Descrição de chapéu Consciência Negra

Professora da periferia cria loja virtual em que boneca negra é a estrela; veja vídeo

Série da Folha mostra que discriminação racial persiste no mercado de trabalho, na universidade e na política

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São Paulo

Há cinco anos, Jozi Belisiario saiu do trabalho em São Paulo com uma missão que parecia simples: encontrar uma boneca negra para dar de presente de aniversário.

"O máximo que encontrei foi uma boneca com um tom de pele mais bronzeado, mas ela era branca e de cabelo liso. Não era a que eu queria. Fiquei frustrada e acabei comprando uma blusa", conta.

Jozi aparece segurando uma boneca. Ambas são negras e tem cabelo black power.
Jozi Belisiario, da Loja Aneesa, que vende bonecas negras estilizadas - Folhapress

A professora da rede pública de 35 anos só achou a boneca que procurava pela internet, importada. "Quando ela chegou, fui até o correio e não aguentei, já tirei do pacote e fiquei apaixonada. Batizei a boneca de Aneesa e a levava para todos os lugares. As pessoas me abordavam para perguntar sobre ela, me pediam encomendas."

Os pedidos foram aumentando e assim surgiu a Loja Aneesa, que ela define como um ecommerce em que uma boneca negra é finalmente protagonista. Após participar, em 2021 do reality show Shark Tank Brasil, ela recebeu aportes de investidoras e atraiu clientes e parceiros para o site.

Muitas mulheres adultas a procuram para comprar uma boneca, realizando um sonho de infância, conta a empreendedora, neste vídeo que gravou para a TV Folha:

Educadora, negra e periférica, Belisiario tenta construir um caminho para aumentar a representatividade de negras e negros. Ao longo das últimas semanas, a Folha publicou uma série de reportagens mostrando que os dados da discriminação racial no Brasil ainda preocupam, a partir do livro "Números da Discriminação Racial", dos pesquisadores do Insper Michael França (também colunista do jornal) e Alysson Portella, lançado em outubro.

O estudo foi realizado por meio de fontes como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e o Repositório de Dados Eleitorais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a partir de uma série de 40 anos com números sobre renda, educação e representatividade.

Os economistas apontaram, por exemplo, que, com mesma escolaridade e experiência, negros ganham 13% menos que brancos —uma condição que pouco mudou nas últimas quatro décadas.

Em outro estudo, eles afirmam que, apesar das políticas afirmativas, a desigualdade entre negros e brancos matriculados no ensino superior parou de cair e até chegou a ter um leve aumento em 2021.

Após quase 20 anos de avanços, o número de jovens negros com idades entre 19 e 24 anos matriculados no ensino superior teve uma queda de 2020 para 2021 (de 16,75% para 16,05%), enquanto a taxa de alunos brancos aumentou de 29,3% para 30,5% no período.

Também concluíram que apesar de os partidos de esquerda lançarem mais candidatos negros que os de direita, todas as correntes falham no número de pretos e pardos eleitos.

Em 2018, apesar de um maior número de candidatos, menos negros foram eleitos na esquerda: 40 de 152 (26,3%); no centro, foram 15 de 65 (23,1%); na direita, foram 69 de 293 (23,6%).

"Tudo isso representa muita coisa. Estamos falando de um gap que se mantém, como no caso do mercado de trabalho, estático por pelo menos 40 anos. Passamos pela redemocratização, por governos de esquerda e direita e ele se mantém constante. Visivelmente fracassamos nas políticas públicas de inclusão", resume França.

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