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Bolsa tem alta e renova máxima do ano após inflação abaixo do esperado

Dólar também sobe com expectativas sobre juros nos EUA

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São Paulo

A Bolsa brasileira teve o quinto pregão seguido de alta nesta quarta-feira (7) após a divulgação de dados positivos de inflação no Brasil, que vieram abaixo do esperado em maio e reforçaram apostas de um corte antecipado da Selic (taxa básica de juros) no segundo semestre deste ano.

Já o dólar começou o dia em queda, mas fechou em alta ante o real, com investidores digerindo o cenário doméstico e do exterior e em meio a expectativa em relação à próxima decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

Com isso, o Ibovespa subiu 0,76%, a 115.488 pontos, renovando seu melhor desempenho do ano, enquanto o dólar teve alta de 0,26%, a R$ 4,925.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta quarta que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação do Brasil, desacelerou a 0,23% em maio, após alta de 0,61% em abril. No acumulado de 12 meses, o índice registra alta de 3,94%, menor nível desde outubro de 2020.

Os dados surpreenderam positivamente o mercado, que projetava alta de 0,33% no mês, e reforçaram as projeções desencadeadas pelo IPCA-15 sobre o início de um corte de juros no Brasil no segundo semestre deste ano.

O economista Denis Medina, professor da FAC-SP, afirma que a desaceleração do IPCA mostra que o aumento de juros e as ações do governo federal têm surtido efeito no controle da inflação.

"[O IPCA de maio] É uma sinalização clara de que o Banco Central pode iniciar a redução da Selic, o que pode ser muito positivo para o crescimento econômico neste ano. A inflação está entrando na meta do BC, é uma excelente sinalização para o mercado", diz Medina.

Sede da B3, em São Paulo (SP) - Amanda Perobelli - 28.out.2021/Reuters

Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, destaca que, além das previsões positivas de inflação, as projeções para o PIB brasileiro estão sendo revisadas para cima, o que reforça o otimismo com a economia brasileira que vem impulsionando os ativos locais nas últimas semanas.

Ele lembra, porém, que a economia do país deve ter uma desaceleração no próximo semestre, justamente por causa do alto nível de juros no país.

Segundo o último boletim Focus, divulgado na segunda (5), o mercado prevê que a Selic será reduzida em 0,50 ponto percentual em setembro, contra 0,25 ponto estimado antes. Boa parte das casas, porém, aposta num corte de juros já em agosto, visão reforçada pelos dados de inflação divulgados nesta quarta.

Um deles é o Bank of America, que afirma que os novos dados de inflação reforçam suas projeções de corte na Selic em agosto. Já o Bradesco e a BTG mantiveram suas previsões para setembro, mas dizem reconhecer a possibilidade de uma antecipação.

A meta para a inflação deste ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. O IPCA divulgado hoje, então, está dentro do teto da meta, mas analistas ainda esperam que a inflação acumulada ganhe força no próximo semestre.

Nesse cenário, os juros futuros mantiveram o movimento de queda registrado nos últimos dias. Os contratos com vencimento para janeiro de 2024 iam de 13,13% para 13,09%, enquanto os para 2025 caíam de 11,24% para 11,22%.

A inflação abaixo do esperado também reforçou a alta do Ibovespa nesta semana, e a Bolsa brasileira caminhou próxima dos 116 mil pontos no início do dia, atingindo a máxima de 115.978 pontos.

As principais altas foram da Petrobras, que registrou ganhos de 3,07% nas ações ordinárias e 3,03% nas preferenciais, e da Vale, que subiu 1,76%. A petroleira foi beneficiada por uma elevação na recomendação de compra de seus papéis pelo Morgan Stanley.

Altas de Eneva (3,36%), Yduqs (3,91%), Carrefour (2,19%) e Via (3,32%) também apoiaram o índice, registrando os maiores ganhos da sessão;

Ações do setor de consumo, que são mais sensíveis a juros, foram apoiada nesta quarta pelas projeções de corte na Selic, como explica Andre Fernandes, sócio da A7 Capital.

"Num cenário de juros baixo e uma retomada da economia, por conta de uma liberação maior de crédito a taxas menores, esses ativos atraem o consumidor final", afirma Fernandes, que também acredita num corte da Selic entre agosto e setembro.

Na outra ponta, IRB Brasil, Azul e CSN Mineração registraram as maiores perdas, com quedas de 6,24%, 3,51%% e 3,35%, respectivamente. A IRB divulgou que seu conselho aprovou a terceira emissão de debêntures da companhia, enquanto a CSN sofreu um corte de recomendação pelo Santander.

A Azul, por sua vez, está numa correção após ter registrado fortes altas nas últimas sessões. As ações da companhia acumulam valorização de quase 90% desde o início do ano, num momento de retomada da demanda por voos no país.

Um corte antecipado da Selic poderia impulsionar ainda mais os ativos locais, tanto por tornar a renda variável mais atrativa quanto por permitir que empresas tenham o acesso a crédito facilitado, apoiando investimentos.

Cotação do dólar

O dólar, por sua vez, teve alta após os dados de inflação brasileiros, afetado principalmente pela expectativa sobre a próxima decisão do Fed sobre os juros.

A maioria dos operadores de mercado americanos prevê que o Fed deve manter as taxas de juros do país inalteradas em sua próxima reunião, mas dados mistos sobre a economia americana ainda causam incerteza no mercado, com boa parte dos investidores apostando numa nova alta de 0,25 ponto percentual.

"Há uma divisão dentro do Fomc [comitê que toma decisões sobre os juros nos EUA]. Parte dos membros sinalizou que desejava continuar subindo os juros, enquanto uma outra parte desejava mais tempo para analisar os efeitos defasados da política monetária", diz Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro capital.

A gestora prevê que o Fed não elevará os juros na próxima reunião, mas deve utilizar seu comunicado para sinalizar novas altas neste ano.

Um cenário de estabilidade próximo tende a pressionar o dólar, já que a moeda seria beneficiada por um aumento das taxas de juros, que torna a renda fixa dos EUA mais atrativa. Uma nova alta, na lógica inversa, apreciaria o dólar.

Além disso, com as projeções de corte antecipado da Selic, o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA pode aumentar, o que favoreceria ainda mais a moeda americana ante o real.

Andre Fernandes, da G7, lembra, ainda, que a véspera de feriado de Corpus Christi também impacta o valor do dólar, com investidores comprando a moeda buscando proteção de seu valor, numa estratégia conhecida como "hedge".

No exterior, a moeda americana ficou estável, com o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante essas divisas, fechando o dia sem variação.

Os índices de ações americanos também foram afetados pela expectativa de juros e apresentaram fraqueza. O S&P 500 e o Nasdaq caíram 0,38% e 1,29%, respectivamente. O Dow Jones, porém, subiu 0,27%.

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