Nova fase do Desenrola vai negociar até R$ 161,3 bi em dívidas de até R$ 20 mil

Prioridade do governo é refinanciar débitos menores, até R$ 5.000; leilão de descontos começa na segunda (25)

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Brasília

A nova fase do programa Desenrola Brasil vai renegociar até R$ 161,3 bilhões em dívidas de brasileiros com renda até dois salários mínimos (R$ 2.640) cujo saldo devedor não ultrapasse os R$ 20 mil.

A prioridade do governo é promover a repactuação de dívidas de até R$ 5.000, que somam R$ 78,9 bilhões e estão distribuídas em 65,9 milhões de contratos, mas todos os débitos habilitados na plataforma poderão ser pagos em condições diferenciadas, à vista ou mediante financiamento com juros de até 1,99% ao mês e garantia da União.

O secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Barbosa Pinto - Pedro Ladeira - 20.mar.2023/Folhapress

Na próxima segunda-feira (25), o governo dará início ao chamado leilão de descontos, em que as 709 empresas credoras habilitadas poderão informar, na plataforma do Desenrola Brasil, quanto estão dispostas a abater das dívidas para facilitar a renegociação.

Ao todo, segundo o governo, 32,5 milhões de pessoas endividadas poderão ser beneficiadas pelas negociações, das quais 29,9 milhões possuem débitos de até R$ 5.000 e 16,1 milhões estão inscritas no Cadastro Único de programas sociais.

"Temos um problema crônico de superendividamento no Brasil, que ficou ainda mais agudo com a pandemia", diz o secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto.

Segundo ele, o programa deve trazer alívio financeiro às empresas e às famílias na reta final do ano, abrindo espaço para ampliação do consumo e da atividade econômica, além de "limpar" o balanço dos bancos para que eles voltem a emprestar.

Para a realização do leilão de descontos, os contratos foram divididos em lotes, separados por nove segmentos e por antiguidade do débito.

Serão incluídas dívidas de setores como varejo, concessionárias de energia elétrica ou de água e saneamento, telecomunicações, educação, serviços financeiros, entre outros. Haverá ainda subdivisões por ano do débito: 2019, 2020, 2021 e 2022.

O Ministério da Fazenda estipulou um desconto mínimo em cada lote. Na média, esse piso fica em 58% —percentual que leva em consideração os abatimentos habitualmente praticados em feirões de renegociação organizados pelas próprias empresas nos últimos anos.

O alívio efetivo pode ser ainda mais significativo, já que a lógica é promover a competição: quanto maior é o desconto, maior é a chance de a dívida ser paga ou refinanciada. Por outro lado, é possível que alguns credores não considerem atrativo o desconto mínimo de sua categoria e se abstenham de fazer propostas.

O leilão deve durar três dias, até quarta (27). As propostas devem ser disponibilizadas aos consumidores na primeira semana de outubro, em data ainda a ser anunciada.

A partir da abertura da plataforma, todas as dívidas de até R$ 20 mil poderão ser pagas à vista pelo valor após o desconto, caso o devedor tenha recursos suficientes para isso.

No entanto, por se tratar de um público já endividado, o mais provável é que eles demandem a opção de refinanciamento com garantia da União.

O governo separou R$ 8 bilhões do FGO (Fundo Garantidor de Operações) para servir de fiador das negociações. Os bancos vão conceder crédito novo para os devedores pagarem os acordos firmados por meio do Desenrola, e a União, por meio do FGO, garante os pagamentos em caso de inadimplência.

As operações poderão ser divididas em até 60 prestações mensais, com juros de até 1,99% ao mês.

Repactuar os R$ 78,9 bilhões identificados em dívidas de até R$ 5.000 exigiria um desconto de 90% em todos os contratos. É possível que esse percentual seja atingido em alguns casos, como nos débitos mais antigos ligados ao rotativo de cartão de crédito, mas não é algo garantido. Dívidas com concessionárias de energia, por exemplo, podem ter abatimentos menores.

Como os recursos são limitados, o governo vai criar uma espécie de fila de prioridades, centrada inicialmente nas dívidas de até R$ 5.000. Nesta etapa, o tamanho efetivo dos descontos será uma baliza importante, pois quanto maior o abatimento, maior a chance de ser contemplado. Para estimular a concorrência, apenas uma proporção de contratos em cada lote poderá ser contemplada com a garantia da FGO.

O governo vai fazer uma primeira seleção de contratos cujos devedores poderão acessar o refinanciamento com a garantia federal. Eles terão 20 dias para entrar na plataforma e fechar negócio. Para isso, elas precisarão ter uma conta nível prata ou ouro na plataforma gov.br.

O cadastro oficial será a única forma de acesso, justamente para coibir fraudes e tentativas de golpe. Além disso, nenhum representante do governo entrará em contato com as famílias para propor negociações. Eventual busca ativa ficará a cargo das próprias empresas credoras, após serem notificadas do resultado do leilão.

É possível que as companhias ou os devedores não manifestem interesse na negociação de parte dos contratos. Se isso ocorrer e ainda restarem recursos no FGO, o governo parte para uma nova leva de famílias com débitos até R$ 5.000, que terão mais 20 dias para concluir os acordos.

Se ainda assim sobrar dinheiro no fundo garantidor, o governo vai abrir a opção de refinanciamento dos R$ 82,4 bilhões em dívidas entre R$ 5.000 e R$ 20 mil, em mais duas janelas de 20 dias cada. A intenção é concluir todo o processo até o fim de 2023.

O governo planeja colocar na rua uma campanha publicitária para informar os devedores sobre a possibilidade de negociação.


ENTENDA A PRÓXIMA FASE DO DESENROLA

Leilão de descontos

O leilão será realizado de 25 a 27 de setembro. Nesse período, 709 empresas credoras indicarão os descontos possíveis em cada uma das dívidas.

O leilão será dividido em lotes, conforme segmento do credor e antiguidade da dívida. Veja a lista dos segmentos:

  • serviços financeiros
  • securitizadoras
  • comércio varejista
  • eletricidade
  • telecomunicações
  • educação
  • saneamento
  • micro e pequena empresa
  • demais setores

Em relação à antiguidade da dívida, a subdivisão será feita conforme o ano:

  • 2019

  • 2020

  • 2021

  • 2022

A média do desconto mínimo é de 58%

Os devedores terão acesso aos resultados a partir da primeira semana de outubro

Como será feito o pagamento

À vista, com o desconto ofertado, a qualquer momento para qualquer dívida até R$ 20 mil

Parcelado em até 60 meses, com juro de até 1,99% ao mês e garantia da União, conforme fila de prioridades. Inicialmente, modalidade será disponibilizada para débitos de até R$ 5.000

As dívidas inscritas nesta fase do Desenrola Brasil

O leilão de descontos abarca 74,9 milhões de contratos de dívidas de até R$ 20 mil, que somam ao todo R$ 161,3 bilhões.

Desses, 65,9 milhões de contratos são de até R$ 5.000 (antes dos descontos). A soma dos débitos é de R$ 78,9 bilhões.

Os demais R$ 82,4 bilhões correspondem a dívidas entre R$ 5.000 e R$ 20 mil.

Os beneficiários

32,9 milhões de pessoas com renda até dois salários mínimos (R$ 2.640) têm dívidas

Dessas, 32,5 milhões de pessoas tem dívidas em aberto com saldo até R$ 20 mil

Os débitos até R$ 5.000 estão concentrados em 29,9 milhões de CPFs (é possível que o mesmo indivíduo tenha um contrato menor e outro maior que esse valor)

A média identificada pelo programa é de 1,5 dívida por CPF

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