Descrição de chapéu mídia jornalismo

Jornalista questiona levantamento do Instituto Reuters sobre confiança na imprensa

Em congresso, Maria Ressa diz que mede 'público bombardeado por desinformação'; instituto defende pesquisa 'robusta'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Taipei

Em apresentação no primeiro dia do congresso da Wan-Ifra (Associação Mundial de Editores de Notícias), nesta quarta (28) em Taipé, Taiwan, a jornalista filipino-americana Maria Ressa voltou a questionar o Instituto Reuters, pela pesquisa anual que faz do nível de confiança de veículos jornalísticos.

O site que Ressa fundou e dirige, Rappler, foi apontado nos últimos dois anos como veículo menos confiável numa lista das Filipinas. A jornalista, que dividiu o Nobel da Paz de 2021 e até o ano passado era do conselho do instituto, defende que o levantamento sobre confiança deixe de ser realizado.

"Entenda que, quando você medir o público que foi bombardeado com desinformação e guerra de informação, você vai medir exatamente o que eles querem", afirmou ela no congresso, apresentando reproduções de postagens de pessoas ligadas ao governo filipino, usando a pesquisa para questionar seu site.

Maria Ressa, jornalista filipino-americana ganhadora do Nobel da Paz em 2021, fala no congresso da Wan-Ifra (Associação Mundial de Editores de Notícias), em Taipé, Taiwan - Sam Yeh - 28.jun.2023/AFP

Mostrou também um texto postado à época pelo diretor do instituto, Rasmus Kleis Nielsen, em que ele critica as tentativas de distorcer o levantamento. "Isso foi o meu amigo Rasmus que fez", disse ela. "Mas não importa, ainda lidamos com isso. Então, depois de anos disso, eu me manifestei."

Ressa, que já havia deixado o instituto no ano passado, deu uma entrevista ao jornal britânico The Guardian na última semana, no mesmo dia em que foi divulgado o novo relatório anual. Afirmou então que ele "coloca jornalistas e veículos independentes sob risco".

Disse ter deixado o conselho "por causa de preocupações profundas sobre como é compilado o relatório". Acrescentou: "Achei horrível eles irem adiante com [o relatório] e que ele tenha sido usado contra nós, num momento crítico. Funcionários do governo citavam o Instituto Reuters para nos atacar."

No congresso, falou que é preciso "ter cuidado sobre confiança, que não é uma daquelas coisas que você pode fazer numa pesquisa YouGov, eles estão vindo para cima dos pesquisadores".

Ao Guardian, havia dito que "o relatório, financiado em parte pelo Google, não leva em conta o impacto das campanhas de desinformação, principalmente em países onde governos usam seu poder para atacar a mídia livre. E não reflete o preconceito nas plataformas que têm grande controle sobre a distribuição de notícias".

Nielsen, que também falou no congresso de Taipé, em painel posterior, foi questionado e respondeu apenas que havia feito mudanças no levantamento, que não satisfizeram Ressa, e que acredita que ele é importante para retratar o jornalismo contemporâneo.

Antes, ao Guardian, ele havia dito: "Lamentamos o abuso contra Maria Ressa e a forma como nossa pesquisa foi deturpada. Reagimos contra isso publicamente e continuaremos a fazê-lo. Acreditamos que a metodologia em nosso relatório, que cobre quase 50 países, é robusta".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.