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Trio de bilionários da Americanas pode ficar sem vender ação da empresa por três anos

Acionistas de referência da varejista em recuperação judicial estão em negociação com bancos credores

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São Paulo

O trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, acionistas de referência da varejista Americanas, em recuperação judicial desde janeiro com dívidas declaradas de R$ 43 bilhões, avançaram em mais uma etapa para entrar em acordo com os bancos credores.

Os principais acionistas podem ficar sem vender ações da empresa por um período de três anos. A informação foi publicada pela agência Bloomberg e confirmada pela Folha com fontes próximas às negociações.

No mercado de capitais, esse período de carência, em que sócios, gestores ou investidores não podem negociar ações da companhia, é conhecido como "lock-up". A ferramenta, que costuma ser empregada em IPOs (oferta pública inicial de ações), é uma maneira de proteger acionistas minoritários e garantir que atores com acesso a informações privilegiadas não obtenham vantagens em relação aos demais.

O lock-up já teria sido aceito pelo trio, mas ainda não foi batido o martelo sobre o período, segundo fontes próximas aos credores.

três homens grisalhos
O trio de bilionários Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Veiga Sicupira e Jorge Paulo Lemann, principais acionistas da Americanas. - Creative Commons/Divulgação/Alan Marques-Folhapress

No caso específico da Americanas, em que os grandes bancos têm cerca de R$ 24 bilhões a receber, parte das dívidas será convertida em ações da varejista. Dessa forma, o lock-up garante que o trio de bilionários não deixará uma empresa em dificuldades nas mãos dos novos sócios.

Hoje a ação da Americanas vale pouco mais de R$ 1. Em 11 de janeiro, antes do escândalo do rombo contábil vir à tona, a ação valia R$ 12.

O trio de bilionários se comprometeu a aportar R$ 12 bilhões, como parte das negociações com credores, que agora estariam também exigindo esse período de lock-up para não correrem o risco de assistir a um esvaziamento do negócio por parte dos ex-controladores.

A Americanas precisa entrar em acordo com os bancos para que o seu plano de recuperação judicial, apresentado no final de março, seja homologado pela Justiça.

De acordo com o advogado Filipe Denki, da Lara Martins Advogados, a lei 11.101/05, que trata da recuperação judicial, prevê a conversão da dívida em ações da companhia para os credores.

"Mas não é comum os próprios acionistas fazerem novos aportes para adquirirem ações e ficarem impedidos de vendê-las por um determinado prazo", diz Denki, especialista em recuperação judicial. "Será uma forma de fiscalização por parte dos credores. O prazo de três anos é maior do que o próprio período de fiscalização da recuperação judicial, de até dois anos após a homologação do plano", afirma.

Também no fim de março, a varejista selou uma espécie de "armistício" com o seu credor mais crítico, o banco BTG Pactual, que chegou a se referir ao trio de bilionários como "fraudadores" que dão "uma de maluco." Isso graças à promessa de aporte bilionário na empresa.

Nas semanas seguintes, foi a vez dos demais bancos suspenderem ações na Justiça, enquanto negociavam diretamente com o trio, representado pelo sócio dos bilionários na companhia de private equity 3G, Roberto Thompson.

Durante décadas, Thompson participou de comitês internos e do conselho de administração da varejista, do qual se desligou em 2020.

Segundo uma fonte que trabalhou próxima ao executivo nesta época, Thompson respondia por todas as operações da Americanas que envolviam bancos –contratação, definição das taxas etc. Partiu dele o desenho das operações de risco sacado fechadas com os atuais bancos credores.

Também chamadas de "adiantamento a fornecedores", ou "forfait", uma prática comum no varejo, as operações de risco sacado estão no cerne do escândalo contábil da Americanas.

Para as instituições financeiras, não há dúvidas que houve fraude contábil para inflar os balanços da varejista e, consequentemente, o valor das ações da empresa –o que beneficiou diretamente acionistas e diretores cuja remuneração variável estava atrelada a ações, uma prática muito comum nas empresas administradas pelo trio de bilionários, como Ambev e RBI (dona do Burger King).

Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da holding LTS Investments, que representa o trio de bilionários, não se manifestou até a publicação da reportagem.

Já a Americanas respondeu, em nota, que "continua comprometida com os seus credores para a construção de um consenso sobre o Plano de Recuperação Judicial, ainda sujeito a revisões e ajustes. A companhia busca um plano que reflita visões compartilhadas e atenda seus stakeholders."

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