Executiva do Citibank processa liderança do banco por assédio sexual

Ardith Lindsey acusa instituição de tolerar uma cultura de trabalho nociva que permitiu que ela fosse assediada

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Emily Flitter
The New York Times

Uma funcionária do Citigroup recentemente processou o banco, acusando sua liderança de tolerar uma cultura de trabalho que permitiu que ela fosse assediada e abusada sexualmente por executivos. Trata-se de uma aplicação relevante de uma lei federal dos Estados Unidos de 2022 que anulou a arbitragem forçada para tais casos.

Ardith Lindsey, diretora executiva do Citi, alega que sua carreira de 15 anos no banco se tornou cada vez mais uma experiência "traumatizante", especialmente depois que ela terminou um relacionamento com um ex-supervisor. O supervisor, Mani Singh, então enviou dezenas de mensagens de texto ameaçadoras para ela, de acordo com o processo.

O processo de Lindsey, apresentado na semana passada, descreve um local de trabalho onde muitas mulheres lidavam com comentários sobre sexualidade e atratividade, e se preocupavam que, se reclamassem, suas carreiras seriam afetadas. Também destaca a necessidade de grandes empresas aplicarem consistentemente políticas destinadas a criar um ambiente acolhedor para todos os trabalhadores.

Ardith Lindsey in Long Branch, N.J
Adrith Lindsey, executiva do Citibank que processa banco por caso de assédio sexual - Maansi Srivastava - 10.nov.2023/The New York Times

Mark Costiglio, porta-voz do Citi, disse que o banco abriu uma investigação logo após Lindsey revelar o relacionamento em novembro de 2022 e reclamar do suposto comportamento de Singh.

"Quando ela nos relatou as mensagens de texto repugnantes, ela descreveu o relacionamento como tendo sido consensual", disse Costiglio. Ele acrescentou que, anos antes, o Citi havia investigado uma transação financeira pessoal entre os dois e que Lindsey descreveu Singh como um amigo na época.

Singh renunciou em novembro de 2022, antes que a investigação fosse concluída. Ele é mencionado no processo, mas não é um réu. Depois de ser diagnosticada com transtorno de estresse pós-traumático, Lindsey também saiu algumas semanas depois e está de licença por incapacidade de longo prazo. Costiglio disse que a investigação já foi concluída, mas se recusou a compartilhar suas conclusões.

"Nossas colegas podem se assegurar de que podem levantar preocupações sobre si mesmas ou sobre outros sem medo de retaliação, e ação decisiva deve ser tomada quando ocorre comportamento inaceitável", disse. Costiglio acrescentou que o Citi "defenderá as alegações de Lindsey no tribunal".

Singh não respondeu a pedidos detalhados de comentários por email e mensagem de texto.

Lindsey, 40, disse ao New York Times que esperava que o processo obrigasse o banco a tomar medidas contra o mau comportamento dos executivos. "Se isso pode acontecer comigo, quando eu estava em posição de destaque, então pode acontecer com qualquer pessoa", disse.

O processo de 45 páginas foi protocolado em tribunal aberto graças à uma lei federal de 2022 que impede as empresas de forçar tais casos a arbitragem. A lei foi aprovada depois que Gretchen Carlson, ex-apresentadora da Fox News, e várias outras mulheres processaram o ex-presidente do canal, Roger Ailes, por assédio sexual.

"Até o momento, este processo é o caso mais importante a expor como Wall Street encobre o abuso sexual e o assédio enraizados desde que o Congresso promulgou a lei para limitar a arbitragem forçada para sobreviventes", disse Linda Lipsen, CEO da American Association for Justice, um grupo de advogados de Washington.

Lindsey está buscando indenizações não especificadas, incluindo benefícios que ela teria recebido se não tivesse enfrentado o tratamento discriminatório, de acordo com o processo.

Lindsey ingressou no Citi aos 24 anos em 2007, quando o banco comprou a empresa de tecnologia de investimentos onde ela trabalhava. No Citi, ela trabalhou no setor de ações, uma unidade da divisão de mercados globais do banco.

No processo, Lindsey alega um caso de agressão sexual dois meses depois de chegar ao banco. Um gerente sênior, Rich Evans, a seguiu até em casa após uma festa de Natal, a beijou sem seu consentimento e depois se recusou a sair de seu apartamento, segundo ela. Ela contou ao seu chefe sobre o incidente no dia seguinte, mas, pelo que ela pôde perceber, nada mudou.

