Descrição de chapéu juros Banco Central Selic

Campos Neto, Galípolo e diretores vão a protesto de servidores do BC em dia de Copom; veja vídeo

Membros da autoridade monetária marcam presença em ato e demonstram apoio à manifestação

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e os diretores da instituição, inclusive os indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, abraçaram servidores da entidade, em sinal de apoio ao protesto desta quarta-feira (1º).

Campos Neto e diretores do BC demonstram apoio a protesto dos servidores
Campos Neto (3º da esq. para a dir.), Galípolo (4º da esq. para a dir.) e outros diretores do BC em meio a protesto dos servidores - Nathalia Garcia/Folhapress

Os trabalhadores da autoridade monetária pedem valorização de carreira e já ameaçam realizar greve se não houver avanço nas negociações. O ato acontece em dia de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que pode reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, a 12,25% ao ano.

O protesto desta quarta marca o endurecimento da operação-padrão dos funcionários do BC. Desde julho, o movimento tem gerado maior lentidão na prestação de serviços da autoridade monetária, atraso na divulgação de indicadores econômicos e paralisações parciais diárias.

Os servidores reivindicam a criação de um bônus de produtividade semelhante à gratificação que foi regulamentada para os auditores fiscais da Receita Federal. Eles reclamam da falta de isonomia entre as carreiras de Estado e cobram uma equiparação de tratamento.

A categoria pede também medidas de reestruturação de carreira, como a exigência de ensino superior para o cargo de técnico do BC (o que altera a qualificação necessária para ingressar nessa carreira) e alteração de nomenclatura do cargo de analista para auditor.

Os funcionários demandam ainda aumento das garantias e prerrogativas e registro em lei de que exercem atividades exclusivas de Estado.

De acordo com o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), um indicativo de greve por tempo indeterminado a partir da metade de novembro pode ser apresentado.

No ano passado, os funcionários cruzaram os braços durante cerca de três meses, quando o então presidente Jair Bolsonaro (PL) queria dar reajuste apenas a policiais –o que acabou não se concretizando.

Em nota, o sindicato informou que a operação-padrão teve, até o momento, grave repercussão no desenvolvimento do Drex (real digital), impacto em 25% das atividades de supervisão e de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo e na regulamentação de ativos virtuais.

Também houve atraso no calendário de desenvolvimento de novas funcionalidades do Pix, como o lançamento do Pix Automático.

A manifestação dos funcionários tem ganhado pela primeira vez respaldo de diretores do BC e de chefes de departamento, que se expressaram publicamente em uma ação coordenada. No passado, a postura do presidente da instituição nas negociações já foi alvo de críticas por parte dos servidores.

Em setembro, durante apresentação do relatório trimestral de inflação, Campos Neto declarou seu apoio ao movimento dos trabalhadores da casa.

"A gente reconhece que é importante agora, mais do nunca, todos lutarem juntos para valorizar a carreira do Banco Central. Queria reiterar aqui o apoio da diretoria colegiada ao movimento. A gente tinha um tema não pecuniário, que precisa ser atendido, a gente tem um tema de retribuição, que precisa ser atendido", disse.

"Queria que vocês [servidores] soubessem que vão ter meu apoio, que vou fazer todo o possível para corrigir as distorções e para valorizar a carreira do Banco Central, não só eu, como toda a diretoria colegiada", acrescentou ele, em fala direta aos funcionários presentes no auditório.

O presidente do BC se reuniu na manhã desta quarta com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), para tratar do assunto.

Segundo Fábio Faiad, presidente do Sinal, o chefe da instituição intermediou um pedido dos servidores por uma reunião com Alckmin e com o ministro Fernando Haddad (Fazenda). O encontro deve ocorrer nas próximas semanas, em data ainda a ser definida.

"Se nada avançar, no dia 8 [de novembro] vamos levar uma carta para os presidentes da Câmara [dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL)] e do Senado [Rodrigo Pacheco (PSD-MG)] e vamos fazer nova paralisação, mas desta vez interna", disse.

"Se não der certo, dia 16 vamos levar uma carta mais pesada para entregar no Palácio do Planalto, para endereçar ao presidente Lula, e dizer que a gente tentou de tudo, mas a falta de negociação vai nos forçar a entrar em greve", continuou.

O representante do sindicato diz que o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos não se manifestou recentemente sobre o avanço das tratativas.

"A alegação do governo é a questão orçamentária, mas tudo pode ser negociado, o impacto parcelado no tempo", afirmou. "Só vamos parar se realmente continuar essa situação de nenhuma proposta à mesa."

Os servidores do BC compõem a elite do funcionalismo público. Os salários dos analistas, com exigência de nível superior, variam de R$ 20.924,80 a R$ 29.832,94, sem bônus. Já os técnicos, com nível médio, recebem por mês de R$ 7.938,81 a R$ 13.640,89. Neste ano, o governo concedeu a partir de maio um reajuste linear de 9% para servidores públicos federais.

Segundo levantamento da ANBCB (Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil), 157 servidores vão prestar concurso público para a Câmara dos Deputados. O grupo inclui chefes de gabinete dos diretores, adjuntos e gestores de equipe.

Essa migração para outras carreiras recebeu internamente o apelido de "Drexit", em referência ao nome da nova moeda digital do BC (Drex) e ao Brexit –saída do Reino Unido da União Europeia. Na visão dos representantes dos servidores, o BC está se transformando em um "centro de treinamento de luxo".

"Tem impactos em todos os projetos do Banco Central, não é uma coisa que a gente deseja. A gente vê que não tem mais para onde ir, tem um cenário de desmotivação", afirmou a presidente da ANBCB, Natacha Rocha.

Por conta do clima deteriorado, ela cita um fenômeno de "quiet quitting", que caracteriza uma desistência discreta na qual o funcionário se esforça o mínimo necessário pelo trabalho.

Para ela, a adesão dos funcionários à mobilização por melhores condições tem crescido com o passar do tempo. "As pessoas estão vendo, de fato, a desvalorização acontecendo e o alto escalão do banco engajado e preocupado com a crise junto com a gente. É uma preocupação de instituição."

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