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Editor do New York Times defende independência, inclusive da pressão interna

Em congresso mundial, Joe Kahn argumenta que esse é 'o verdadeiro teste do jornalismo independente'

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Taipé

Executivo mais proeminente no congresso da Wan-Ifra (Associação Mundial de Editores de Notícias), em Taiwan, o editor do jornal The New York Times usou sua participação para defender o jornalismo independente, que vem sendo questionado entre profissionais nos Estados Unidos.

Joe Kahn exemplificou a postura do jornal, também defendida publicamente pelo publisher A. G. Sulzberger, com a cobertura que realiza de temas sobre pessoas trans. Desde o início do ano, ela tem sido alvo de crítica tanto externa quanto interna, de integrantes da própria Redação, inclusive com cartas abertas.

Uma delas, assinada por dezenas de seus jornalistas, ao lado de leitores, intelectuais e outros, afirmou que o NYT estaria "seguindo a liderança de grupos de ódio de extrema direita" ao publicar extensas reportagens "discutindo a adequação de cuidados médicos para crianças trans".

Joseph Kahn, a managing editor of The New York Times, has been named executive editor
Joseph Kahn, editor do The New York Times - Todd Heisler/The New York Times

Segundo Kahn, "o significado de independência é encontrar essas questões sobre as quais sua própria equipe está dividida, seus próprios jornalistas não têm certeza de como cobrir, e achar uma forma de fazer bom jornalismo que fale para um grande número de pessoas sobre por que essas divisões existem".

Vale também para os leitores: "O verdadeiro teste do jornalismo independente, que não toma partido, é quando você tem pessoas que até amam o jornalismo que você faz, mas não veem algo que você está escrevendo como em sincronia com as visões delas do que deveria estar fazendo".

Diz que é "uma situação mais complicada, porque você quer ouvir". No caso do "papel social para pessoas que são trans", ele avalia que "o entendimento disso está evoluindo e, enquanto isso acontece, pode ser uma questão muito polarizadora. E nós temos que navegar isso".

No amplo debate sobre independência e objetividade que acontece neste momento no jornalismo americano, um dos pontos centrais para propor uma cobertura mais ativista, que toma partido, é que isso refletiria melhor as redações, sobretudo seus jornalistas mais jovens.

Kahn, 58, que estudou mandarim em Harvard e cobriu China por duas décadas, para Dallas Morning News, The Wall Street Journal e o próprio NYT, lamentou o baixo número de jornalistas americanos no país, hoje. "No NYT, estamos reduzidos a dois, o que é, para uma organização global, completamente insuficiente."

O quadro vem de três anos atrás, quando o governo Trump retirou o visto de dezenas de profissionais de Xinhua, CCTV e outros grupos chineses, o que foi retaliado cortando vistos de NYT, Voice of America e outros. O editor do jornal à época apelou para Washington e Pequim, sem sucesso.

"Muitos [veículos] foram forçados a cobrir um país gigante, uma força geopolítica mundial, a segunda maior economia do mundo, com um punhado de pessoas, o que é realmente inadequado para a tarefa de tentar aumentar a compreensão global", diz Kahn, cujo título formal é editor-executivo.

"Estamos empenhados em fazer o que podemos, temos repórteres em Hong Kong, em Taiwan, em cobertura ativa da China, tanto o que está acontecendo no país quanto seu impacto no mundo. Mas eu gostaria muito de ver uma chance de levar mais pessoas de volta."

Argumentou com sua própria experiência. "A China está perdendo a oportunidade de ter uma geração de correspondentes que aprendem a cultura, fazem amigos e relacionamentos lá, desenvolvem aquela compreensão diferenciada que você obtém ao morar num lugar."

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