Me sinto menos na frigideira e o fogo amigo diminuiu, diz Haddad

Ministro vê redução na pressão de aliados e adversários, e afirma não se preocupar com Bolsonaro

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São Paulo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (10) sentir que a pressão contra ele vinda de aliados e adversários vem diminuindo.

"O amigo e o inimigo. O fogo diminuiu. Eu estou me sentindo menos na frigideira do que eu estava três meses atrás", respondeu Haddad, ao ser questionado sobre o tema no podcast O Assunto, da jornalista Natuza Nery.

"Tinha muita gente na chamada Faria Lima que falava ‘o Haddad não dá para ser ministro da Economia’. Ou não acompanhou o meu trabalho na prefeitura, ou no Ministério da Economia ou não leu o que eu escrevi na vida toda", prosseguiu.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, toca violão durente entrevista com a jornalista Natuza Nery, para o podcast do G1 O Assunto, em Brasília (DF) - Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Haddad obteve vitórias na última semana, como a aprovação da Reforma Tributária e das mudanças nas regras do Carf pela Câmara dos Deputados.

Ao mesmo tempo, indicadores econômicos melhoraram nos últimos meses, como a valorização do real ante o dólar e a redução das expectativas de inflação.

Durante a articulação pela aprovação da Reforma Tributária, Haddad se aproximou de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo.

O ministro considera que a negociação com nomes ligados à direita representa uma volta da "política com P maiúsculo" e que as conversas com Lira lembraram a negociação para aproximar o presidente Lula (PT) do vice Geraldo Alckmin (PSB), para montar a chapa presidencial vencedora de 2022.

Na semana passada, Haddad e Tarcísio deram uma entrevista a jornalistas juntos, o que irritou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tarcísio e Bolsonaro tiveram atritos depois disso, pois o ex-presidente se colocou contra a Reforma Tributária, e o governador a defendeu. A tensão foi registrada em vídeo.

"Tarcísio estava em situação complicada. Ele estava contra a arrecadação centralizada, algo fundamental para a reforma funcionar. Oferecemos uma solução com dois critérios. Quando apresentamos a ele, vi que ele relaxou. Aí disse: vamos descer e dar a boa notícia para o país. Jamais me preocupei sobre o que o Bolsonaro vai achar de uma foto minha com o governador de São Paulo", comentou o ministro.

O titular da Fazenda disse que se reunirá nesta terça (11) com Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, para debater o avanço da Reforma Tributária.

O ministro também afirmou que houve avanços nos planos do Ministério da Fazenda para estimular projetos relacionados à transição energética e mudanças climáticas. Haddad contou que teve uma reunião longa com Lula sobre o tema na última sexta (7) e que o presidente se mostrou bastante interessado. "Vi os olhos dele brilharem", disse.

Ele afirmou que a Fazenda fez um mapeamento de oportunidades que o Brasil pode explorar em áreas como combate ao desmatamento, energia solar e eólica e produção industrial "net zero", com emissões de carbono zeradas ou neutralizadas.

"É um plano de mais de cem ações que vão se desdobrar em quatro anos. Vai desde o crédito de carbono, passando pela Reforma Tributária que tem imposto seletivo para onerar o que prejudica o meio ambiente e a saúde pública até a exploração de lítio", detalhou.

O pacote de ações incluirá a criação de leis para facilitar os investimentos na área. O governo espera que isso atraia mais negócios verdes ao país.

Haddad apontou que ainda não há dados fechados sobre quanto de crescimento do PIB e de empregos o novo plano deverá gerar, pois isso dependerá de quais ações o governo ainda tomará de fato e de negociações com os outros ministérios.

Ao final da entrevista, de pouco mais de uma hora, Haddad tocou alguns acordes da música "Blackbird", dos Beatles, no violão, a pedido da apresentadora Natuza Nery.

Haddad diz que enviará Orçamento de 2024 ao Congresso com reforma do imposto de renda

Na entrevista, Haddad também disse que o governo federal não aguardará o fim da tramitação da proposta de reforma tributária sobre o consumo no Congresso para enviar aos parlamentares a segunda fase da reforma, que tratará da taxação sobre a renda.

O ministro afirmou que a reforma do IR precisa chegar ao Congresso junto com o Orçamento de 2024, que será enviado até o fim de agosto, quando também serão apresentados novos projetos de lei de ajuste fiscal.

"Temos que concluir a tramitação da PEC tributária no Senado, mas não vamos aguardar o fim da tramitação para mandar para o Congresso a segunda fase da reforma, ela tem que ir junto com o Orçamento", disse.

A reforma dos tributos sobre o consumo foi aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados na semana passada, mas ainda depende de análise dos senadores.

O ministro argumentou que a segunda fase da reforma precisa ser apreciada pelo Congresso junto com o Orçamento para garantir que as metas estabelecidas pelo novo arcabouço fiscal sejam cumpridas.

"A peça orçamentária terá como pressuposto a aprovação dessas medidas pelo Congresso. Caso contrário, terá que haver restrição da peça orçamentária", afirmou, defendendo uma responsabilidade compartilhada entre os Poderes para que as contas do governo fechem.

Na entrevista, o ministro disse que mantém a meta de zerar o déficit primário do governo federal em 2024. Para isso, segundo ele, a Fazenda também apresentará junto com o Orçamento um conjunto de leis para, principalmente, disciplinar vitórias tributárias que o governo teve no Judiciário.

"Vamos mandar o Orçamento com leis de ajuste fiscal, sobretudo corte de gasto tributário, dentre os quais o que já foi pacificado nos tribunais", disse.

Com Reuters

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