Greve de mulheres na Islândia pede igualdade na carga de trabalho e nos salários

Movimento conta com 45 sindicatos e organizações, tem apoio da primeira-ministra e repete ato feito em 1975

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Ragnhildur Sigurdardottir
Bloomberg

A primeira-ministra da Islândia, Katrin Jakobsdottir, juntou-se a outras mulheres do país em uma greve para chamar a atenção para as desigualdades remanescentes na sociedade, mesmo que o país ocupe a posição mais alta no mundo em relação à igualdade de gênero.

O protesto consiste em fazer com que as mulheres parem de trabalhar por um dia inteiro e tem como objetivo destacar as dificuldades como a diferença salarial entre os gêneros, a carga desigual de trabalho doméstico não remunerado e a violência que ainda afeta desproporcionalmente as mulheres.

O dia relembra um movimento semelhante ocorrido em 1975, quando 90% da força de trabalho feminina da Islândia abandonou seus empregos e entregou os filhos aos pais em uma demonstração reveladora da importância de seu trabalho, fosse ele remunerado ou não.

Primeira-ministra da Islândia, Katrin Jakobsdottir, chega para visita ao rei da Espanha
Primeira-ministra da Islândia, Katrin Jakobsdottir, participa de greve das mulheres por igualdade salarial e melhores condições trabalhistas - Ludovic Marin - 05.out.2023 / AFP

As manifestações desta terça-feira (24), organizadas por 45 sindicatos e organizações, devem levar uma grande parte das trabalhadoras a tirar o dia de folga. Até mesmo a primeira-ministra do país planeja participar.

A Islândia é o país mais igualitário do mundo na questão de gênero com base em oportunidades econômicas, níveis de educação, resultados de cuidados de saúde e liderança política, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, um título que mantém há 14 anos.

Ela registra 91,2% em um índice do fórum que mede a igualdade de gênero, sendo que 100% denota plena igualdade. Os Estados Unidos, por exemplo, têm 75% neste índice.

"Isso levou muitos a acreditar que a igualdade foi alcançada", disse Sonja Yr Thorbergsdottir, que preside a federação de sindicatos do setor público. "Isso está muito longe da verdade. Ainda há um longo caminho a percorrer", afirmou ela.

A renda média das mulheres no país é 21% menor do que a dos homens. No total, 40% das mulheres estão sujeitas à violência em algum momento de suas vidas.

Em virtude destes números, foi organizada a mobilização desta terça-feira que tem como slogan: "Você chama isso de igualdade?".

A principal razão para a disparidade de gênero na Islândia, segundo Thorbergsdottir, é o mercado de trabalho, com setores dominados por mulheres pagando salários mais baixos. Outro problema é que as mulheres são mais responsáveis pelo trabalho doméstico, incluindo a carga mental.

"Não é escolha das mulheres trabalhar menos horas do que os homens", disse ela. "É porque elas fazem mais trabalho não remunerado".

Para muitas empresas islandesas, o protesto desta terça resultará em perdas financeiras com a ausência das trabalhadoras e o fechamento da maioria das creches. O maior local de trabalho do país, o Hospital Universitário Nacional, com 80% de funcionárias mulheres, adiou os atendimentos e está funcionando com equipe mínima.

Porém nem todas as mulheres são favoráveis ao protesto. Sigridur Margret Oddsdottir, a primeira mulher a dirigir a Confederação de Empresas da Islândia, diz que apoia a causa, mas questiona parar a economia islandesa por um dia inteiro. Em vez disso, ela incentivou a fazer acordos com os gerentes para garantir que a economia não seja paralisada.

"Sabemos que se as mulheres abandonarem todos os empregos sem consultar seus gerentes, isso terá um enorme efeito na sociedade islandesa", avaliou.

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