Descrição de chapéu Vida Pública

Para maioria, servidor público é desvalorizado, diz Datafolha

Para 84%, servidores bem preparados em cargos importantes podem melhorar a vida da população

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Rio de Janeiro

A maior parte dos brasileiros acredita que servidores públicos são desvalorizados e enfrentam falta de estrutura ao prestar serviços à população, revela pesquisa Datafolha encomendada pelo Movimento Pessoas à Frente, dedicado à gestão de pessoas no setor.

Para 63% dos entrevistados, esses funcionários não são respeitados pela sociedade. Mais da metade, 55%, acredita que a minoria ou nenhum dos servidores têm boas condições para atender o cidadão.

A pesquisa ouviu 2.025 pessoas maiores de 16 anos entre os dias 11 e 18 de setembro em cidades de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Homem branco e calvo, usando máscara e um colete azul por cima da camiseta, usa estetoscópio em uma paciente yanomami, que está de costas e blusa verde de alcinha
Médico emergencista atende mulher Yanomami em missão a Roraima da Força Nacional do SUS, no início deste ano - Igor Evangelista/Ministério da Saúde

Como depende dos serviços ofertados pelo governo, a maior parte dos brasileiros percebe a falta de estrutura. Segundo Clarissa Malinverni, cientista social e integrante da diretoria-executiva do Movimento Pessoas à Frente, isso ajuda a população a identificar o que funciona ou não.

"As pessoas conseguem ver que, quando elas chegam ao posto de saúde ou a uma escola, muitas vezes não há as condições necessárias para que o servidor atue", diz.

Ao mesmo tempo, os brasileiros entendem o papel do funcionário público em prover qualidade de vida. Para 84%, servidores bem preparados em cargos importantes, como diretores de hospitais e coordenadores de áreas sociais, podem melhorar a vida da população. A falta de estrutura não condiz com a importância do serviço público e ajuda a criar a percepção de que o profissional é desvalorizado.

A pesquisa Datafolha mostra também que alguns estigmas permanecem, em relação à remuneração, por exemplo.

Para 25% dos brasileiros, todos ou a maioria dos funcionários públicos ganham salário superior ao estabelecido pelo teto constitucional (R$ 41.650,92). No entanto, só 0,06% recebem mais que o teto, segundo dados de 2022 da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). A maioria, 70%, ganha salários até R$ 5 mil. As informações foram compiladas pelo Instituto República.org, dedicado a ampliar o debate sobre o setor público.

"Uma minoria inexpressiva com muitos privilégios contamina a visão que a população tem do servidor", afirma Malinverni. "Isso prejudica a reputação da maior parte dos funcionários públicos."

Ela diz que a visão negativa, relacionada à ideia de privilégio dos servidores, é parte do processo recente de desvalorização do funcionalismo público, marcada pela redução dos concursos e pelo congelamento de salários.

O olhar das pessoas sobre esses trabalhadores está atrelado ainda à reputação das instituições públicas, segundo Humberto Martins Falcão, professor de gestão pública da Fundação Dom Cabral.

"Isso vem pela mídia, por redes sociais ou grupos de conversa. O cidadão está em alguma medida exposto a outros fatores para formar a imagem do que ele percebe", afirma.

Políticas maiores de Estado também influenciam essa visão. Na pandemia, por exemplo, mais pessoas passaram a usar o serviço público. Malinverni declara que esse período impactou positivamente a percepção dos brasileiros sobre o SUS, um efeito que deve permanecer por um tempo.

Brasileiros também veem relação entre resultados do trabalho do servidor e o apoio do Estado, sobretudo por meio de lideranças qualificadas, segundo o Datafolha. Para 84%, os funcionários poderiam oferecer mais à população se o governo desse melhores condições.

"Existe uma percepção de que o servidor poderia desempenhar melhor, mas não é tudo na conta dele. Há uma estrutura que não apoia e uma liderança que, para a população, está despreparada", diz Malinverni.

O desenvolvimento dos servidores passa pelo apoio de lideranças, na opinião de 92% dos brasileiros, enquanto 74% acreditam que todos ou a maioria dos funcionários públicos enfrentam dificuldades com chefes despreparados.

"É uma imagem que talvez reflita a consciência da população sobre as dificuldades de ter um sistema meritocrático em um regime de coalizão, onde as posições de liderança são ocupadas com base em critério de alinhamento político", diz o professor Humberto Martins.

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