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Bolsa cai puxada por temores sobre juros nos EUA e desaceleração na China

Dólar mantém-se estável, mas termina semana em alta com apostas sobre os próximos passos do Fed

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São Paulo

A Bolsa brasileira registrou nova queda nesta sexta-feira (8) em meio a temores sobre uma possível nova alta de juros nos Estados Unidos, enquanto a desaceleração da economia chinesa segue no radar. Sem a divulgação de indicadores relevantes e com volume financeiro reduzido no pós-feriado, o Ibovespa recuou 0,57%, terminando o dia aos 115.313 pontos.

Com o recuo desta sexta, o índice consolida uma semana de perdas em todos os pregões, puxada justamente pelo cenário internacional e pela falta de catalisadores na agenda local. No período, o Ibovespa acumulou queda de 2,19%.

Já o dólar abriu a sessão em queda, mas ganhou força e terminou o dia praticamente estável influenciado pelas apostas sobre a próxima decisão de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). A moeda americana terminou a semana cotada a R$ 4,982, com valorização de 0,87% em relação à última sexta.

No exterior, o clima segue negativo para ativos de risco. Investidores ainda mantêm cautela por conta da desaceleração econômica da China, e novos dados sobre o mercado de trabalho americano aumentaram temores sobre uma nova alta de juros nos EUA neste ano.

"Os dados de mercado de trabalho [dos EUA] seguiram mostrando resiliência nos últimos números recebidos nesta semana, com os pedidos iniciais de seguro-desemprego caindo e o custo da mão de obra aumentando. Em meio a tais pressões, o mercado especula se o Fed poderá subir novamente a taxa de juros na reunião de novembro", afirma a equipe da Guide Investimentos.

Notas de dólar são inspecionadas
Notas de dólar são inspecionadas após impressão em Washington - Gary Cameron - 14.nov.2014/Reuters

Na quinta, dados mostraram forte queda nos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA, em mais um sinal de resiliência do mercado de trabalho americano que tende a favorecer a perspectiva de juros altos por mais tempo no país.

A atenção dos investidores fica agora voltada para dados de inflação dos Estados Unidos na semana que vem, que podem oferecer pistas sobre o tom do comunicado da reunião de política monetária do Federal Reserve de 19 e 20 de setembro.

"O mercado parece ter consolidado a estabilidade da taxa de juros americana na próxima reunião do Fomc [comitê de política monetária dos EUA], mas uma mensagem hawkish [no sentido de aperto monetário] não está descartada por nós, a fim de afastar cenários de cortes precoces na taxa básica de juro", diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, o mercado de fato é praticamente unânime sobre a próxima reunião do Fed: vê 93% de chance de as taxas de juros serem mantidas em 5,50%.

Para a reunião de novembro, no entanto, os analistas veem 55% de chance de manutenção dos juros, enquanto há 42,1% de probabilidade de um aumento de 0,25 ponto percentual. Há, ainda, 2,9% que acreditam numa elevação maior, de 0,50 ponto.

Os números representam uma elevação das apostas de um aperto monetário mais duro nos Estados Unidos. Na semana passada, as chances de manutenção do atual nível de juros em novembro era de 64,60%, enquanto as de elevação em 0,25 ponto percentual eram de 33,52%.

No Brasil, a agenda foi esvaziada e a sessão, de menor volume financeiro. A equipe da Guide destaca, no entanto, a conclusão da reforma ministerial do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ocorreu na quarta (6) após o fechamento do mercado e pode ajudar a destravar medidas da pauta econômica no Congresso.

O mercado aguarda, ainda, a divulgação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto, que deve ser divulgado na terça (12) e apresentar aceleração ante julho. Analistas consultados pela Bloomberg preveem alta de 0,29% do índice no mês, ante 0,12% no período anterior.

O analista Rafael Costa, da BGC Liquidez, cita pressões de preços das contas de luz e do fim do programa de descontos para carros populares como fatores que devem levar o índice para cima.