O Citi não tem registro de uma reclamação, disse Costiglio. Evans não respondeu aos pedidos de comentário.

Lindsey e outros 10 ex-funcionários, que falaram sob condição de anonimato, descreveram um ambiente de trabalho hostil para as funcionárias do Citi.

Em um dos casos, um jovem operador foi trabalhar em 2016 com uma calcinha fio dental feminina no bolso do paletó. Outros na mesa, incluindo operadores seniores, instigaram o funcionário júnior a exibir a calcinha várias vezes, ao som de gritos e aplausos, de acordo com duas pessoas que testemunharam o incidente.

Executivos de alto escalão da divisão de mercados globais do Citi souberam do episódio meses depois, quando uma funcionária disse —em um evento para mulheres discutirem maneiras de se sentirem mais confortáveis no pregão— que seria bom se os homens não ficassem agitando calcinhas, de acordo com uma pessoa que participou da reunião.

Costiglio confirmou ao Times que um trader exibiu a roupa íntima e foi demitido depois que altos executivos descobriram. Ele acrescentou que o chefe do jovem trader foi "disciplinado" por não informar seus superiores sobre o incidente.

Em sua ação judicial, Lindsey descreveu alguns aspectos do incidente e alegou que os traders posteriormente evitaram a mulher que eles acreditavam ter mencionado o incidente da roupa íntima.

Lindsey também descreveu outros casos de assédio, incluindo em relação a uma diretora administrativa do setor de ações, Jacqueline Moran. Por anos, colegas homens faziam piadas sobre sua sexualidade —Moran é lésbica— e a menosprezavam, de acordo com alegações na ação judicial e duas pessoas com conhecimento de suas experiências.

Mais tarde, quando Moran foi demitida, ela informou os funcionários do Citi sobre o assédio sexual que havia sofrido, disseram Lindsey e outra pessoa com conhecimento do assunto. Moran disse que um alto executivo rotineiramente a apresentava aos clientes do Citi como "a mulher com quem eu vou a bares gays", de acordo com duas pessoas com conhecimento do assunto.

Moran se recusou a comentar. Costiglio se recusou a comentar sobre as alegações relacionadas a Moran.

Singh, cujo nome legal é Manvinder Bhathal, começou no Citi em 2006 e se mudou de Londres para Nova York em 2011. Em 2014, ele era um executivo sênior de vendas no setor de ações do Citi, onde Lindsey também trabalhava.

Sob a estrutura organizacional em "matriz" do Citi —na qual traders e vendedores geralmente têm chefes diretos e indiretos— Singh era o gerente de matriz de Lindsey, de acordo com sua ação judicial.

Em 2017, Singh tinha influência nas carreiras de quase 100 pessoas, incluindo Lindsey, e podia impedir promoções ou demiti-las, de acordo com a ação judicial.

Lindsey foi promovida a diretora em 2016. Nessa época, Singh começou a pressioná-la para um relacionamento sexual, de acordo com sua ação judicial, "usando sua autoridade e ameaças para prejudicar Lindsey e sua família".

Três colegas que trabalharam com eles acreditavam que os dois estavam em um relacionamento em 2018. Eles não viram sinais de coerção em relação a Lindsey, disseram eles, mas acreditavam que Singh estava violando o código de conduta do Citi, que alerta contra tais relacionamentos.

Em 6 de novembro de 2022, depois que Lindsey disse a Singh que estava terminando o relacionamento, ele começou a ameaçar contar aos chefes deles no Citi, de acordo com a ação judicial.

"Acabou para você", disse Singh em uma mensagem de texto vista pelo Times, declarando que compartilharia detalhes sobre o relacionamento deles com outros gerentes. "Já era".

Não está claro o que Singh disse aos superiores. Mas depois de receber dezenas de mensagens de texto e ligações de Singh ao longo de quatro dias, em 10 de novembro, Lindsey informou os gerentes superiores sobre o relacionamento e fez uma denúncia ao departamento de recursos humanos, de acordo com a ação judicial.

Em 15 de novembro de 2022, Singh renunciou ao posto no banco. Seu chefe, Tim Gately, chefe de vendas do Citi para as Américas no setor de ações, disse aos funcionários que Singh havia renunciado por "motivos pessoais e familiares", de acordo com a ação de Lindsey. "Estamos todos muito tristes por vê-lo partir", acrescentou, "mas foi decisão dele e desejamos a ele tudo de bom".

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