A diretoria executiva do FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou, nesta quarta-feira (23), que aprovou a quinta e a sexta revisões de um acordo com a Argentina, o que libera um "desembolso imediato de cerca de US$ 7,5 bilhões (cerca de R$ 36,7 bilhões)".
Porém, os argentinos terão de repassar parte da quantia para outros países que emprestaram dinheiro para a nação.
O país sul-americano assinou com o FMI um programa de crédito no qual o país recebe US$ 44 bilhões (R$ 215 bilhões) em 30 meses, em troca de que o Banco Central aumente suas reservas internacionais e o governo reduza o déficit fiscal.
Segundo o FMI, com a decisão desta quarta-feira, o total de desembolsos no contexto do acordo chega a US$ 36 bilhões (R$ 176 bilhões).
O ministro da Economia e candidato presidencial do governo nas eleições de outubro, Sergio Massa, disse à imprensa depois da reunião com a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, que a aprovação do órgão "garante um marco de estabilidade até o final de novembro", quando está prevista outra revisão do acordo.
A negociação do acordo entre a equipe técnica da organização financeira e a Argentina estendeu-se até o mês passado, após semanas de tratativas, de forma que, para honrar seus compromissos da dívida em agosto, a Argentina precisou recorrer a um empréstimo do Qatar, a iuanes de um swap cambial (intercâmbio de moedas) vigente com a China e a um empréstimo-ponte do Banco de Desenvolvimento da América Latina, através da CAF (Corporação Andina de Fomento).
Dos US$ 7,5 bilhões, portanto, os argentinos terão que enviar uma parte para Qatar, China e CAF, e guardar outra parte como provisão para os próximos vencimentos. A sétima revisão acontecerá em novembro.
Desde a quarta revisão, no fim de março, "os principais objetivos do programa não foram alcançados, em consequência da seca sem precedentes e de mudanças nas políticas" traçadas, explicou o fundo. Diante dessa situação, o órgão financeiro optou por aprovar "isenções por descumprimento" de metas.
"Também foram aprovadas mudanças no objetivo de acúmulo de reservas, bem como nos objetivos de déficit fiscal primário e de financiamento monetário do déficit", destacou o FMI.
Fortalecer as reservas
Com uma inflação de mais de 100% ao ano, a Argentina enfrenta uma escassez grave de reservas monetárias internacionais, em meio a uma grande demanda por dólares, moeda a que os argentinos recorrem como refúgio diante do aumento dos preços.
Massa afirmou na quarta-feira (23) que, "nos últimos 21 dias, acumulou-se US$ 1,7 bilhão" (pouco mais de R$ 8 bilhões) em reservas.
"Em um contexto de inflação elevada e pressão crescente sobre a balança de pagamentos, foi acordado um novo pacote de medidas, focado em fortalecer as reservas e reforçar a ordem fiscal", mencionou o fundo internacional. Sua implementação "contínua e firme" será "fundamental" para "salvaguardar a estabilidade e garantir a sustentabilidade a médio prazo".
A Argentina acompanha com atenção qualquer decisão do órgão e, por se tratar de um ano eleitoral, o escrutínio é ainda maior.
O empréstimo pelo FMI em 2018 ao país, durante o governo do direitista Mauricio Macri, "significa uma hipoteca para a Argentina, com a qual é preciso conviver até o momento em que tenhamos a capacidade de cancelar a dívida", disse Massa.
Massa responsabilizou, na quarta-feira (23), o FMI pelo aumento da inflação ao obrigar o país a desvalorizar a sua moeda. O BCRA (Banco Central da República Argentina) desvalorizou o peso em cerca de 20% em relação ao dólar um dia depois das eleições primárias de 13 de agosto.
O liberal de extrema direita Javier Milei, defensor da dolarização da economia, obteve 30% dos votos. Já o peronismo governante ficou com 27%, e Massa foi o candidato eleito para disputar a presidência.
O FMI aplaudiu tanto a desvalorização quanto a alta dos juros básicos, medidas que considerou passos na direção correta.
Durante sua visita de dois dias a Washington, Sergio Massa se reuniu com funcionários do alto escalão do governo americano e com organizações internacionais, como o Banco Mundial e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que prometeram um empréstimo de US 1,3 bilhão (R$ 6,36 bilhões), no total, à Argentina para projetos específicos de desenvolvimento.
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