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O que as medidas econômicas da China significam na prática

Analistas apontam falta de detalhes na declaração do Partido Comunista, mas mercados reagem positivamente

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Joe Leahy Cheng Leng Andy Lin
Pequim e Hong Kong | Financial Times

As ações chinesas tiveram a maior alta em um dia desde novembro após um pedido dos líderes da China por fortes medidas "anticíclicas" para apoiar a segunda maior economia do mundo, apesar do que os economistas apontaram ser uma falta de detalhes nos planos de Pequim.

O Politburo de 24 membros do presidente Xi Jinping, principal órgão de tomada de decisões do Partido Comunista, se dirigiu a um setor imobiliário altamente endividado, aos governos locais, e a uma demanda doméstica em recuperação na reunião trimestral sobre a economia do país, ocorrida nesta segunda-feira (24).

O líder chinês Xi Jinping; cúpula do Partido Comunista se reuniu para deliberar sobre a economia do país nesta segunda (24) - Florence Lo - 19.mai.2023/Reuters

As ações imobiliárias, em particular, dispararam nesta terça-feira (25). Mas, apesar de a mensagem geral ter sido favorável, economistas disseram que o governo forneceu poucos detalhes e nenhum sinal de um estímulo explosivo, como o que China implementou no passado.

A recuperação pós-Covid da economia chinesa desacelerou no segundo trimestre, com crescimento abaixo das expectativas dos analistas.

"É uma declaração de intenções que fornece códigos para possíveis políticas mais flexíveis, mas não está claro quanta força será colocada por trás das medidas de estímulo", disse Frederic Neumann, economista-chefe para a Ásia do HSBC.

Xi abandona slogan contra especulação imobiliária

Declaração do Politburo: "O governo deve se adaptar à nova situação em que a dinâmica de oferta e demanda no mercado imobiliário está mudando significativamente [...] A reunião também pediu a expansão da oferta de moradias subsidiadas pelo governo e a renovação de vilas urbanas."

Na última reunião da cúpula sobre economia, em abril, após um crescimento ainda robusto no primeiro trimestre, a declaração incluiu a seguinte frase de Xi Jinping: "Casas são para morar, não para especulação".

Essa política e o desejo do governo de reduzir a alavancagem na economia são uma das razões para a profunda desaceleração do setor imobiliário nos últimos anos, à medida que os bancos reduzem os empréstimos ao setor.

Mas, na reunião do Politburo desta segunda, a frase foi substituída por uma linguagem mais favorável, reconhecendo que "a relação entre oferta e demanda" no setor está mudando e as políticas devem ser "otimizadas" em "tempo oportuno".

O governo disse que medidas "específicas para cada cidade" devem ser implementadas para melhor atender à "demanda habitacional essencial dos residentes" e pediu a expansão da habitação subsidiada pelo governo.

Isso pode sinalizar um afrouxamento das restrições às compras de imóveis em cidades de "Nível 1", como Pequim e Xangai, que foram impostas para limitar a especulação. Tal movimento "liberaria a demanda reprimida e estabilizaria as expectativas do mercado", disse Robin Xing, economista do Morgan Stanley, em nota.

Combater a dívida dos governos locais

Declaração do Politburo: "A reunião também pediu [...] a neutralização dos riscos de dívida de governo locais com um pacote de planos."

A cúpula sugeriu reformas estruturais para corrigir a dívida dos governos locais por meio de "um pacote de planos de resolução da dívida". As dívidas colossais —incluindo as das instituições financeiras— são estimadas pelo Goldman Sachs em cerca de 94 trilhões de yuans (US$ 13,1 trilhões) e são vistas como uma restrição ao crescimento.

A orientação, que forneceu poucos detalhes, indica que, apesar da desaceleração econômica, Pequim continua empenhada em manter a política de redução da dívida delineada na última reunião de abril.

