Descrição de chapéu Financial Times China

Fundador misterioso da Shein deve ficar sob holofotes após oferta de ações

Sky Xu, magnata chinês por trás do site que caiu no gosto dos jovens, saiu da pobreza e prefere a discrição

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Eleanor Olcott
Hong Kong | Financial Times

Sky Xu, o reservado bilionário chinês fundador do grupo de fast fashion Shein, ficará em destaque quando o grupo de ecommerce, já avaliado em US$ 100 bilhões, lançar sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em 2024.

Há poucas informações disponíveis na internet sobre o homem cuja empresa teve um crescimento explosivo possibilitado pelas redes sociais.

O site da Shein não possui nenhuma fotografia de Xu, que nunca concedeu uma entrevista à imprensa nem publicou na internet nos últimos oito anos. Ele passa tão despercebido que os funcionários brincam que não o reconhecem no escritório, de acordo com várias pessoas que trabalharam com ele nos últimos anos.

Consumidores com sacolas da Shein em frente à primeira loja permanente do ecommerce, em Tóquio; fundador da empresa, Sky Xu, ficará em destaque após IPO - Yuichi Yamazaki - 13.nov.2022/AFP

Nos últimos anos, o bilionário mudou seu nome em inglês de Chris para Sky, deixando a equipe e os investidores confusos sobre como devem chamá-lo. Uma pessoa que trabalhou com ele o descreveu como uma pessoa de óculos e "tímida", enquanto outra diz que ele é um pouco "rude".

No entanto, para Xu, a estratégia de permanecer em silêncio foi validada pelo recente escrutínio dos magnatas chineses por parte de Pequim e Washington, disse alguém familiarizado com suas ideias.

A repreensão pública de Pequim a Jack Ma, o carismático fundador do Alibaba, cuja visão empreendedora Xu uma vez buscou replicar, acendeu um alerta nos círculos empresariais chineses.

A Shein foi fundada em 2008, mas levou uma década para as vendas da empresa, que usa um modelo disruptivo de envio de mercadorias diretamente das fábricas na China para os compradores no Ocidente, decolarem.

Os compradores da geração Z têm se voltado ao grupo em busca de roupas baratas e acessórios para atualizar constantemente seus guarda-roupas em um mundo onde é tabu aparecer online usando a mesma roupa mais de uma vez.

A pandemia acelerou o crescimento da Shein, com a receita saltando de US$ 1,3 bilhão em 2018 para US$ 22,7 bilhões em 2022, de acordo com uma apresentação para investidores vista pelo Financial Times. No primeiro semestre deste ano, ela gerou US$ 14,7 bilhões em receita, superando a Zara, segundo investidores informados sobre o assunto. A empresa se recusou a comentar.

Sua rápida ascensão gerou críticas sobre suas práticas de cadeia de suprimentos e o impacto ambiental de suas roupas baratas e descartáveis. O que mais preocupa os investidores é que políticos de Washington consideraram fechar uma brecha tributária que permite que ela venda a maioria de seus produtos sem incorrer em tarifas de importação.

No entanto, a maior observação não interrompeu suas ambições de abrir capital. Em um mercado de IPOs lento, os bancos de investimento, famintos por negócios, têm se esforçado para obter uma fatia da listagem da Shein. Seus investidores incluem o fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala, o grupo de capital de risco Sequoia China e o grupo de private equity General Atlantic.

A empresa apresentou documentos confidenciais ao regulador de valores mobiliários dos EUA. Avaliada em US$ 100 bilhões durante uma rodada de captação de recursos em abril de 2022, investidores informados sobre seus planos de listagem disseram que ela está mirando uma avaliação um pouco mais modesta de US$ 90 bilhões —mas uma que, se bem-sucedida, ainda a tornaria uma das maiores listagens dos EUA na última década.

É também significativamente maior do que a avaliação de US$ 66 bilhões após uma captação de recursos em maio.

A Shein contratou o ex-banqueiro de investimentos do Bear Stearns, Donald Tang, e o ex-CEO internacional do SoftBank Group, Marcelo Claure, para serem as faces externas da empresa.

Xu não fala inglês e pouco se sabe publicamente sobre ele. Agora baseado em Singapura, seu escritório no Marina Bay Financial Centre tem vista para o Estreito de Singapura, onde centenas de navios de carga aguardam descarregamento.

Entre tarefas, Xu aproveita para jogar golfe com outros empresários chineses que se mudaram para Singapura nos últimos anos, de acordo com uma pessoa próxima a ele.

