Em derrota para Lula, Câmara tira da Reforma Tributária incentivo para montadora chinesa

Mudança ocorreu na votação dos destaques; diferença foi de apenas 1 voto

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Brasília

Em uma derrota para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o plenário da Câmara dos Deputados derrubou um dispositivo da Reforma Tributária que assegurava benefícios fiscais à montadora chinesa que vai se instalar onde antes funcionava a fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia.

O artigo era importante para o Executivo e, segundo relatos, foi um pedido endossado por Lula, que no último 28 de junho recebeu representantes da BYD (Beyond Your Dreams) para formalizar o negócio.

O destaque foi apresentado já no segundo turno de votação pela liderança do PL, sigla de oposição. Por se tratar de uma supressão do texto, o governo tinha que assegurar o apoio de 308 deputados para manter o artigo dentro da PEC (proposta de emenda à Constituição). O placar alcançou só 307 votos —ou seja, a derrota se deu por apenas um voto.

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O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e a CEO da BYD para as Américas, Stella Li, interagem com músicos do Olodum em anúncio de nova fábrica de veículos elétricos - Feijão Almeida - 04.jul.2023/GOVBA

O resultado foi celebrado por membros da oposição, que contaram com o reforço de 12 parlamentares do próprio PT para rejeitar a mudança. PSOL e Rede, siglas da base do governo, orientaram contra a emenda.

O tema vinha sendo negociado sob reserva nos últimos dias e virou uma prioridade, sobretudo para ministros e congressistas ligados à Bahia. O estado é reduto histórico do PT e também é base eleitoral do ministro Rui Costa (Casa Civil) e do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Segundo relatos, o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), já havia viajado ao estado na quinta-feira (6), mas retornou a Brasília nesta sexta-feira (7) só para se dedicar às articulações pela manutenção do benefício no texto da Reforma Tributária.

Nos bastidores, parlamentares do Nordeste demonstraram irritação com o que chamaram de falta de esforço do governo para colocar votos em favor da manutenção do dispositivo. Parte dos congressistas de Sul e Sudeste, por sua vez, via na derrubada do trecho uma chance de manter maior competitividade para as montadoras dessas regiões.

O novo artigo havia sido incluído em uma emenda aglutinativa de plenário, protocolada às 21h43 desta quinta —menos de dez minutos antes da proclamação do resultado da votação do texto-base. Parlamentares de legendas como o Novo reclamaram do fato de não terem tido conhecimento antes da nova versão, que foi inicialmente chancelada pelos parlamentares.

A reforma já continha mecanismos para assegurar a convalidação de benefícios fiscais do ICMS até 2032, conforme aprovado na lei complementar 160, de 2017.

O novo dispositivo estendia benefícios do PIS/Cofins e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) a projetos que tenham sido aprovados até 31 de dezembro de 2024. A concessão também alcançaria projetos validados até 31 de dezembro de 2025 "que ampliem ou reiniciem a produção em planta industrial utilizada em projetos ativos ou inativos aprovados até 31 de maio de 2023".

Na prática, o artigo garantia a concessão dos benefícios mesmo que a fábrica ainda não tivesse sido efetivamente instalada na data da promulgação da Reforma Tributária. O início das atividades da empresa é o que marca o início da aplicação dos incentivos.

A medida teria potencial para beneficiar, por exemplo, a montadora chinesa BYD (Beyond Your Dreams), que anunciou na última terça-feira (4) R$ 3 bilhões em investimentos para fabricar carros elétricos em Camaçari (BA), onde funcionava antes a fábrica da Ford. O protocolo foi assinado em outubro de 2022, mas as plantas só devem entrar em operação no fim de 2024.

Na semana anterior, em 28 de junho, o Lula recebeu no Palácio do Planalto a vice-presidente executiva da BYD e presidente da BYD para as Américas, Stella Li, ao lado de Rui Costa e do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).

A iniciativa também atenderia à Stellantis, que tem uma fábrica da Jeep em Goiana (Pernambuco). Os benefícios tributários da montadora só valem até o fim de 2025 —o que foi apontado como um "descasamento" temporal de incentivos a ser corrigido na reforma.

Aliados de Lula afirmaram na noite de quinta que o artigo foi "corretamente incluído" pelo relator na reforma, uma vez que a Bahia fechou o acordo com a montadora chinesa recentemente, dentro das regras atuais que serão mantidas até 2032.

A avaliação é que aprovar a PEC sem essa medida poderia comprometer o acerto e até gerar insegurança jurídica.

Há o temor agora de que o Brasil fique "desmoralizado" com a China. O texto ainda poderá ser alvo de mudanças no Senado Federal.

Deputados de outras legendas que têm a Bahia como reduto eleitoral também apoiaram o texto. "Pedimos também que o relator tenha uma atenção especial, como o nosso governador Jerônimo Rodrigues solicitou, para que possa ser prorrogado o regime automotivo do Nordeste, que vem gerando muito emprego, muito desenvolvimento", disse o deputado Gabriel Nunes (PSD-BA) durante as discussões na quinta.

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