Descrição de chapéu mudança climática

Especialistas apontam soluções para evitar falta de luz por evento climático

Coordenação conjunta e maior fiscalização podem ser mais eficientes que enterramento de fios

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Izael Pereira
Brasília

O apagão que se estendeu por dias em São Paulo após o temporal do dia 3 de novembro evidenciou os desafios a serem superados pelo setor elétrico em conjunto com a gestão pública.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o momento é de revisão dos modelos de operação e regulação do setor.

Luiz Felipe Pamplona, COO e cofundador do Energy Future, hub de inovação e empreendedorismo do setor elétrico brasileiro, alerta que os eventos causados pelas mudanças climáticas mostram que é preciso analisar as condições dos projetos para incorporar cenários mais severos.

Equipe da concessionária Enel trabalha no religamento da energia de um condomínio em São Paulo; falta de luz foi causada pela queda de uma árvore - Rubens Cavallari/Folhapress

"Todos estão falando em enterrar a rede, mas não acredito que seja a melhor opção. É até 10 vezes mais caro [que a rede aérea], mesmo que, tecnicamente, a distribuição aérea seja maior. O consumidor teria de arcar com o investimento para enterrar", afirma Pamplona.

Além disso, diz o especialista, é preciso encarar a coexistência de áreas arborizadas e cabos de distribuição. "A falha na poda das árvores, motivo apontado como causa do problema enfrentado por São Paulo, é responsabilidade da esfera municipal e demanda planejamento urbano sustentável."

Pedro Seraphim, especialista em energia e sócio da Schimidt Valois Advogados, lembra que as prefeituras tendem a priorizar algumas áreas em detrimento de outras devido aos recursos disponíveis para investir.

"Há recursos limitados, mas, na verdade, temos um sistema frágil de manutenção das árvores em São Paulo", diz o advogado.

Filipe Bonaldo Alves, sócio-diretor da consultoria A&M Infra, ressalta que, além de caro, o enterramento dos fios é demorado. "Não é algo que se resolve em um ou dois anos, é algo para entre cinco e dez anos. É uma decisão que pode ser tomada pelo estado de São Paulo com a prefeitura e a concessionária, mas com a consciência de que vai impactar na tarifa da população".

Há fios enterrados em algumas regiões de São Paulo, como em trechos da avenida das Nações Unidas. Segundo a prefeitura, seria necessário investir R$ 20 bilhões para executar essa mudança apenas na região central da cidade.

Os especialistas, entretanto, avaliam que novos bairros podem desenvolver essa infraestrutura com custos menores, uma vez que não seria necessário desfazer e refazer calçadas e ruas para enterrar os fios.

Embora o enterramento seja visto como a solução mais eficiente para evitar problemas devido a chuvas, ventos e quedas de árvores, Pamplona afirma que a gestão de ativos seria a forma mais indicada para mitigar os impactos desses eventos climáticos.

O especialista afirma que uma rede inteligente agiliza a localização das falhas, o que aumenta a eficiência das equipes despachadas para solucionar o problema.

Após o apagão em São Paulo, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo) instauraram processo de fiscalização, no qual os primeiros resultados devem ser apresentados em dezembro.

Aneel adota protocolo de ações

Em nota, a Agência Nacional de Energia Elétrica afirma que busca melhores respostas a eventos climáticos severos em três frentes:

  1. Melhorar a detecção de eventos dessa natureza pelos próprios agentes do setor e em parceria com serviços de meteorologia

  2. Aprimoramento dos planos de prevenção e redução de danos, em coordenação com governos estaduais e prefeituras

  3. Plano de ação de recomposição do serviço, também em colaboração com todas as partes envolvidas, inclusive com a possibilidade de utilização de equipes de outras distribuidoras

À Folha, a Aneel informou que estão sendo analisadas diversas dimensões do problema, como a preparação das distribuidoras para eventos críticos, o desempenho na prevenção dos seus efeitos e a execução do plano de contingência.

O professor Ildo Luiz Sauer, do IEE/USP (Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo), diz, no entanto, que a agência reguladora precisará rever sua filosofia de atuação.

"A Aneel foi criada para proteger os investimentos, não os consumidores. Então tem que mudar o papel dela e, talvez, descentralizar a regulação e a fiscalização para o âmbito local das grandes cidades, ou dos estados. Não dá para fazer tudo em Brasília."

Para o especialista, a falta de fiscalização in loco colabora para que as empresas façam apenas o mínimo para atender às exigências da agência reguladora.

Esta reportagem foi produzida durante o curso Transição Energética, com apoio da Enel

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