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Melhora de nota de crédito do Brasil é moderadamente positiva, diz ex-presidente do BC

A agência Fitch subiu a classificação de risco do país de BB- para BB nesta quarta-feira

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São Paulo

O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, comemorou a melhora da nota de crédito do Brasil pela Fitch Ratings nesta quarta-feira (26), reconhecendo os avanços na agenda econômica do país, mas disse que a perspectiva para a economia brasileira é apenas moderadamente positiva.

"A melhora no rating não significa que chegamos lá e que dá para abusar. Nossos números das contas públicas ainda estão ruins", disse à Folha.

Nesta quarta, a agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito soberano do Brasil de BB- para BB, com perspectiva estável.

Loyola afirma que essa melhora nas notas de crédito do Brasil era esperada —até mesmo pelo comportamento dos preços no mercado financeiro—, mas não necessariamente no momento em que foi anunciada. O especialista, por exemplo, aguardava esse upgrade apenas no fim do ano.

O economista, por outro lado, pondera que as notas de crédito do Brasil estavam exageradamente baixas, refletindo ainda um momento de forte crise que o país passou entre 2015 e 2016.

Ex-presidente do Banco Central do Brasil, Gustavo Loyola, no Senado Federal. - Marcos Oliveira/Agência Senado

O ex-presidente do BC (Banco Central) reconhece os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para uma melhora do ambiente de investimentos no Brasil. "Não dá para minimizar o papel do Haddad", afirma. "O novo arcabouço fiscal afastou a possibilidade de crise fiscal no curto prazo."

Loyola, contudo, diz que o texto aprovado no Congresso não ataca questões estruturais, porque não resolve o problema da relação dívida pública pelo PIB (Produto Interno Bruto) no longo prazo. Segundo o economista, ainda está faltando um controle melhor das contas públicas e uma resolução para o tanto de despesas públicas que estão engessadas e que não podem ser ajustadas por medidas fiscais.

Para o economista, o Brasil também precisa aprovar mais reformas, como a tributária e a administrativa, para que o país alcance o nível de "grau de investimento", que é quando as notas de crédito indicam uma boa qualidade de crédito, com baixo risco de calote.

Ainda assim, o economista reconhece que o arcabouço fiscal e a Reforma Tributária aprovada na Câmara antes do recesso parlamentar melhoraram o ambiente para os investimentos. Além desses dois fatores, Loyola aponta como medidas positivas adotadas nos últimos tempos as aprovações das reformas da Previdência e a trabalhista, além da autonomia do BC.

Por outro lado, segundo Loyola, algumas desconfianças mantiveram o Brasil com notas de crédito baixas por mais tempo, como quando se começou a furar o teto de gastos, as crises institucionais durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), além dos efeitos negativos para a economia gerados pela pandemia de Covid-19.

Loyola diz que as desconfianças de um retrocesso da agenda liberal por parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram vencidas com o fortalecimento das instituições e a boa governabilidade, o que permitiu o avanço de importantes temas econômicos.

"Isto não está no relatório da Fitch, mas acho que o que ficou implícito é que hoje há um equilíbrio das forças políticas do Brasil. Então, temos um governo mais posicionado à agenda econômica de esquerda, mas um Congresso mais conservador, o que tende a mitigar os extremismos", diz.

Além disso, segundo Loyola, a economia brasileira está crescendo mais do que o esperado, o que colabora para um ambiente de maior confiança dos investidores.

OPORTUNIDADES

O ex-presidente do BC vê boas oportunidades para o Brasil no futuro. Segundo Loyola, o país ainda pode se beneficiar muito do momento externo atual, com a Guerra na Ucrânia levando os investidores a buscarem alternativas à Rússia em países emergentes.

"Além disso, há uma percepção global de que o mundo deve depender menos da China, o que desloca também os investimentos para o Brasil", diz.

A pauta ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança das empresas) é benéfica para o país, afirma.

"Não tem país mais bem posicionado que o Brasil em energia limpa e economia verde", diz. "Espero que o país não perca essas oportunidades."

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