Descrição de chapéu Banco Central

Campos Neto deve se reunir com Haddad para discutir PEC da autonomia financeira do BC

Presidente da instituição vem mantendo recentemente uma relação cordial com governo, após início tenso

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deve se encontrar na próxima terça-feira (30) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir a proposta que prevê a autonomia financeira da instituição.

A proposta de autonomia financeira enfrenta certa resistência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujo partido já havia se oposto à autonomia operacional do Banco Central, que foi sancionada por Jair Bolsonaro (PL) em 2021. Além disso, há outros pontos de discordância.

Prédio do Banco Central, em Brasília - Rafa Neddermeyer - 7 nov. 2023/ Agência Brasil

A reunião, marcada inicialmente para o fim da tarde, no Ministério da Fazenda, foi confirmada à Folha por uma pessoa ligada a Campos Neto. O Banco Central e o Ministério da Fazenda foram procurados, mas não se pronunciaram sobre o encontro.

O Senado analisa uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que prevê a autonomia de gestão administrativa, contábil, orçamentária, financeira e patrimonial do Banco Central.

A instituição já usufrui de autonomia operacional, em decorrência de uma lei de 2021, que estabeleceu mandato de quatro anos para o seu presidente, que não coincide com o mandato do chefe do Executivo. A proposta buscou evitar influência política do governo sobre a instituição.

Em relação à PEC, o governo também manifesta contrariedade com o ponto que prevê supervisão do Banco Central, que seria feita pelo Congresso Nacional.

Roberto Campos Neto tem uma posição favorável à proposta pelo seu conceito principal, de conceder autonomia financeira para a instituição. Tem dito a interlocutores e mesmo publicamente que esse era um "sonho" de seu avô, o economista Roberto Campos, que ocupou cargos de primeiro escalão em diferentes governos no século passado e foi um dos criadores do Banco Central.

"Acho que a autonomia, e não só a autonomia e sim qualquer ganho institucional, ele sofre melhoramentos ao longo do tempo. Eu volto às notinhas do meu avô, quando ele desenhou o processo de autonomia, ele tinha três flechinhas, que ele dizia: autonomia operacional, autonomia administrativa e autonomia financeira", afirmou durante seminário da Folha sobre autonomia do Banco Central, em maio do ano passado.

"A gente tem hoje autonomia operacional. Eu acho e a gente teve uma experiência recente, com greves e problemas às vezes com funcionários e a incapacidade de gerir a parte administrativa de uma maneira mais autônoma, [então] eu acho que é importante a gente avançar em algum momento e fica aí para os próximos que sentarem na minha cadeira, acho importante avançar na autonomia administrativa e na autonomia financeira também. Grande parte dos bancos centrais que são autônomos e consolidaram a autonomia têm um grau maior de autonomia administrativa e autonomia financeira também", completou.

Campos Neto vive um momento de boa interlocução com o governo federal, após um início de governo Lula recheado de confrontos, quando o presidente da instituição se tornou alvo frequente dos ataques petistas. O principal motivo era a taxa de juros básico, que o governo pressionava para que fosse reduzida.

Em seus discursos, Lula repetidas vezes chamou Campos Neto de "cidadão", se recusando a pronunciar seu nome, questionou suas intenções e disse que ele não tinha compromisso com o Brasil.

A situação começou a mudar após as primeiras reduções na taxa básica de juros, decididas pelo Copom (Comitê de Política Monetária). O primeiro encontro entre o presidente da República e Campos Neto aconteceu apenas em setembro do ano passado, em uma reunião no Palácio do Planalto.

O momento que selou a pacificação aconteceu poucos dias antes do Natal, quando Roberto Campos Neto foi convidado e participou do churrasco de fim de ano de Lula, na residência oficial da Granja do Torto, com a presença de todos os ministros do governo.

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