Raízes sufocadas, calçadas estreitas e podas mal feitas: entenda por que árvores caem em SP

Múltiplos fatores podem contribuir para quedas, não só proximidade com muros e fiações

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São Paulo

Enquanto perpetuam calçadas irregulares, fiações emaranhadas e muros praticamente sufocando os indivíduos da flora paulistana, toda chuva na cidade é um risco para queda das árvores, como a tempestade que atingiu a capital nesta segunda-feira (8).

O Corpo de Bombeiros recebeu, até às 18h de ontem, cerca de 200 chamados para quedas de árvores na capital e na região metropolitana. Os chamados vieram, principalmente, dos bairros de Moema, Itaim Bibi, Bela Vista, Vila Mariana, Jardim Paulista, Vila Maria, Pinheiros, Ipiranga e República.

Mas por que as árvores caem com tanta frequência em São Paulo? Como tudo que ocorre na cidade, os fatores são múltiplos.

Árvore caída na Avenida Piassanguaba, Planalto Paulista, zona sul de São Paulo; a queda ocorreu na sexta (3) e, até agora, moradores reclamam que não foi removida
Árvore caída na Avenida Piassanguaba, Planalto Paulista, zona sul de São Paulo; a queda ocorreu na sexta (3) e, até agora, moradores reclamam que não foi removida - Ana Bottallo/Folhapress

Segundo Andressa Rhein, engenheira agrônoma e coordenadora da Divisão de Arborização Urbana da SVMA (Secretaria do Verde e Meio Ambiente) de São Paulo, é preciso lembrar que as árvores são organismos vivos, que apresentam interações, elas próprias, com o meio.

"As interferências [que elas sofrem] nas cidades são constantes, desde ações antrópicas, como podas mal feitas, afastamento de fiações, até colisões com veículos, que podem levar ao deterioramento das árvores devido a fungos e outras pragas", disse, lembrando também que um bom espaço para crescimento é fundamental.

Muitas vezes, porém, a situação vista na cidade é outra: árvores enormes com raízes que ocupam as vias, quebrando calçadas e até mesmo obstruindo a passagem de pedestres. "Em geral, o manejo e plantio das árvores em um contexto urbano precisa levar em consideração essas características, para que a árvore cresça tanto na copa quanto nas raízes em um canteiro adequado, sem o sufocamento", explica.

Com o asfalto recobrindo a parte subterrânea das árvores, as trocas tanto de gases e nutrientes quanto com a água da chuva são afetadas. "Isso acaba fazendo com que elas procurem um espaço adequado para se desenvolver, levantando calçadas, porque são organismos vivos. As raízes também servem para dar sustentação, então quando elas não conseguem crescer adequadamente, em uma situação de chuva forte com ventos, elas podem ser arrancadas", afirma Rhein.

Em relação aos muros e prédios, não há uma associação direta de que toda árvore próxima a um muro pode indicar um risco maior de queda. Porém, há um problema crônico de falta de profissionais para fazer a poda e o diagnóstico das árvores em risco, serviço ligado à Defesa Civil.

"É por isso que é importante que haja o monitoramento, a poda seja realizada corretamente, mas muitas vezes algumas dessas árvores maiores são plantadas até de maneira espontânea, são espécies exóticas que têm sucesso em um contexto urbano", explica a engenheira, reforçando que a SVMA só faz o monitoramento daquelas que estão em parques e áreas verdes, sendo o serviço de casas e ruas delegação da Secretaria de Segurança Urbana pelo número 156.

As principais destruidoras —e que são também campeãs de reclamações após temporais em SP— são as tipuanas (Tipuana tipu) e as figueiras (Ficus sp.) –algumas destas, centenárias, podem também apresentar riscos devido ao processo natural de envelhecimento da planta.

Detalhe de poda irregural (em tronco já grande e largo) de árvore tipuana no bairro Alto de Pinheiros - Eduardo Knapp - 4.mar.20/Folhapress

Rhein explica, ainda, que o Plano Municipal de Arborização Urbana prevê algumas ações como, por exemplo, elaborar um protocolo de avaliação de risco de queda e um plano emergencial de manejo arbóreo, inclusive com os procedimentos a serem adotados em situações de emergência como a registrada neste sábado, quando dezenas de vias ainda continuavam bloqueadas devido à queda de árvores. Porém, quem faz o monitoramento das ocorrências é a Defesa Civil.

Um adendo, aliás, é que, além de ser importante para garantir uma boa qualidade do ar e regulação da temperatura, o plano de arborização urbana é também fundamental em uma cidade com 11 milhões de habitantes. A manutenção de espaços verdes pode evitar, anualmente, cerca de 11 mil mortes associadas a danos à saúde.

E, por fim, vale ressaltar que se não fosse pelo aumento da temperatura global nos últimos anos, a ocorrência de eventos climáticos extremos seriam muito menos frequentes.

E, as árvores, assim como todos os outros seres vivos, também são vítimas do aquecimento global.

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