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Após salto com dados de emprego nos EUA, dólar termina o dia em queda

Moeda americana chegou a atingir R$ 5,22 com temores sobre juros, mas desacelerou no início da tarde

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São Paulo

Apesar de ter começado o dia em forte alta, chegando a atingir R$ 5,22 após a divulgação de dados fortes de emprego nos Estados Unidos, o dólar terminou pregão em queda de 0,12% nesta sexta-feira (6), cotado a R$ 5,161.

O relatório do Departamento do Trabalho dos EUA divulgado nesta sexta apontou que foram criados 336 mil empregos em setembro, número bem maior que a previsão de 170 mil vagas de economistas consultados pela Reuters.

O salto do dólar ocorreu pois o aquecimento do mercado de trabalho americano aumentou as apostas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deve manter as taxas de juros do país mais altas por mais tempo, o que tende a beneficiar a divisa.

Os dados de agosto, porém, foram revisados para cima, mostrando 227 mil empregos criados, em vez dos 187 mil informados anteriormente, atenuando do impacto do alto número de setembro. Além disso, os salários aumentaram apenas 0,2%, abaixo da expectativa do mercado de avanço de 0,3%.

Já a Bolsa brasileira começou o dia em forte queda, derrubada justamente pelo cenário americano, mas virou para alta apoiada principalmente por ações de grandes empresas, como Vale, Petrobras e Itaú. O Ibovespa encerrou a sessão com avanço de 0,78%, aos 114.169 pontos.

A semana foi marcada por dados conflitantes de emprego nos EUA, que causaram incerteza no mercado sobre o futuro da política de juros americana.

Na terça (3), um relatório mostrou que a abertura de vagas no país aumentou inesperadamente em agosto, sinalizando aquecimento. Já na quarta (4), outro indicador apontou que a criação de vagas no setor privado nos EUA ficou bem abaixo do esperado em setembro.

Notas de dólar diante de gráfico
Notas de dólar diante de gráfico - Dado Ruvic - 8.fev.2021/Reuters

Sem direção definida, a divulgação do relatório desta sexta, conhecido como "payroll", era vista como crucial para alinhar as apostas sobre uma possível nova alta nos juros americanos. Por isso, o número bem acima do esperado assustou o mercado pela manhã, fazendo o dólar saltar e derrubando Bolsas globalmente.

Para Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, os dados fortes de emprego nos EUA desta sexta sinalizam que ainda há desafios contra a inflação nos Estados Unidos, o que deve se refletir nos juros americanos.

"Os números indicam que o mercado de trabalho segue aquecido, o que traz desafios para os esforços do Fed de trazer a inflação para a meta. Apesar do ajuste intenso de juros implementado até agora, a inflação americana continua preocupando, e o principal motivo de pressão é justamente o mercado de trabalho, que leva a reajuste dos salários e eleva custos", diz Salles.

A inflação americana acumula alta de 3,7% até agosto, bem acima da meta de 2% perseguida pelo Fed. Além disso, o índice deve ser pressionado em setembro pela recente alta do petróleo, que atingiu seus maiores níveis em mais de um ano no mês passado.

Já José Cláudio Securato, economista e presidente-executivo da Saint Paul Escola de Negócios, aponta que a alta de juros nos EUA também pode interferir nas decisões de juros no Brasil, pois causam um cenário de desvalorização do real, saída de recursos, queda da Bolsa e alta nos juros futuros.

"Tudo isso coloca um pouco de pressão nas próximas decisões do Copom sobre ciclo de queda da taxa Selic. O quase consenso sobre queda já encontra questionadores, argumentando que o [cenário] fiscal não melhorou e que as taxas de juros nos EUA estão alta demais", diz Securato.

Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury, afirma que a divulgação do payroll americano impulsionou os retornos dos títulos americanos, e as moedas de alto rendimento, como o real brasileiro, estão entre as mais impactadas pelo movimento.

Ele diz acreditar, no entanto, que o banco central americano não deve realizar uma nova alta nos juros neste ano.

"O Fed provavelmente já encerrou seu ciclo de aperto monetário [alta de juros], e os dados de emprego, os mais defasados da economia, não devem mudar essa visão. As taxas de juros subindo devem continuar apoiando o dólar, embora uma pausa nas próximas reuniões tenha o potencial de reverter essa narrativa", diz Moutinho.

Desde a última reunião do Fed, quando a autoridade monetária sinalizou que uma nova alta de juros poderia ocorrer ainda em 2023, o dólar acumula alta de 5,77% em relação ao real.

A próxima reunião do banco central americano está marcada para 1° de novembro.

Títulos americanos desaceleram e enfraquecem dólar

Na esteira dos dados dos Estados Unidos, o rendimento dos títulos americanos de dez anos, referência global para decisões de investimento, tiveram alta de 0,06 ponto percentual nesta sexta. Pela manhã, no entanto, os papéis chegaram a subir 0,14 ponto.

Com a desaceleração dos títulos ao longo do dia, o dólar também perdeu força e não conseguiu sustentar os ganhos ante o real, terminando a sessão em leve queda conforme o mercado digeria os dados do payroll.

A revisão da abertura de vagas de agosto e os dados sobre o avanço dos salários abaixo do esperado, por exemplo, foram leves sinalizações positivas, e o mercado já vinha subindo as apostas de uma alta de juros nos últimos pregões.

Operador ouvido pela Reuters pontuou, ainda, que, depois do avanço das cotações, parte dos investidores decidiu vender moeda e realizar os lucros do dia, ou seja, efetivar os ganhos com a divisa.

As taxas de juros futuros no Brasil seguiram o mesmo movimento: tiveram forte alta no início do dia, chegando a subir mais de 0,30 ponto percentual, mas perderam força e terminaram a sessão em queda.

"Sempre que sai o payroll, há uma reação muito forte de início e depois alguma correção", pontuou o economista Rafael Pacheco, da Guide Investimentos. "A correção dos juros foi mais técnica: as taxas já subiram demais recentemente, então o mercado entende que não tem muito mais espaço para subir agora", acrescentou.

Bolsa sobe apoiada por grandes empresas

A Bolsa brasileira também seguiu a dinâmica dos índices americanos, abrindo a sessão em forte queda e chegando aos 111.598 na mínima do dia, mas recuperando força no início da tarde e garantindo desempenho positivo.

As principais altas do dia foram de Vale, Petrobras e Itaú, que subiram 1,60%, 2,29% e 0,18%, respectivamente, e foram as mais negociadas da sessão.

Na semana, porém, o Ibovespa acumula queda de 2,05%.

Com Reuters

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