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Bolsa sobe e dólar cai após dados positivos de inflação nos EUA

Desaceleração da alta de preços traz alívio ao mercado, que teme nova alta de juros

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São Paulo

A Bolsa brasileira registrou alta e o dólar caiu nesta sexta-feira (29) após a divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos, que mostraram desaceleração da alta de preços no país e deram alívio ao mercado após sessões marcadas por temores sobre os juros americanos.

O Ibovespa subiu 0,72%, fechando aos 116.565 pontos impulsionado pela Vale, e registrou alta mensal de 0,71%.

Já o dólar caiu 0,25% e encerrou o mês cotado a R$ 5,026. No acumulado de setembro, no entanto, a moeda americana apresenta valorização de 1,55%, ganhando força na última semana, após a sinalização de uma possível nova alta de juros neste ano pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

Segundo o Departamento de Comércio dos EUA, a inflação medida pelo PCE, índice acompanhado de perto pelo Fed para suas decisões sobre juros, subiu 0,4% em agosto, após avanço de 0,2% em julho.

O núcleo do indicador, porém, que exclui componentes de alimentos e energia, subiu 0,1%, uma desaceleração após alta de 0,2% no mês anterior.

Os dados foram bem recebidos pelo mercado, que teme uma nova alta de juros nos Estados Unidos. Na semana passada, o Fed divulgou que a maioria de suas autoridades acredita que um aumento nas taxas ainda neste ano ainda será necessário para combater a inflação.

Notas de dólar - Dado Ruvic - 17-Jul-2022/Reuters

Para Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, os dados de inflação americanos dão sinais mistos.

"A composição do índice continua sinalizando que a inflação de bens já não é mais um problema, enquanto a inflação de serviços segue persistente, pressionando o índice para cima, em grande parte por conta do mercado de trabalho aquecido, que reajusta salários acima da produtividade e repassa custos em forma de aumento de preços", diz Rodrigues.

Por isso, o banco mantém a projeção de uma nova alta de juros pelo Fed neste ano e diz não acreditar num corte das taxas antes de meados de 2024.

Já Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, afirma que os dados vieram dentro das expectativas e que, caso o núcleo siga caindo, a tendência é que as taxas de juros americanas continuem inalteradas nas próximas reuniões do Fed

"O Comitê [de política monetária dos EUA] manteve a postura de cautela e aguarda novos dados para a tomada de decisão. A autoridade irá observar os efeitos defasados da política monetária restritiva sobre a atividade econômica e a inflação antes de determinar o fim do ciclo. O dado de hoje deve influenciar positivamente a decisão da autoridade monetária", afirma o economista.

Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a notícia gera um pequeno alívio no mercado após um mês marcado por temores de juros maiores por mais tempo, que impactaram os mercados globais. Ele aponta, no entanto, que ainda há riscos para a inflação americana nos próximos meses.

"Além das questões relacionadas aos impactos da manutenção dos juros altos, dificuldades fiscais, crise na China e oferta de petróleo estão gerando visões conflitantes sobre o que pode vir pela frente na economia americana. A vida continua difícil para as autoridades monetárias e os dados de agosto serão fundamentais para definir os próximos passos do ciclo de juros", diz Igliori.

Investidores também continuam acompanhando as negociações para alcançar um acordo sobre os níveis de financiamento do governo dos Estados Unidos para o ano fiscal completo que começa em 1º de outubro.

O risco de paralisação da máquina pública americana neste fim de semana vem ganhando relevância e pesou sobre os ativos dos EUA, que começaram o dia em alta justamente por causa dos dados de inflação, mas viraram e terminaram a sessão em queda.

Já na Europa, as ações fecharam em alta nesta sexta, apoiadas por uma queda na inflação da zona do euro em setembro. No acumulado dos três últimos meses, porém, o índice de referência Stoxx 600 teve baixa de 2,5%, em seu pior desempenho trimestral em um ano.

No Brasil, os ativos locais também registraram desempenho positivo, apoiados principalmente por uma queda firme dos juros futuros, que acompanharam as taxas americanas. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 saíram de 10,97%, enquanto os para 2027 caíram de 10,99% para 10,81%.

Com isso, as "small caps", empresas menores e mais ligadas à economia doméstica, registraram os maiores ganhos do dia. Grupo Casas Bahia, IRB Brasil e Hapvida subiram 6,78%, 5,36% e 5,59%, respectivamente, e o índice que reúne essas companhias avançou 1,19%.

O principal impulso do Ibovespa nesta sexta, no entanto, veio da Petrobras e da Vale, que subiram 1,34% e 0,37%, respectivamente, e foram os papéis mais negociados da sessão.

"O dia foi de alívio para o mercado local, com destaque para as empresas mais sensíveis à economia local, que voltaram a respirar depois dos últimos dias mais difíceis e com a curva de juros caindo", afirma João Piccioni, analista da Empiricus Research.

Investidores locais também repercutiram dados de mercado de trabalho divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa de desemprego no Brasil recuou para 7,8% no trimestre móvel encerrado em agosto, no menor patamar para esse trimestre desde 2014. Já a massa de rendimento do trabalho alcançou R$ 288,9 bilhões, recorde da série histórica da Pnad Contínua.

"O mercado de trabalho segue dando suporte ao consumo das famílias e mantém a resiliência do setor de serviços, mesmo considerando a saída do efeito positivo do agronegócio no início do ano e a política monetária ainda restritiva nos próximos meses", afirma João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital.

Com Reuters

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