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WeWork entra com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos

Empresa de aluguel de escritórios busca reestruturar mais de US$ 13 bilhões em dívidas

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Sujeet Indap Eric Platt
Nova York | Financial Times

A WeWork, startup de coworking fundada por Adam Neumann e financiada pelo SoftBank, deu entrada nesta segunda-feira (6) no Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos, semelhante a um pedido de recuperação judicial.

A empresa que se propôs a revolucionar o mercado imobiliário de escritórios não conseguiu escapar da combinação de aluguéis caros contratados antes da pandemia de Covid-19 com as baixas taxas de ocupação de seus escritórios após a popularização do trabalho híbrido.

A WeWork e Adam Neumann foram símbolos de empreendedores carismáticos que conseguiam escolher um setor aparentemente monótono, aplicar uma camada de tecnologia e atrair capital de risco para obter uma avaliação de mais de um bilhão de dólares.

Mas à medida que as perdas se acumulavam devido a uma queda em cascata no mercado imobiliário de escritórios e as taxas de juros subiam nos últimos dois anos, a WeWork passou a representar os piores excessos da era do dinheiro barato.

Logo do WeWork; empresa hoje está avaliada em US$ 121 milhões - Patrick T. Fallon/AFP

Nesta segunda-feira (6), Neumann, que deixou o cargo de CEO da empresa em 2019, emitiu um comunicado dizendo que a iminente falência era "decepcionante".

"Foi desafiador para mim assistir de fora desde 2019, enquanto a WeWork deixava de aproveitar um produto que é mais relevante hoje do que nunca", disse, e prevendo que uma reorganização vai "permitir que a WeWork se reerga com sucesso".

A WeWork disse ter chegado a um acordo com quase todos os seus credores para converter US$ 3 bilhões (R$ 14,6 bilhões) em empréstimos e títulos existentes em participação acionária na empresa reorganizada.

O processo também permite que a WeWork encerre contratos de aluguel antecipadamente com pouca penalidade financeira. A empresa está buscando reestruturar mais de US$ 13 bilhões (R$ 63 bilhões) em obrigações com aluguéis.

Em setembro, o atual CEO da WeWork, David Tolley, informou aos proprietários de imóveis que a empresa estava buscando reestruturar quase todos os seus contratos de aluguel, citando um "portfólio de aluguel inflexível e de alto custo" que era consequência de "um período de crescimento insustentável".

"Estamos muito satisfeitos com a abordagem realista que os proprietários dos imóveis estão adotando nessas negociações e o valor que eles atribuem à presença da WeWork nos edifícios", disse Tolley ao Financial Times em uma entrevista no domingo (5). "Certamente algumas dessas negociações serão controversas e muitas não serão."

No auge, no início de 2019, a WeWork era avaliada em US$ 47 bilhões, com Adam Neumann sendo aclamado pela elite de Wall Street que queria fazer parte de sua planejada IPO (oferta pública inicial de ações).

Adam Neumann, fundador e ex-CEO do WeWork, durante evento em 2017 - Eduardo Munoz - 15.mai.2017/Reuters

Com cerca de US$ 16 bilhões em financiamento de capital próprio e dívida da SoftBank e seu Vision Fund, a empresa adquiriu escritórios ao redor do mundo para impulsionar o crescimento da receita, acreditando que empresas, desde pequenas startups até multinacionais da Fortune 500, prefeririam imóveis flexíveis a contratos de aluguel longos.

Neumann buscou transformar a WeWork em uma marca de estilo de vida, com ramificações em coliving e educação, e uma missão de "elevar a consciência do mundo". Mas a empresa, que queimava dinheiro, não conseguiu gerar lucros que correspondessem à sua visão.

A WeWork apresentou um prospecto preliminar de IPO em agosto de 2019, mas detalhes de suas perdas e preocupações com governança corporativa assustaram os investidores de Wall Street. A oferta foi cancelada e Neumann deixou o cargo de CEO naquele ano.

Em 2021, a WeWork e a SoftBank pagaram várias centenas de milhões de dólares para resolver litígios com Neumann surgidos após sua saída.

A WeWork acabou abrindo capital em 2021 por meio de uma fusão com uma empresa de aquisição de propósito específico (Spac) com uma avaliação empresarial de US$ 9 bilhões. Na época, a empresa projetou que até 2024 poderia obter US$ 2 bilhões em lucro operacional em dinheiro.

Mas em seu trimestre mais recente, sua taxa de ocupação de 72% ficou de 10 a 15 pontos percentuais abaixo das previsões e, nos primeiros seis meses deste ano, os resultados operacionais continuaram negativos.

A empresa concluiu uma reestruturação do balanço patrimonial no início deste ano para reduzir seu saldo líquido de dívida financeira em US$ 1,5 bilhão e adiar vencimentos próximos para 2027, um acordo que rapidamente se mostrou insuficiente.

A capitalização de mercado da empresa caiu para apenas US$ 40 milhões e espera-se que os acionistas existentes tenham suas ações canceladas com o pedido. Seus títulos estão sendo negociados a preços muito baixos.

O pedido de recuperação judicial da WeWork é o mais recente golpe para o setor imobiliário de escritórios, embora especialistas do setor tenham dito ao FT que os escritórios da empresa geralmente estavam em prédios e áreas de segunda categoria que já estavam enfrentando dificuldades. A empresa disse que suas operações internacionais não seriam afetadas pelo pedido de falência nos EUA.

De acordo com seus registros de valores mobiliários, a WeWork tem mais de 700 espaços ao redor do mundo, com mais de 3,7 milhões de metros quadrados disponíveis para aluguel. Cerca de metade disso estava nos EUA e no Canadá.

Tolley disse que espera que a reestruturação, que foi registrada em um tribunal federal de Nova Jersey, dure menos de sete meses, aproximadamente o tempo em que as leis de falência dos EUA exigem que as rejeições de contratos de aluguel sejam finalizadas.

"Estamos seguindo a tendência para onde o trabalho está indo. Damos às pessoas um motivo para irem ao escritório. Estamos abertos para negócios", disse ele.

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