Descrição de chapéu Financial Times Silicon Valley Bank

Resgate do First Republic não consegue deter queda de bancos regionais dos EUA

PacWest e Western Alliance estão sob pressão em meio à venda generalizada de ações bancárias

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Financial Times

O resgate do First Republic, esta semana, não conseguiu deter a onda de venda de ações de bancos regionais, que sofreram forte queda na manhã desta terça-feira (2), enquanto os investidores digeriam a aquisição do problemático banco californiano pelo JPMorgan.

As transações com ações do PacWest, considerado como um dos mais fracos dos bancos regionais de porte médio, foram suspensas por um breve período devido à instabilidade e tinham sofrido queda de 25% na metade do pregão em Nova York. A queda colocou o PacWest a caminho de seu pior declínio diário desde 10 de março, quando o colapso do Silicon Valley Bank pressionou todo o setor. O Western Alliance sofreu queda de mais de 20%.

Os dois bancos se tornaram alvo de escrutínio devido às suas semelhanças com o Silicon Valley Bank e o First Republic, cujo controle foi assumido pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), a organização federal americana que garante os depósitos bancários, depois de terem sofrido enormes fugas de depósitos e grandes perdas contábeis em ativos de longo prazo.

Agência do First Republic Bank na Califónia - Li Jianguo/Xinhua

O JPMorgan comprou os depósitos do First Republic e a maior parte dos seus ativos na segunda-feira, mas os acionistas do banco perderam todo o dinheiro que tinham investido nele.

"O mercado está indo de um banco fraco ao seguinte. E não são apenas os vendedores a descoberto, são também os clientes que perguntam se seus depósitos estão seguros", disse Chris Whalen, presidente da Whalen Global Advisors. "O mercado está se concentrando nos elos mais fracos da corrente e procurando aqueles que estejam vulneráveis".

O índice KBW de ações de bancos regionais caiu em mais de 5% nas operações da manhã. O Zions Bancorp, sediado no Utah, sofreu a maior queda no índice S&P 500, com declínio de 13%.

Um analista bancário apontou para uma ressalva nos comentários feitos pelo presidente-executivo do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, depois da aquisição do First Republic. Embora tenha dito que o resgate do banco californiano, na segunda-feira, "resolve praticamente todos os problemas", adiantou que "pode haver um novo resgate, menor, por vir".

"As pessoas estão se agarrando a esse comentário", disse o analista.

Michael Metcalfe, diretor de estratégia macroeconômica na State Street Global Markets, afirmou que "o nervosismo do mercado é compreensível", depois da quebra do First Republic.

No entanto, ele observou que os investidores de longo prazo vêm comprando mais ações de bancos nas últimas semanas, o que sugere "nem pânico nem um contágio mais amplo". E acrescentou: "A implicação é que o movimento dos preços [na terça-feira] é mais orientada à especulação".

As ações dos grandes bancos também estavam em queda, embora menos acentuada, com o Goldman Sachs e o Morgan Stanley em baixa de cerca de 2% cada. O JPMorgan caiu cerca de 1,4%.

As ações do setor bancário tendem a ser altamente cíclicas e o Serviço de Estatísticas do Trabalho, um órgão federal americano, informou na terça-feira que o número de vagas de emprego tinha caído para o nível mais baixo desde maio de 2021, em meio a receios crescentes de que os Estados Unidos estejam para ultrapassar seu teto de endividamento.

Vários investidores e executivos importantes alertaram para o potencial de novas consequências, depois da onda de quebra de bancos.

David Hunt, presidente executivo do PGIM, disse aos participantes na conferência do Milken Institute em Beverly Hills, segunda-feira, que "estamos apenas a começando [a ver] as implicações para a economia americana", enquanto Rishi Kapoor, copresidente da Investcorp, disse que "não há dúvida de que o efeito de segunda e terceira ordem sobre o setor bancário... vai causar condições financeiras restritivas".

Os bancos regionais estão particularmente expostos ao setor de imóveis comerciais, que emergiu recentemente como uma área de preocupação, devido à sua exposição a taxas de juro mais elevadas e ao receio de que a prevalência do trabalho em casa reduza a procura de escritórios.

Em entrevista ao Financial Times no fim de semana, Charlie Munger, do grupo de investimento Berkshire Hathaway, alertou para o fato de os bancos regionais estarem "carregados" de maus empréstimos ao segmento de imóveis comerciais.

Os investidores vêm apostado fortemente em novas quedas das ações de alguns dos bancos de médio porte, e o interesse a descoberto no PacWest, sediado na Califórnia, está particularmente elevado. No entanto, o nível de atividade de venda a descoberto pouco se alterou no último mês, de acordo com dados da Markit.

Os bancos de médio porte, com ativos de entre US$ 100 bilhões e US$ 250 bilhões, também são motivo de preocupação, já que as autoridades regulatórias americanas afirmaram que planejam reforçar a fiscalização e os requisitos regulatórios, o que provavelmente aumentará os custos e afetará os lucros dos bancos menores.

As preocupações com o teto da dívida nacional também podem estar contribuindo para a queda das ações dos bancos, disse Casey Haire, analista de ações do banco Jefferies. "Isso mexe com a curva de rendimento [do Tesouro]", acrescentou. "Uma curva de rendimento invertida nunca é boa para os bancos".

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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