Medidor inteligente é aposta do setor elétrico para substituir modelo manual de leitura

Distribuidora verifica consumo via internet, e consumidores acompanham gastos por aplicativo

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Fernanda Paixão Matheus Ruffino
Rio de Janeiro e Paraty

Medidores inteligentes de energia começam a substituir as marcações mensais feitas manualmente por leituristas. Enel Brasil e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) fazem parte da iniciativa, com investimentos iniciais estimados em R$ 470 milhões.

Trata-se da versão digital e conectada à internet dos tradicionais relógios residenciais de energia. O aparelho acompanha o consumo em tempo real e disponibiliza as informações em detalhes ao consumidor e à distribuidora.

O cliente consegue acompanhar simultaneamente o consumo diário por meio do aplicativo para celular, que também disponibiliza a fatura.

Medidor antigo e o medidor novo
Medidor de energia antigos (à esq.) estão sendo substituídos por modelo inteligente, que permite leitura via internet - Divulgação

As instalações dos novos equipamentos na cidade de São Paulo começaram em 2021. Até outubro deste ano, a Enel distribuiu 500 mil medidores inteligentes por diferentes bairros da capital, como Perus, Pirituba, Freguesia do Ó e Brasilândia.

A troca dos aparelhos é gratuita —a legislação vigente não permite que esse tipo de equipamento seja cobrado. Ao todo, a concessionária atende a 8 milhões de clientes em 24 municípios da região metropolitana do estado.

"Temos também medidores inteligentes instalados em algumas unidades do poder público —como em subprefeituras— que têm sido parceiras importantes para a atuação das equipes da distribuidora nos bairros em que o projeto está ocorrendo atualmente", diz o comunicado enviado pela Enel São Paulo.

Rede inteligente da empresa Neoenergia instalada em poste
Transmissor da Neoenergia instalado em poste envia dados do consumo de energia via internet - Divulgação

No interior do estado, a concessionária Neoenergia também trocou mais de 78 mil medidores entre 2017 e 2020 nos municípios de Atibaia, Nazaré Paulista e Bom Jesus dos Perdões, no interior de São Paulo.
Além disso, a mudança foi feita em mais de 10 mil grandes consumidores, como indústrias e comércios. A companhia soma meio milhão de aparelhos nos estados de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e no Distrito Federal.

Segundo Ricardo Leite, superintendente de smart grids da Neoenergia, a empresa prevê a instalação de mais 23 mil medidores em toda a sua área de atuação em 2024. Outras distribuidoras, como Copel (PR), Cemig (MG) e Amazonas Energia, também têm modernizado os aparelhos de medição do gasto de luz.

Não há um calendário definido para as substituições em grande escala. A expectativa é seguir expandindo o uso dessa tecnologia no Brasil, na medida em que a regulamentação sobre o uso de medidores inteligentes avançar.

"A discussão está na agenda regulatória da Aneel para o biênio 2023-2024, com previsão de abertura de consultas públicas", diz o responsável por infraestrutura e redes da Enel São Paulo, Vincenzo Ruotolo. Além de ser o órgão regulador e fiscalizador, a agência destinou R$145 milhões para instalações de medidores por meio do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento.

Outras atribuições da autarquia são definir os padrões de fabricação dos medidores e verificar quais são os benefícios que os novos aparelhos trazem para a população.

A assessoria da Aneel informou, em nota, que o órgão tem na agenda regulatória atividades para avaliar aspectos positivos e negativos da implantação dos medidores inteligentes no Brasil. Antes da tomada de decisão, "está prevista a etapa de discussão com toda a sociedade e agentes afetados por meio de consulta pública."

A autarquia afirma ainda que o relatório feito pela equipe técnica sobre o tema sairá ainda neste ano.
O Procon-SP informou que, até outubro, das 14,7 mil reclamações registradas no estado de São Paulo referentes à Enel, apenas 31 são especificamente sobre o aumento da tarifa depois da retirada do medidor tradicional.

Paralelamente aos testes realizados na capital paulista, a CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara dos Deputados apresentou, em maio deste ano, uma proposta para criação do Plano Nacional de Redes Elétricas Inteligentes. O objetivo é substituir aparelhos eletromecânicos pelos novos medidores inteligentes em até 15 anos.

O texto, contudo, segue na Câmara após apresentação de recurso contra a tramitação conclusiva. Deputados apontaram que os custos para viabilização das mudanças no segmento energético podem recair sobre a população, e por isso são necessárias análises nas comissões de Minas e Energia, de Finanças e Tributação e de Defesa do Consumidor.

Há uma outra preocupação: o que vai ocorrer com os funcionários que fazem as medições manuais.
Segundo a Enel, os profissionais que atuam como leituristas poderão ser capacitados para exercer outras funções. "Além disso, os avanços tecnológicos criam novas demandas no mercado e, portanto, novas oportunidades de trabalho", diz a empresa, em nota. "Essas novas oportunidades incluem a fabricação e a instalação dos novos medidores."

Em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), a Enel São Paulo criou um curso gratuito para capacitar novos eletricistas. Ao todo, já foram formados 340 profissionais.

Funcionário da concessionária Copel, no Paraná, faz instalação de medidor inteligente de energia
Funcionário da concessionária Copel, no Paraná, faz instalação de medidor inteligente de energia - Divulgação

Conforme ocorrem avanços no tema, outras ações serão anunciadas por agentes do setor. É o caso, por exemplo, do acesso de pessoas em vulnerabilidade social ao novo aparelho inteligente.
O Governo Federal garante redução de até 65% das contas por meio da Tarifa Social de Energia Elétrica, atendendo consumidores de baixa renda, quilombolas e indígenas inscritos no Cadastro Único.

O consumo residencial representou 30% da distribuição em 2022. É o segundo maior, ficando atrás da classe industrial (36,2%), de acordo com o levantamento da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). O gasto de energia do Poder Público se restringe a 3%. Entretanto, esse setor teve o maior aumento em comparação a 2021: alta de 10,5%.

"Os principais desafios estão na necessidade de fomentar o mercado de tecnologia nacional, ampliando a oferta de fornecedores de equipamentos para a expansão das redes de comunicações com investimentos eficientes e equilíbrio tarifário para os clientes", afirma Ricardo Leite, superintendente de smart
grids da Neoenergia.

Esta reportagem foi produzida durante o curso Transição Energética, com apoio da Enel

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