Simone Tebet nega conversa com Lula sobre troca no IBGE pouco antes da escolha de Pochmann

Ministra disse em entrevista que substituição seria desrespeito e declarou não conhecer economista indicado

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São Paulo

Poucas horas antes do anúncio do economista Marcio Pochmann, filiado ao PT, como o novo presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a ministra Simone Tebet (Planejamento) disse que ainda não havia conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o assunto.

"Não estamos tratando de IBGE. Até porque seria um desrespeito com um presidente que está hoje lá e tem um ciclo que não se encerrou", afirmou em entrevista à jornalista Miriam Leitão, na Globonews, citando anúncios relacionados ao Censo 2022.

Ela também disse que discutiria a troca no IBGE "no momento certo e com a pessoa certa".

A ministra do Planejamento , Simone Tebet, em coletiva de imprensa - Gabriela Biló - 17.abr.23/Folhapress

A decisão sobre Pochmann foi tomada em meio a resistências de uma ala do Ministério do Planejamento, que abriga o órgão. Apesar disso, a ministra disse a interlocutores ouvidos pela Folha que não iria impor obstáculos à nomeação. Na visão dela, não há risco de ingerência política na instituição diante do diagnóstico de que o órgão é técnico e "caminha sozinho".

Também na entrevista a Miriam Leitão, Tebet declarou não conhecer o economista anunciado para a presidência do órgão e por isso preferiu não fazer nenhuma consideração sobre o nome.

Pochmann foi presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2007 a 2012 e a gestão dele foi vista como intervencionista, com cobranças internas por alinhamento ideológico.

Ainda na entrevista, a ministra destacou como positiva a relação com o ministro Fernando Haddad (Fazenda). Segunda ela, o diálogo não poderia ser melhor.

"Somos dois filhos de libaneses e somos professores. Temos perfil técnico e damos um boi para não entrar numa briga", disse, lembrando do que falou para Lula quando os dois foram convidados para liderar a equipe econômica do governo.

Tebet, no entanto, afirmou que quando a briga vale a pena, dá uma "boiada" para não sair. Admitiu divergências com o ministro por ser mais liberal e fiscalista na economia, mas destacou a preocupação de Haddad com a responsabilidade fiscal.

Para ela, o legado do Ministério do Planejamento é fazer o Brasil pensar e planejar o futuro. "Que Brasil nós queremos para quatro anos é muito pouco. Temos que falar em gerações. Que Brasil queremos para os próximos 20 anos".

Em setembro, o Planejamento inicia uma agenda com análise de políticas públicas e eficiência nos gastos, investimentos em áreas como saúde, educação e qualificação de trabalhadores.

Até o momento, a avaliação que Tebet faz do governo Lula é positiva. Ela deu nota 8,5 para a gestão e 10 para o que foi feito para recompor o retrocesso dos últimos quatro anos. Citou as questões ambiental e armamentista, a misoginia, a igualdade racial e os direitos das minorias.

"Tudo que foi possível mediante caneta, aconteceu. O resto agora é parceria com o Congresso Nacional".

Tebet comentou também o possível apoio de setores do PT para a recondução de Augusto Aras ao cargo de procurador-geral da República. Disse que isso é decepcionante após ele ter feito uma gestão com acenos políticos a Bolsonaro.

BOLSONARISMO

No quesito enfrentamento à extrema-direita, a ministra enxerga a necessidade de posicionamentos mais articulados para enfrentar o que chama de "sombra".

"Se depender de mim, Bolsonaro está morto politicamente. Mas sou realista, faço política há muito tempo, entendo que não é em quatro anos que você derruba uma ideia", disse.

Para Tebet, é preciso pensar nas eleições presidenciais de 2026 a partir das eleições municipais de 2024.

"Não podemos dormir no ponto", declarou. A ministra defende que os partidos do chamado centro democrático, que apoiam Lula, discutam as alternativas mais viáveis para ganhar as prefeituras e impedir o avanço do bolsonarismo em cidades médias, sem segundo, onde candidatos da extrema-direita com 30% de apoio podem ser eleitos.

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