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Mercado de blindagem de carros volta a crescer após baque da Covid

Setor superou patamar de 2019 pela primeira vez em São Paulo, principal mercado do segmento

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São Paulo

Foi após sofrer um assalto no Itaim Bibi, bairro da zona oeste de São Paulo, que o empresário Marcelo Sarfatti, 56, decidiu começar a blindar seus carros. "Era véspera de Natal. Depois do assalto, eu fui a uma [unidade] da Mitsubishi de um amigo meu e saí de lá com um blindado, porque ele tinha pronta-entrega."

Hoje, cerca de 25 anos depois, Sarfatti afirma que, ao longo desse tempo, já blindou mais de 20 automóveis. Desta vez, ele diz que está desembolsando R$ 185 mil para a blindagem de dois veículos recém-adquiridos, uma BMW X1 e um carro elétrico da chinesa BYD.

Impactado pela baixa oferta da indústria automobilística na pandemia, o setor de blindagem de veículos vem se recuperando nas vendas. Nos primeiros quatro meses do ano, foram quase 8.400 declarações de blindagem emitidas para veículos de todo o país, segundo dados do Sicovab (Sistema de Controle de Veículos Automotores Blindados e Blindagens Balísticas), que é gerido pelo Exército.

O número representa um salto de aproximadamente 16% na comparação com o mesmo período do ano passado e já se estabelece em um patamar bem superior ao registrado em 2019, antes da pandemia.

Funcionários de blindadora estão na lateral direita de um carro, que está com porta-malas e portas abertos
Funcionários fazem última checagem na remontagem de carro blindado antes de devolver para o proprietário - Rubens Cavallari - 25.mai.23/Folhapress

Na Carbon Blindados, empresa localizada em Barueri (SP), o último ano foi de recorde na oferta do serviço, com cerca de 3.700 carros blindados. "Nosso número vinha aumentando. A pandemia deu um corte nesse crescimento, mas, na sequência, retomou", diz o diretor da empresa, Daniel Deleu.

Apesar de receber veículos de todo o país para fazer a blindagem, Deleu afirma que São Paulo é o mercado mais forte para o segmento. "São Paulo varia de 60% a 70% das nossas vendas", diz.

Segundo o Detran-SP, foram 5.945 veículos blindados nos primeiros quatro meses deste ano. É a primeira vez que o estado ultrapassa o patamar pré-pandemia observado em 2019, quando foram registradas 4.400 blindagens.

Para Eduardo Rocha, CEO da VRZ Blindados, que também tem os paulistas como público-alvo, a concentração do mercado na região pode ser atribuída a uma questão cultural. "São Paulo é o grande centro, onde o mercado começou".

De São Bernardo do Campo, a VRZ começou a operar em 2018, blindando de 10 a 15 carros mensalmente, segundo Rocha. Hoje são cerca de 200 veículos por mês, diz ele.

De acordo com Marcelo Christiansen, sócio-proprietário da BSS Blindagens, o setor tem sido impulsionado por crimes que se tornaram conhecidos na capital paulista, como quebrar janelas de veículos para roubar motoristas e passageiros. Ele também cita sequestradores que forçam as vítimas a transferirem dinheiro por meio de Pix.

Segundo Christiansen, a BSS blindou nos últimos 12 meses cerca de 1.400 carros —400 a mais do que o registrado em 2021.

"Já fizemos mais do que 1.400. A pandemia atingiu mais a entrega dos veículos e a disponibilidade nas concessionárias. Consequentemente, o mercado de blindagens foi afetado. Mas, no pré-pandemia, o Brasil já era um país em crise. O pico do mercado de blindagens foi em 2014. Naquele ano, nós blindamos cerca de 1.700 carros", diz.


Veja quais são as etapas da blindagem de um veículo:*

  • Solicitação de autorização do Exército
  • Desmontagem do veículo: retirada dos bancos e outros componentes do interior do carro
  • Aplicação da aramida, material de fibra sintética de alta resistência, e do aço inoxidável
  • Instalação dos vidros
  • Remontagem da parte interna
  • Testes elétrico, de rodagem, entre outros

*materiais e etapas podem variar de acordo com a montadora e o projeto de blindagem


Setor viveu incerteza nos primeiros meses do governo Lula

Em fevereiro deste ano, blindadoras relataram incertezas sobre o prosseguimento de suas atividades depois que o presidente Lula (PT) decidiu revogar o decreto de Jair Bolsonaro (PL) que facilitava o acesso a armas de fogo, em janeiro.

A medida do governo petista tinha como alvo os CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), categoria mais beneficiada por normas editadas no governo passado que facilitaram o armamento da população.

Marcelo Silva, presidente da Abrablin, diz que uma sucessão de erros prejudicou a condução de veículos blindados. O primeiro foi a atividade ter sido desnecessariamente "colocada no bojo" das armas pelo decreto de Bolsonaro, pois não estava sujeita à mesma certificação e, portanto, não dependia de uma nova liberação.

Além disso, argumenta, o prejuízo ao segmento de blindados poderia ter sido evitado se a revogação feita por Lula tivesse sido mais específica, direcionada apenas aos trechos do decreto que tratavam das armas e munições.

No mesmo mês, o governo divulgou uma nota dizendo que a revogação do decreto não interferia na atividade do setor e que as postagens nas redes sociais que alegavam que o presidente Lula teria "proibido" a blindagem não eram verdade.

"Aquele problema da revogação da portaria foi um problema pontual e, na minha opinião, foi uma sucessão de equívocos. Mas foi sanado e, uma vez resolvido o problema, o mercado voltou a normalidade", afirma Silva.

Para este ano, ele projeta estabilidade nas vendas na comparação com o ano passado. "As pessoas mais otimistas acreditam que deve crescer 10%. Eu ainda estou sendo conservador por conta da própria economia, que não está tão aquecida como estava no ano passado", afirma.

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