É uma mudança radical de seu local de nascimento em Zibo, uma cidade manufatureira na província de Shandong, na China, onde seus pais eram trabalhadores em fábricas estatais.

Xu, cujo nome chinês é Xu Yangtian, vem de "um contexto extremamente pobre", acrescentou a pessoa. Sua mãe era uma trabalhadora da indústria de vestuário, fato que mais tarde o ajudaria quando ele se uniu a trabalhadores de fábricas de roupas para estabelecer as cadeias de suprimentos da Shein.

Enquanto estudava comércio internacional na Universidade de Ciência e Tecnologia de Qingdao, em meados dos anos 2000 —logo após a China se tornar membro da OMC (Organização Mundial do Comércio)— Xu testemunhou seu país se tornar a fábrica do mundo graças à sua vasta força de trabalho qualificada e infraestrutura sólida.

Ele foi rápido em reconhecer o potencial da internet para revolucionar o comércio, observando o sucesso do Alibaba (dono do AliExpress, por exemplo) em conquistar a confiança dos compradores por meio de sua diversidade de produtos e avaliações dos clientes.

Mas enquanto o Alibaba vendia produtos chineses com desconto para compradores chineses, Xu buscou replicar esse modelo para o mundo exterior.

Ele começou apostando em sites que vendiam de tudo, de velas de ignição a juntas, primeiro encontrando um comprador estrangeiro e depois um fabricante em Qingdao para cumprir o pedido, de acordo com alguém próximo à Shein. Foi o início de um modelo de pedidos baseado em baixo investimento de ativos e em pequenas quantidades, que a empresa mais tarde adaptaria.

Após concluir os estudos, Xu mudou-se para Nanjing e aproveitou a base de fabricação do sul de Guangzhou, mudando seu foco de produtos industriais para produtos de consumo.

Ele começou com óculos e bules de chá, mas eventualmente criou a Sheinside, vendendo vestidos de noiva baratos para noivas nos EUA. Essa empresa eventualmente se transformaria na Shein.

A Shein conquistou investidores de alto perfil com a proposta de que possui uma receita mágica que combina a habilidade de fabricação chinesa com algoritmos sofisticados capazes de antecipar as mudanças nos gostos dos consumidores.

Seus algoritmos vasculham as redes sociais e sites de compras online, gerando novas ideias de design com base nos itens em alta. Essas ideias são então repassadas aos designers, que enviam os estilos para fabricantes contratados em Guangzhou, que inicialmente fazem pequenos pedidos antes de aumentar a produção se o produto vender bem.

Esse modelo representa uma desvantagem para os fabricantes que preferem grandes pedidos do mesmo produto, pois pequenos lotes geralmente significam prejuízo. No entanto, a Shein argumenta que suas fábricas estão dispostas a arriscar porque um produto pode se tornar viral e porque ela paga em dia.

Mas nos últimos meses, o encanto da empresa começou a diminuir. O crescimento da Shein nos EUA está desacelerando como resultado de um novo concorrente chinês bem financiado que está replicando seu modelo de envio da fábrica para o comprador.

Após o lançamento em 2022, o marketplace Temu, de propriedade da Pinduoduo, avançou agressivamente nos EUA por meio de subsídios generosos e um enorme orçamento de marketing em redes sociais.

Analistas da Bernstein estimam que o Temu gerou US$ 1,8 bilhão em receita no terceiro trimestre deste ano, prevendo que até 2025 a receita bruta anual de mercadorias —o valor total dos bens vendidos em sua plataforma— possa chegar a US$ 50 bilhões.

"Em pouco mais de um ano, o Temu expandiu sua base de usuários para rivalizar com a da Shein. Ele tem o dobro do número de usuários ativos mensais da Shein nos EUA. Esperamos que o Temu ofereça uma forte concorrência para a comerciante de roupas em mercados globais", disse o analista da Bernstein, Robin Zhu.

Enquanto isso, funcionários da empresa têm reclamado em particular que a Shein está adotando uma abordagem cada vez mais aleatória para continuar crescendo a todo custo. Nos últimos meses, a Shein se uniu ao grupo Forever 21 e adquiriu a marca britânica Missguided. Ela está expandindo rapidamente na Turquia e no Brasil e está diversificando sua cadeia de suprimentos longe da China.

Mas para Xu, não há limite para suas ambições globais. "Ele está apenas começando. Para ele, o mundo está à sua frente. Um vasto mercado ainda está para ser conquistado", disse a pessoa próxima a ele.

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