Bolsa sobe 1% e tem novo recorde; dólar cai para R$ 4,89

Mercado financeiro retomou otimismo com juros americanos nesta quinta (21)

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São Paulo

O mercado financeiro retomou o otimismo nesta quinta-feira (21). Depois de ceder 0,79% na quarta (20), o Ibovespa voltou a subir neste pregão, e fechou em alta de 1,05%, a 132.182 pontos, um novo recorde nominal de fechamento. Nos pregões de segunda (18) e terça (19), o índice também renovou a marca histórica.

Em termos reais, porém, o recorde está longe. Se for considerada a inflação, o pico do Ibovespa seria de 177.098 pontos, quando corrigido pelo IPCA atual, e de 212.305 pontos, quando corrigido pelo IGP-M, ambos atingidos em maio de 2008, antes da crise financeira. Os cálculos são da Economatica.

Já o dólar fechou em queda de 0,49%, a R$ 4,8868. Na véspera, a divisa americana subiu 0,98%, a R$ 4,910, com o temor de investidores quanto ao início do ciclo de cortes nos juros dos Estados Unidos, que estão na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Hoje, porém, dados da maior economia do mundo reforçaram a aposta de investidores em uma queda nas taxas em março, mesmo com a sinalização de autoridades monetárias de que o afrouxo deve vir mais tarde.

 painel mostra a oscilação das ações na Bolsa de Valores de Xangai, China
Mercado financeiro: painel mostra a oscilação das ações na Bolsa de Valores de Xangai, China. Nesta quinta (21), investidores operam de olho em dados econômicos americanos. - Claro Cortes IV/Reuters

Nesta quinta, investidores repercutiram os dados de auxílio de desemprego e do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre dos EUA e o que eles podem implicar à política monetária americana.

O número de americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego teve leve (2.000) alta na semana passada, para 205 mil, sugerindo uma força subjacente na economia à medida que o ano se encerra. Economistas consultados pela Reuters previam 215 mil pedidos.

Embora os dados de pedidos de auxílio sejam voláteis nessa época do ano por causa dos feriados, eles permanecem consistentes com um mercado de trabalho razoavelmente saudável, que deve manter a economia longe de uma recessão no próximo ano. Pelo lado negativo, eles podem gerar inflação e frear o esperado ciclo de cortes nos juros americanos.

Já na leitura final do PIB americano do terceiro trimestre, o governo confirmou que o crescimento econômico acelerou a uma taxa anualizada de 4,9%, em dado revisado para baixo em relação ao ritmo de 5,2% informado anteriormente. Economistas esperavam que não houve revisão, mas esse ainda foi o ritmo de expansão mais rápido desde o quarto trimestre de 2021.

A economia, que cresceu 2,1% no segundo trimestre, tem se expandido a um ritmo muito acima do que as autoridades do Fed consideram como a taxa de crescimento não inflacionária de cerca de 1,8%. No entanto, o ímpeto parece ter esvaído nos últimos três meses do ano, à medida que os gastos dos consumidores diminuem. Para o quarto trimestre, as estimativas de crescimento variam de 1,1% a 2,7%.

"Esse nível de atividade um pouco mais fraco do que o estimado renovou as apostas dos investidores sobre a condução da política monetária americana um pouco menos apertada", diz Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

A grande maioria do mercado (71,3%, segundo a plataforma CME) aposta que o juro americano será reduzido em 0,25 ponto percentual em maio. Ontem, esse percentual era de 69,3%.

"Tudo isso corrobora a visão de que o Fed pode derrubar os juros mais rápido e até mais vezes no ano que vem, e isso acabou enfraquecendo o dólar na sessão", afirma Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

Segundo Beyruti, o real também pode ter se beneficiado da mensagem mais conservadora que tem sido passada pelo BC quanto à política monetária brasileira. Nesta quinta, o presidente Roberto Campos Neto disse que o ritmo de cortes na Selic não deve aumentar nas próximas duas reuniões.

Dessa forma, com mais dois cortes na Selic, de 0,50 ponto percentual cada um, nas reuniões de janeiro e março, a taxa básica de juros irá de 11,75% para 10,75%.

Juros mais altos no Brasil beneficiam o real ante o dólar, dada a diferença entre as taxas dos países. Investidores tomam dinheiro na taxa americana, mais baixa, e o investem na taxa brasileira, mais alta, em uma operação conhecida como carry trade,

"A queda do dólar hoje, se explica pelo fluxo de capital estrangeiro entrando no país, que continua forte, justamente contribuindo para a valorização do Ibovespa. É o gringo comprando Brasil", diz Anderson Silva, diretor de renda variável e sócio da GT Capital.

Em coletiva de imprensa, Campos Neto enfatizou que no momento em que o BC chegar ao fim do ciclo de corte de juros, a taxa básica ainda se encontrará em campo restritivo, ou seja, não será um estímulo à economia.

