Descrição de chapéu Agrofolha China Argentina

Milho para China impulsiona saldo comercial recorde do Brasil de quase US$ 100 bi

Safra de soja histórica e queda de preços de produtos importados também ajudam a explicar resultado

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Brasília

A China se consolidou como o principal comprador de milho do Brasil e vai ajudar o país a encerrar 2023 com saldo recorde na balança comercial.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prevê superávit —diferença entre exportações e importações— de US$ 93 bilhões, mas projeções mais otimistas já falam em até US$ 100 bilhões.

A safra histórica de soja, a seca na Argentina e a queda de preços dos produtos importados também ajudam a explicar o desempenho brasileiro acima das previsões iniciais. Será o maior resultado desde o início da série, em 1989.

Agricultores trabalham em produção de milho na China - Jia Zaixing - 5.out.23/Xinhua

Em abril, a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), projetava um superávit de US$ 84,1 bilhões no ano. O dado foi revisado para cima em outubro e continua com viés de alta.

Para o superávit de US$ 93 bilhões, o governo estima US$ 334 bilhões em exportação e US$ 241 bilhões em importação. Isso representaria um aumento de 51% em comparação com o saldo fechado de 2022 —US$ 61,5 bilhões— marca que já havia sido superada em agosto deste ano no acumulado em oito meses.

Os dados até novembro, divulgados nesta sexta-feira (1º), mostram um ritmo ainda mais forte, com crescimento de 56% no saldo comercial.

No acumulado em 11 meses, a cifra chegou a US$ 89,3 bilhões —US$ 310,6 bilhões em exportação e US$ 221,3 bilhões em importação.

O resultado expressivo da balança comercial brasileira em 2023 vem sendo puxado por um aumento significativo no volume de milho exportado para a China.

Mais de 11 milhões de toneladas do cereal brasileiro tiveram o país asiático como destino neste ano. Japão e Irã são outros grandes importadores.

O produto só passou a ser comercializado com os chineses em novembro de 2022. Um mês depois, as vendas já atingiam 1,1 milhão de toneladas.

O Brasil preencheu uma lacuna provocada pelas interrupções causadas pela guerra na Ucrânia, grande exportador de grãos, e pela relação conturbada entre Estados Unidos e China.

Entre janeiro e novembro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, houve um aumento de 34,4% no volume de exportações de milho do Brasil a todos os parceiros comerciais, reforçando o perfil do país como grande fornecedor global de commodities.

A alta das exportações também está ligada a safras recordes tanto de milho quanto de soja —principal produto vendido pelo Brasil.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) prevê uma safra de aproximadamente 162 milhões de toneladas de soja, enquanto os números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam para cerca de 150 milhões.

Houve, de janeiro a novembro, ante o mesmo período do ano anterior, um aumento de 27% no volume de soja exportada. Colaborou para esse crescimento o aumento de venda dos grãos para a Argentina, que foi afetada pela seca e teve de recorrer ao mercado externo para complementar sua demanda do produto para cumprir contratos internacionais.

"Temos resultados positivos no comércio com a Argentina neste ano, mas reconhecemos que muitos setores encontram dificuldades para acessar o mercado argentino pela situação econômica particular que vive o país", diz Tatiana Prazeres, secretária da Secex.

Segundo ela, preço é outra variável importante para compreender a balança comercial do Brasil neste ano.

Temos uma queda de importações explicada, sobretudo, por queda de preço nos produtos que o Brasil importa. Significa que nós pagamos menos para importar basicamente a mesma quantidade

Tatiana Prazeres

secretária da Secex

"No ano passado, nós tínhamos patamares elevados de preços de adubos e fertilizantes em razão dos impactos da guerra [na Ucrânia]. Houve uma acomodação de preços internacionais", afirma.

Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) responsável pelo Icomex (Indicador de Comércio Exterior), aponta também que não se concretizou a expectativa de forte desaceleração das economias avançadas, como os Estados Unidos, por causa do aumento de juros.

A especialista ainda cita o aumento de exportação de petróleo, a retomada da venda de minério de ferro e o câmbio favorável como fatores que ajudam a explicar o desempenho da balança brasileira no ano.

De acordo com a secretária da Secex, uma série de variáveis positivas está associada a um saldo comercial robusto: "Um déficit menor em transações correntes, uma moeda forte, a contribuição que a moeda forte dá no combate à inflação e o espaço que isso cria para que haja uma redução da taxa de juros".

O governo ainda não tem uma projeção oficial da balança comercial para 2024, mas sinaliza que não espera o mesmo vigor demonstrado neste ano.

O diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do Mdic, Herlon Brandão, reconhece que é difícil manter taxas de crescimento elevadas por vários períodos e que há expectativa de limitação tanto da oferta agrícola quanto da demanda externa.

Em viagem à Arábia Saudita, durante evento com empresários, o presidente Lula disse na quarta-feira (29) que o Brasil poderia sonhar em 2030 em ter uma balança comercial de US$ 1 trilhão.

Questionado por jornalistas sobre a declaração do chefe do Executivo na apresentação dos dados da balança comercial de novembro, Brandão disse que esse não é um número técnico projetado por seu departamento.

"É mais como se fosse um desejo de governo. Não que isso seja uma previsão que estejamos fazendo, que isso vai ser atingido com certeza", disse.

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