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No que investir? Veja as apostas de analistas para 2024

Queda de juros deve beneficiar a renda variável, sem que a renda fixa perca atratividade

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São Paulo

Com juros mais baixos, inflação sob controle e queda do dólar, os investimentos devem se beneficiar em 2024. Segundo analistas, o ano que está para chegar será um ganha-ganha: tanto a renda fixa como a renda variável devem oferecer bons retornos aos investidores.

De acordo com especialistas, os próximos meses devem dar sequência ao movimento visto neste fim de ano, com a perspectiva de cortes de juros e a recuperação de ativos de risco, já que o ciclo de aperto monetário, ou seja, de alta de juros para controlar a inflação que nasceu com a pandemia, parece ter chegado ao fim.

Agora, o debate gira em torno sobre como será a queda das taxas básicas de juros mundo afora.

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São Paulo, SP, Brasil, 21-02-2019: Cédulas de real. Papel Moeda. Dinheiro. (foto Gabriel Cabral/Folhapress)

Para o Brasil, a pesquisa Focus do Banco Central aponta que a Selic deve terminar o próximo ano em 9,25% ao ano. Atualmente ela está em 11,75%, e, de acordo com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, deve cair para 10,75% já em março.

A redução na Selic diminui a rentabilidade da renda fixa. Mas, como a inflação também está em tendência de queda, os juros reais (acima da alta dos preços) continuam altos, dizem especialistas.

O IPCA previsto pelo Focus é de 3,93% em 2024. Considerando a Selic de 9,25%, isso equivale a um juro real de 5,32% para o próximo ano.

"A renda fixa continua com taxas atrativas, e o investidor deve sempre ter renda fixa na carteira. Mas, agora, se tiver o perfil mais agressivo, também deve ter renda variável", diz Marina Renosto, diretora de alocações da Blackbird.

Na renda fixa, atualmente, ela prefere títulos prefixados que vencem entre dois e quatro anos, e os atrelados ao IPCA com prazos mais longos.

"Também há boas oportunidades em crédito privado, mas é preciso analisar se se trata de uma empresa saudável e consolidada", diz Marina.

Geralmente, quanto mais risco, maior o retorno. É por isso que os títulos privados, como debêntures, CRAs e LCIs, pagam mais que os públicos, já que empresas têm mais chances de quebrar que o país.

Segundo Rachel de Sá, analista da Rico, as reduções previstas para a Selic pouco devem impactar a carteira do brasileiro. "Para a pessoa física, faz pouca diferença, o que ele tem de entender é que a taxa ainda vai ficar alta. Não vai baixar para 2% de novo. Não é o fim da renda fixa."

Para ampliar a rentabilidade, ela recomenda dividir os investimentos em títulos de renda fixa prefixados, pós-fixados e híbridos —que combinam juros prefixados com a variação anual do IPCA— com maior peso para os dois últimos.

Para uma boa combinação de ativos, Rachel indica fundos de renda fixa com gestão ativa, que reúnem não só diferentes tipos de produtos, mas também títulos com diferentes prazos de vencimento.

As grandes gestoras também apostam na renda fixa. No Itaú, ela compõe a maior parte das carteiras recomendadas, com maior peso nos pós-fixados.

Chega a 100% no caso do perfil mais conservador e a 46% no caso do mais arrojado, para quem o banco também recomenda 35% de multimercado (fundos que combinam renda fixa e renda variável) e 19% em renda variável.

A BlackRock, maior gestora do mudo com US$ 9 trilhões sob seu guarda-chuva, investe mais na renda fixa brasileira do que na variável, dado o juro real elevado.

"Mas penso que o ambiente para os mercados emergentes, tanto de renda fixa como de ações, se tornará mais atraente em 2024 se observarmos uma mudança do aperto monetário para a flexibilização monetária", diz Russ Koesterich, diretor de alocação global da BlackRock.

A expectativa do mercado financeiro é de cortes de juros nos EUA e na Europa na primeira metade de 2024. Juros menores em países desenvolvidos beneficiam os emergentes, pois levam investidores a diversificar o portfólio em busca de juros mais altos.

Como o juro brasileiro é maior que o americano, é possível ganhar dinheiro pegando-o emprestado nos EUA e o aplicando por aqui. Essa estratégia de investimento é chamada carry trade, e tende a ficar mais vantajosa com a queda das taxas americanas.

