Descrição de chapéu Silicon Valley Bank

A diferença entre o First Republic e outras falências bancárias recentes

Autoridades do governo Biden ficaram em segundo plano numa solução mais limpa intermediada por reguladores da FDIC

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Brooke Masters, James Fontanella-Khan, Stephen Gandel, Colby Smith e James Politi
Nova York e Washington | Financial Times

Embora o colapso do SVB (Silicon Valley Bank) em 10 de março tenha ajudado a desencadear a implosão do First Republic na noite de domingo (30), os reguladores dos EUA adotaram uma abordagem marcadamente diferente para limpar a bagunça desta vez.

Quando o SVB faliu, em março, a FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), agência que administra os colapsos bancários nos Estados Unidos– o fechou no meio de um dia útil antes de conseguir um potencial comprador. Isso significou que ela teve que criar um chamado banco-ponte administrado por reguladores até que intermediasse uma venda do SVB, mais de 15 dias depois.

Sede do JPMorgan Chase &Co., em Nova York
JPMorgan compra ativos do First Republic Bank após leilão feito pelo governo dos EUA - Michael Nagle - 01.mai.2023 / Xinhua

Os temores sobre o que aconteceria com os clientes do SVB com depósitos acima do nível de US$ 250 mil cobertos pelo seguro federal provocaram corridas a vários outros bancos. Isso obrigou o governo Biden a declarar que o SVB e o Signature, outro credor que faliu na mesma época, eram um risco sistêmico, permitindo que o governo garantisse todos os depósitos.

Por outro lado, o First Republic vinha oscilando há semanas e a FDIC conseguiu colocar o banco em concordata e rapidamente negociar um acordo com o JPMorgan para assumir todos os depósitos, inclusive contas com saldos elevados.

Esse é o manual preferido da FDIC para fechar bancos.

O JPMorgan pagará US$ 10,6 bilhões ao regulador, enquanto a FDIC fornecerá ao JPMorgan um empréstimo por cinco anos com prazo fixo de US$ 50 bilhões. A agência estima que o acordo custará US$ 13 bilhões ao fundo de seguros.

Por que o JPM foi autorizado a comprar o First Republic?

Em circunstâncias normais, o JPMorgan, maior banco dos Estados Unidos, seria proibido de comprar o First Republic por motivos de concorrência. Os reguladores dos EUA não estão autorizados a aprovar qualquer acordo que resulte em uma instituição deter mais de 10% dos depósitos segurados nos EUA.

O JPMorgan já estava acima desse limite.

No entanto, os reguladores tinham a obrigação de vender o banco à parte que fizesse a melhor oferta à FDIC. Uma pessoa informada sobre a transação disse que o JPMorgan "recebeu uma isenção porque era de longe o melhor negócio".

A decisão final de renunciar às regras foi tomada pelo Escritório do Controlador da Moeda, uma agência independente do Tesouro dos EUA que garante que os credores cumpram as leis e regulamentos, segundo Jeremy Barnum, diretor financeiro do JPMorgan.

Essa foi uma solução do "setor privado"?

Não exatamente. Embora as impressões digitais do governo sejam mais difíceis de encontrar no First Republic do que em outras falências bancárias recentes, seria errado argumentar que foi resolvida apenas pelo setor.

Jamie Dimon, executivo-chefe do JPMorgan, disse na segunda-feira (1) que sua instituição passou de consultor para comprador do First Republic somente depois que o governo pediu ao banco para "intensificar". E o acordo final incluiu a linha de crédito de US$ 50 bilhões para o JPMorgan, além de um acordo de divisão de perdas com o FDIC.

Além disso, a falência e a venda do First Republic para o JPMorgan resultarão numa perda de US$ 13 bilhões para a FDIC. Se não tivesse sofrido o golpe, alguns depositantes –incluindo grandes bancos que haviam depositado US$ 30 bilhões no First Republic como parte de uma tentativa de resgate malfadada– teriam perdido dinheiro.

O JPMorgan disse na manhã de segunda que espera que o acordo resulte num leve ganho líquido imediato para o credor. Se tivesse concluído uma transação sem assistência do governo, teria de reconhecer bilhões de dólares em perdas no primeiro dia.

Por que o governo Biden ficou em segundo plano?

Nas semanas que se seguiram às falências do SVB e do Signature, as principais autoridades do governo Biden ficaram cada vez mais confiantes em que uma fuga de depósitos de pequenos e médios credores havia começado a se estabilizar.

O First Republic foi uma exceção que teve de ser enfrentada. Mas a Casa Branca, o Tesouro e o Federal Reserve –todos fortemente envolvidos nos outros dois colapsos bancários– adotaram uma abordagem mais neutra. Em vez disso, os reguladores da FDIC estavam firmemente na vanguarda de decidir o destino do último credor falido.

As autoridades apostaram que havia menos risco de contágio mais amplo desta vez. O Tesouro não precisou invocar a exceção de risco do sistema porque todos os depósitos foram assumidos pelo JPMorgan.

Um menor envolvimento de autoridades poderia ajudar a proteger o governo de qualquer reação política, incluindo afirmações de que o acordo fortaleceu ainda mais o JPMorgan, banco já considerado poderoso demais por alguns políticos e ativistas de esquerda.

"Todos os depositantes estão sendo protegidos, os acionistas estão perdendo seus investimentos", disse Joe Biden na Casa Branca na segunda-feira. "De forma crítica, não são os contribuintes que estão no anzol."

Houve muitas consequências políticas?

Após a implosão do SVB, os republicanos criticaram a decisão da FDIC de optar inicialmente por uma solução liderada pelo governo e perguntaram se um preconceito contra o crescimento dos grandes bancos ajudou a impedir uma venda.

Até agora, os republicanos têm sido mais elogiosos sobre a resolução do First Republic.

"Há muito tempo manifesto preocupação pela ampla intervenção do governo financiada pelos contribuintes, por isso estou feliz que a FDIC atendeu às minhas preocupações e garantiu uma solução de mercado privado para o First Republic", disse Tim Scott, líder republicano no comitê de bancos do Senado.

O republicano Patrick McHenry, presidente do comitê de serviços financeiros da Câmara, aplaudiu o "trabalho rápido dos reguladores".

Enquanto isso, os democratas progressistas aproveitaram a falência de mais um banco dos EUA para reforçar seus apelos por uma regulamentação mais rígida, incluindo requisitos de capital e liquidez mais robustos. Sherrod Brown, democrata, presidente do comitê bancário do Senado, disse que o colapso do First Republic mostra a necessidade de "proteções mais fortes".

A senadora democrata progressista Elizabeth Warren disse que a falência do First Republic destacou "como a desregulamentação agravou o problema do ‘grande demais para falir’".

"Um banco mal supervisionado foi comprado por um banco ainda maior –no final das contas, os contribuintes estarão no anzol", acrescentou ela.

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