Descrição de chapéu Folhainvest

Casas Bahia despenca na Bolsa após oferta de ações com desconto de 28%

Empresa captou R$ 623 milhões em oferta, mas esperava levantar quase R$ 1 bilhão

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São Paulo

As ações do Grupo Casas Bahia, que mudou de nome nesta semana em meio a uma tentativa de reestruturação da empresa, tombaram na Bolsa nesta quinta-feira (14), após a companhia levantar cerca de R$ 623 milhões com uma oferta de novas ações (follow-on).

Segundo fato relevante da companhia, a oferta foi precificada a R$ 0,80 por ação, o que representa um desconto de quase 28% em relação ao preço do papel no fechamento do pregão da última quarta-feira (13), quando estava valendo R$ 1,11.

Após o anúncio do valor da oferta, a ação chegou a despencar mais de 30% na Bolsa, tocando um valor menor do que o precificado na oferta, mas depois fechou em queda de 18,92%, a R$ 0,90. No ano, o papel recua 62,5%.

fachada de lojas da Casas Bahia
Entrada de loja das Casas Bahia, em São Paulo - Divulgação

Analistas já esperavam uma reação negativa do mercado à notícia da oferta. Em relatório a clientes, a Guide Investimentos estimou que o preço das ações na Bolsa deveria convergir para o preço da oferta.

Além dos R$ 623 milhões com a oferta, o Grupo Casas Bahia disse nesta quinta que aprovou a emissão de quatro bônus para cada cinco novas ações adquiridas no follow-on. Ou seja, o investidor que comprou os papéis poderá comprar essa quantidade de bônus pelo valor fixo de R$ 0,80 cada, se quiser.

"Caso a totalidade dos 622.919.426 bônus de subscrição seja emitida e exercida, o montante total captado pela companhia por meio da oferta" será de R$ 1,12 bilhão no total, afirmou a empresa.

Na ocasião do anúncio do follow-on na semana passada, porém, a expectativa de valor levantado com a oferta era de R$ 981 milhões —sem considerar os bônus de subscrição —, levando em conta a cotação da ação na época, a R$ 1,26.

A empresa, que enfrenta sérios problemas de endividamento, disse que os recursos líquidos captados serão utilizados para melhorar sua estrutura de capital.

As novas ações e os bônus começarão a ser negociados a partir de 18 de setembro. Os bancos UBS BB, Bradesco BBI, BTG Pactual, Itaú BBA e Santander foram os coordenadores da oferta de novas ações.

MERCADO JÁ APOSTAVA NA QUEDA DA AÇÃO

Conforme dados da Economatica, o mercado já vinha apostando em peso na forte queda das ações da companhia.

Na última quarta-feira, o volume de ações alugadas da empresa renovou recorde, atingindo o maior patamar desde que a companhia trocou o código do papel negociado na Bolsa, em 2021, de VVAR3 para VIIA3 (haverá nova mudança a partir de 20 de setembro, para BHIA3).

No mercado financeiro, investidores que apostam na queda de uma ação alugam o papel por um tempo, acreditando que ele vai se desvalorizar nesse período.

Esse investidor, chamado de "tomador", vende no mercado as ações que alugou e, se sua previsão se confirmar e o preço delas cair, eles as recompram mais barato para devolvê-las a quem as havia alugado e lucram com a diferença de preço.

Para valer a pena, o lucro do "tomador" com essa venda por um preço maior e recompra por um preço menor precisa superar a taxa que ele paga pelo aluguel dos papéis.

Quanto maior o tombo no preço esperado pelo "tomador", mais propenso ele fica a pagar uma taxa mais alta.

No caso da Via, em uma semana suas ações passaram da terceira posição para a primeira entre aquelas com maior porcentagem de aluguel, mesmo com uma taxa elevadíssima, segundo dados da Economatica compilados pelo TC Matrix.

Na semana passada, de todas as empresas com capital negociado em Bolsa, a Via tinha a maior taxa média de aluguel entre os principais contratos negociados, a 72,8% ao ano, enquanto a Mobly, que está em segundo lugar, tem taxa de 64,8%, seguida por Marfrig em terceiro, a 48%. Nesta semana, essa taxa média da Via subiu para perto de 100%.

"Para compensar o aluguel com essa taxa, a ação tem que cair muito. Ou seja, o mercado está desconfiado da situação financeira da empresa e está apostando em uma forte queda do papel", diz o analista-chefe do TC Matrix, Carlos André Vieira.

A agência de classificação de risco S&P Global comunicou nesta semana que rebaixou a nota de crédito da 20ª emissão dos CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) do Grupo Casas Bahia, de brAA- para brA- .

Após o rebaixamento, a empresa abriu, na última quarta-feira (13), prazo até 19 de setembro de desistência aos acionistas que tenham realizado pedido de subscrição prioritária na oferta primária de ações.

Procurada pela Folha, a empresa disse que não pode se manifestar por estar em período de silêncio.

ENDIVIDAMENTO DA VIA

Além da situação macroeconômica que penaliza as varejistas no geral, com os juros ainda em nível elevado e o alto endividamento das famílias inibindo o consumo, a Via está em uma posição mais delicada, segundo analistas.

"A empresa está em uma situação pior em relação ao Magazine Luiza, por exemplo. Ela tem um endividamento mais elevado e um custo de dívida maior. Além disso, a Via tem um desafio maior pela frente, porque hoje os números operacionais dela são mais deteriorados", diz o analista Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama.

O analista Lucas Rietjens, da Guide Investimentos, também ressalta que a Via vem reportando índices de cobertura de juros abaixo de 1, o que indica que o resultado operacional da empresa não tem sido suficiente para pagar os juros da dívida.

De maio a junho deste ano, a Via registrou lucro operacional ajustado —antes dos descontos com juros, impostos, depreciação e amortização — de R$ 469 milhões. Enquanto isso, a companha reportou R$ 882 milhões apenas com despesas financeiras.

Com relação ao endividamento total, no segundo trimestre, a Via reportou em sua apresentação de resultados R$ 3,7 bilhões de endividamento bruto, além de R$ 1,5 bilhão com risco sacado, que é uma operação que antecipa os recebíveis dos fornecedores com a intermediação de instituições financeiras.

Mas nas notas explicativas do balanço a empresa demonstra R$ 8,7 bilhões de empréstimos e financiamentos, sendo R$ 5 bilhões de repasse para instituições financeiras referentes a operações com crediário.

Crediário é uma opção que a empresa oferece de parcelamento de compra sem a necessidade de o cliente utilizar cartão de crédito. Para sustentar a operação, a companhia toma empréstimo junto a instituições financeiras. Segundo o balanço da Via, esse financiamento aconteceu com uma taxa média de 17,56% ao ano em 30 de junho de 2023.

Além disso, ainda nas notas explicativas, a companhia reporta R$ 3,7 bilhões em passivo com arrendamento mercantil, que seria um contrato de locação de um ativo por um período determinado.

No balanço patrimonial da companhia, até o dia 30 de junho deste ano, consta um total de passivo circulante, ou seja, as obrigações de curto prazo, de R$ 17,8 bilhões. Já o total de ativos circulantes, ou seja, bens e direitos que podem se transformar em dinheiro no curto prazo, somam R$ 14,1 bilhões.

Com informações da Reuters

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