais seis são franquias

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