"Isso significa que a resolução das dívidas locais entrou em um período crítico", disse Zhong Zhengsheng, economista-chefe da Ping An Securities. É improvável que o governo ofereça grandes trocas de dívida como fez em 2015, disse Zhong, pois isso apenas aumentaria a alavancagem. Em vez disso, pode resolver o problema província por província, disse ele.

"Esperamos que os bancos estatais e de políticas assumam um papel mais ativo na resolução desses riscos de dívida no nível de governos locais", disse Louise Loo, economista-chefe da Oxford Economics.

Priorizar a criação de empregos

Declaração do Politburo: "É necessário aumentar a proteção dos meios de subsistência das pessoas [...] e levantar a questão da estabilização do emprego a um nível estratégico."

Com o desemprego entre os jovens na China atingindo 21,3% em junho —o mais alto desde o início da série de dados em 2018—, a cúpula reforçou a necessidade de dar enfoque à empregabilidade.

O politburo não disse o que planeja fazer para reduzir o desemprego, que os economistas atribuíram à falta de postos de trabalho adequados para o número recorde de graduados deste ano e aos danos causados pela pandemia ao setor de serviços.

Mas em uma medida que pode ajudar a criar empregos, Pequim prometeu "otimizar" o ambiente para empresas privadas e estimular o investimento estrangeiro. "Vemos isso como parte dos esforços do governo para restaurar a confiança privada e reanimar os espíritos, uma chave para sustentar o crescimento da produtividade em meio a desafios seculares de demografia, dívida e redução de riscos", disse o Morgan Stanley.

Fazer as pessoas gastarem de novo

Declaração do Politburo: "A reunião também [...] pediu um controle preciso e eficaz das medidas macroeconômicas, incluindo políticas fiscais proativas e políticas monetárias prudentes".

Os líderes partidários indicaram que a política monetária e fiscal continuaria favorável, mas não forneceram números nem detalhes. O governo já reduziu a taxa de juros básica, cortou o índice de compulsório bancário para introduzir mais liquidez no sistema e concedeu algumas isenções fiscais às empresas.

Economistas preveem pequenos cortes na taxa de juros antes do final do ano e outro corte do compulsório bancário de 25 a 50 pontos-base. "Em geral, a linguagem em torno da política monetária é semelhante na declaração de julho em comparação com abril", disse Loo, da Oxford Economics. "Portanto, não esperamos grandes afrouxamentos nesta área."

O governo também deve conceder subsídios para que os consumidores comprem mais carros, eletrônicos e eletrodomésticos, ajudando a indústria a limpar os estoques acumulados no ano passado e intensificar a produção.

Mantendo a recuperação no caminho certo sem muito estímulo

Declaração do Politburo: "A reunião pediu a realização de regulamentação macroeconômica com precisão e força, intensificando as medidas anticíclicas e disponibilizando mais opções de políticas".

No geral, os economistas acreditam que o governo quer garantir o cumprimento de sua meta de crescimento de 5% para 2023 sem acumular outra grande onda de estímulos alimentados por dívidas no processo.

Nas últimas semanas o governo anunciou pelo menos quatro planos voltados para desde atrair mais capital privado até aumentar a propriedade de veículos elétricos e a compra de bens de consumo, de acordo com uma nota de Carlos Casanova, economista sênior do UBP. As medidas deverão "resultar num alargamento da retomada econômica", afirmou.

O crescimento deste ano foi afetado pelo impacto negativo dos bloqueios da Covid na atividade econômica em 2022. A parte complicada pode ser garantir um nível razoável de crescimento até 2024, quando a economia não se beneficiará de um baixo efeito de base, dizem os economistas.

Os economistas já estão olhando para o terceiro plenário do 20º congresso do partido, uma reunião importante no final deste ano para mais detalhes dos planos de médio prazo do governo, dizem os economistas. "O plenário do terceiro trimestre deve ser uma oportunidade para pensar sobre as questões estruturais", disse Neumann, do HSBC.

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