Nos mercados futuros, que embutem as perspectivas de investidores para a Selic, as curvas de juros registraram queda. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 saíram de 10,60% para 10,55%, enquanto os para 2027 caíram de 10,51% para 10,46%.

"Os juros futuros operaram de lado, com a manutenção da perspectiva de corte de 0,5 ponto percentual da Selic e investidores no aguardo do IPCA de agosto, que não deve abrir brecha para maior flexibilização da política monetária", diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Nesse cenário, o Ibovespa registrou mais um dia de queda, puxado, ainda, pelo desempenho negativo de papéis brasileiros no exterior na véspera.

Na quinta, quando não houve negociação na B3 em razão do 7 de Setembro, o MSCI Brazil, principal ETF (Exchange Traded Fund, que replica o desempenho de índices de referência) brasileiro negociado em Nova York e uma relevante referência global para as ações brasileiras, caiu 1,95%. As Bolsas norte-americanas também recuaram ainda afetadas por notícias da Apple.

A principal queda do dia foi da Vale, que recuou 1,89% acompanhando o desempenho dos contratos de minério de ferro no exterior. A mineradora também foi impactada por notícias de que o governo chinês pode intensificar a supervisão regulatória do minério de ferro no país.

A Petrobras também corroborou para o desempenho negativo do Ibovespa ao registrar queda de 0,41% em seu papéis preferenciais e de 1,08% nos ordinários, após ter renovado máximas históricas na semana e refletindo ajustes de seu ADR (certificado de ações emitidas fora dos EUA) na quinta-feira.

"Boa parte da queda de hoje no Ibovespa é reflexo do pregão de ontem no exterior, em que as Bolsas mundiais caíram devido a uma fraca retomada da economia chinesa mesmo após estímulos, além do temor de uma nova alta de juros nos EUA. O mercado entrou em modo "risk-off" [avesso ao risco], e os ativos acabam sofrendo nesse cenário", afirma Andre Fernandes, chefe de renda variável da A7 Capital.

Na ponta positiva, as ações do Itaú ficaram entre as mais negociadas da sessão e subiram 0,26%, após terem registrado queda nos últimos pregões.

A maior alta do dia foi da Petz, que registrou ganho de 4,22% após perdas recentes. Em seguida, aparecem CVC e Yduqs, com avanços de 2,16% e 1,91%, respectivamente.

Nos Estados Unidos, os principais índices acionários registraram leves altas. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq subiram 0,14%, 0,22% e 0,09%, respectivamente. Na semana, porém, os índices acumulam baixa.

A principal notícia do mercado americano nesta semana foi a divulgação de dados sobre o setor de serviço nos EUA, que vieram acima do esperado, aumentaram os temores sobre o Fed e derrubaram os índices na terça.

Na quinta, porém, a Apple registrou forte queda de 2,92% e perdeu quase R$ 1 trilhão em valor de mercado após a Bloomberg noticiar que a China planeja ampliar restrições ao uso do iPhone a funcionários públicos do país. No mesmo dia, uma baixa nos pedidos semanais de seguro-desemprego nos EUA também reforçou as preocupações com as taxas de juros.

Com isso, os índices americanos também consolidaram uma semana de desempenho negativo.

Sobre a Apple, a equipe do Itaú afirma que as restrições da China podem deteriorar as vendas da companhia na China, um de seus mais importantes mercados. O banco afirma, no entanto, que as proibições promovidas até agora teriam impacto modesto, de menos de 1%.

Mesmo assim, o Itaú considera que as notícias podem travar o desempenho dos papéis da Apple.

"O sinal desfavorável enviado por essas restrições pode ser um obstáculo para as ações por algum tempo, somado a uma avaliação de mercado alta e difícil de entender da empresa", diz o Itaú, afirmando que o evento pode ser um gatilho para que a ação da Apple chegue a um valor razoável, mas citando que a empresa ainda tem eventos que podem impulsioná-la, como a apresentação no novo iPhone que deve ocorrer na próxima terça.

Com Reuters

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