Além disso, os nossos ativos de renda variável têm um maior potencial de valorização, dizem especialistas.

Segundo Nicholas McCarthy, diretor de investimentos do Itaú, o Ibovespa, principal índice da B3, está cerca de 20% abaixo da sua média histórica.

"Ou seja, a Bolsa pode subir 20% e simplesmente voltará à média histórica brasileira. Há bastante espaço para a Bolsa andar, e, com os juros caindo, esse cenário pode se concretizar", diz o especialista.

Segundo um levantamento da corretora Rico, historicamente os setores da Bolsa que mais se beneficiaram em ciclos de quedas de juros e ainda não se recuperaram no atual ciclo são: agronegócio, alimentos e bebidas, bens de capital, elétricas, instituições financeiras, saneamento e transportes.

Nesses setores, a corretora recomenda o investimento em Itaú, Banco do Brasil, BB Seguridade, Alupar, Isa Cteep e Assaí. Outra ação bem avaliada fora desse escopo é a Petrobras.

Koesterich, da BlackRock, prefere as ações dos EUA, especialmente as ligadas à inteligência artificial, ao onshoring (busca por fornecedores do mesmo país) e ao setor de saúde.

"Empresas americanas são mais resilientes. O mercado lá não é barato, mas, se você olha para além das ’Magnificent Seven’, ele não parece tão caro. Ações de energia estão bem baratas", diz o estrategista.

Magnificent Seven, em referência ao filme homônimo, trata das sete gigantes que puxaram o mercado acionário em 2023: Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta (ex-Facebook), Microsoft, Nvidia e Tesla. Juntas, elas correspondem a 29% do principal índice acionário do mundo, o S&P 500, que acumulou uma alta de 22% neste ano, até a última sexta (22).

"Como essas sete tiveram um ano forte, as boas oportunidades estão em outros setores e empresas", diz Daniel Martins, presidente da GeoCapital, gestora focada em ações estrangeiras.

Ele recomenda empresas de biotecnologia e energia limpa, além de papéis de Disney, Estée Lauder, Moderna, Novo Nordisk —que produz o Ozempic—, Palo Alto Networks, Crowdstrike —ambas de cibersegurança— e Albemarle, de mineração e processamento de lítio.

"Também gostamos de empresas de viagem, como a Booking e Visa, que têm boa margem de ganho com viagem para o exterior", afirma Martins.

Todas essas companhias estão presentes na Bolsa de Valores brasileira sob a forma de BDRs (recibos de ativos listados no exterior). Mas, além da variação da ação estrangeira, eles também refletem a oscilação do dólar, já que são cotados em reais por aqui.

Marina, da Blackbird, faz um alerta. "Se você é conservador, não importa se é o melhor momento para Bolsa, o melhor é não comprar. Coloque um título prefixado e um título IPCA+ na carteira que já aumenta o seu risco."

Além de ter uma carteira adequada ao seu perfil de risco, é preciso garantir a reserva de emergência antes de investir. Ela deve ser equivalente a, no mínimo, seis meses de gastos e estar aplicada em CDBs de grandes bancos com liquidez diária ou no Tesouro Selic.

"Depois de fazer a reserva, é preciso saber no que investe e não esperar milagres", diz Rachel de Sá, da Rico.

Rentabilidade bruta esperada para a renda fixa em 2024:

Fonte: C6 Bank

  • Poupança: 8,07%

  • Tesouro Selic 2026: 10,56%

  • CDB, a 104% do CDI: 10,84%

  • CDB/RDB/LC, a 112% do CDI: 11,67%

  • LCI/LCA/Debênture incentivada, a 96% do CDI: 10%

  • CDB/RDB/LC, a IPCA + 6,65% ao ano: 10,82%

  • CDB/RDB/LC prefixados, a 11,75%: 11,75%

Rentabilidade líquida real* esperada para a renda fixa em 2024:

*descontando o IR e o IPCA projetados

  • Poupança: 4,14%

  • Tesouro Selic 2026: 4,57%

  • CDB, a 104% do CDI: 5,01%

  • CDB/RDB/LC a 112% do CDI: 5,70%

  • LCI/LCA/Debênture incentivada, a 96% do CDI: 6,07%

  • CDB/RDB/LC, a IPCA + 6,65% ao ano: 5%

  • CDB/RDB/LC prefixados, a 11,75%: 5,76%

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