Segundo ele, os núcleos de inflação no Brasil estão melhorando no curto prazo, mas a inflação cheia ainda está longe da meta, o que justificaria o juro mais alto. "Olhando o conjunto, a gente entende que o ritmo de queda (da Selic) é apropriado", afirmou durante a apresentação do relatório de inflação do BC.

Entre os destaques do relatório, o BC elevou de 2,9% para 3,0% a projeção de alta para o PIB em 2023, mas reduziu de 1,8% para 1,7% a projeção de avanço em 2024. O documento também trouxe uma forte revisão, para melhor, da chance de a inflação estourar o teto da meta neste ano, com o BC passando a projetar que a probabilidade de o IPCA superar o limite superior de 4,75% da banda de tolerância está em 17%, contra 67% estimados em setembro.

Ao apresentar os números, Campos Neto voltou a indicar que eventual piora da área fiscal do governo não pressupõe uma reação mecânica da política monetária. Segundo ele, se o fiscal "for um pouquinho pior", mas o governo seguir realizando reformas econômicas, com o entendimento do mercado, esta piora não seria "tão relevante".

O presidente do BC também pontuou que as taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais longos "caíram bastante", o que é relevante para o investimento produtivo no Brasil.

"Se a gente olhar os juros de [janeiro de] 2027, o fechamento de ontem [quarta], foi 9,68%. Ou seja, os juros longos já caíram bastante", disse Campos Neto. "A última vez que este mesmo juro estava em 9,68%, se não me engano a Selic estava entre 8,50% e 9%. Então, este juro, que é relevante para o investimento, demonstrou uma queda compatível com um tempo atrás, quando a Selic estava bem mais baixa que está hoje."

Tais comentários deram força às taxas dos juros futuros no pregão. O DI para janeiro de 2025 foi para 10,06%, ante 10,05% do ajuste anterior, enquanto o DI para janeiro de 2026 subiu para 9,61%, ante 9,60% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 fechou em 9,72%, ante 9,68%.

Entre os contratos mais longos, as altas foram mais expressivas. A taxa DI para janeiro de 2028 subiu para em 9,96%, ante 9,92%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,33%, de 10,31% na véspera.

Nos EUA, a alta no rendimento do Treasury (título do Tesouro dos EUA) de dez anos —referência global para decisões de investimento— migraram para o positivo no meio da tarde, o que também deu um impulso às taxas dos DIs no Brasil. O juro rendimento do Treasury de dez anos fechou em 3,89%, de 3,86% na quarta.

Campos Neto também falou sobre os juros estrangeiros. "Ele atentou para a grande diferença entre o que o mercado está entendendo e o que o Fed está falando nesse momento", diz Carla, da CM Capital.

Ontem, Patrick Harker, presidente do Fed da Filadélfia, disse que a autoridade monetária não vai cortar taxas em um futuro próximo. "Precisamos segurar os níveis de juros por enquanto", disse a uma rádio americana.

Também na quarta, o banco americano Morgan Stanley disse não ver um corte no primeiro trimestre e projeta um alívio monetário apenas em junho."Nossas projeções de inflação indicam uma aceleração dos preços nos próximos dois meses, por isso acreditamos que o mercado esteja antecipando demais um corte de juros em março", disse o banco em relatório.

Os posicionamentos de Harker e Morgan Stanley foram o suficiente para reverter a tendência de alta do mercado acionário global. Ontem, em Wall Street, o S&P 500 caiu 1,47% e o Dow Jones, 1,27%. Já o Nasdaq perdeu 1,50%.

Nesta quinta, Joachim Nagel, membro do BCE (Banco Central Europeu) também abordou o tema. "Eu diria a todos que estão especulando sobre um corte iminente da taxa de juros: tenham cuidado, algumas pessoas já calcularam mal."

Segundo Nagel, a autoridade monetária da zona do euro deve manter as taxas de juros em níveis recordes para conter a inflação, mas que elas provavelmente atingiram seu pico. A expectativa de investidores é de uma revisão na política monetária da região já em março ou abril.

Mesmo com as advertências de cautela, os índices acionários se recuperam na sessão. O S&P 500 subiu 1,03% e o Dow Jones, 0,87%. O Nasdaq teve alta de 1,26%.

Na sexta (22), será a vez do número mais aguardado da semana, o PCE (inflação americana de consumo pessoal), o índice de preços mais acompanhado pelo Fed (banco central dos EUA). A expectativa é que o índice desacelere de 3% em outubro para 2,8% em novembro. A meta do Fed para a inflação é de 2%. Quanto mais longe da meta, há menos chances da autoridade cortar juros na primeira metade de 2024.

Vale (VALE3) puxa Ibovespa

Na Bolsa brasileira, as ações da Vale puxaram a alta do Ibovespa nesta quinta. Os papéis da mineradora subiram 3,32%, a R$ 76,97 cada um, diante da alta de mais de 2% do minério de ferro negociado em Singapura, com estoques apertados e expectativas de demanda chinesa robusta. Ações de siderúrgicas também avançaram, com Usiminas ganhando 3,75%, a R$ 9,13.

(Com Reuters)

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