Descrição de chapéu Banco Central

Lula recebe Campos Neto pela primeira vez no Planalto, e Haddad fala em 'pactuação'

Presente ao encontro, ministro da Fazenda afirma que reunião marca início de relação e conversas frequentes

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Brasília

Após meses de clima de beligerância, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu nesta quarta-feira (27), pela primeira vez desde que assumiu o Executivo, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Palácio do Planalto.

O encontro serviu de início de construção de uma relação, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que também participou da reunião. O chefe da equipe econômica disse ainda que houve uma "pactuação" para que essas reuniões sejam mais frequentes.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto em frete à antessala do gabinete presidencial no Palácio do Planalto
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto chega ao Palácio do Planalto para reunião com presidente Lula - Gabriela Biló/Folhapress

O princípio de aproximação ocorreu após duas reduções sucessivas da taxa básica de juros —a Selic— pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do BC, o que era uma demanda recorrente de Lula desde o início do governo.

"Penso que foi um encontro institucional, de construção de relação, de pactuação em torno de conversas periódicas. Foi excelente", afirmou Haddad, ao voltar ao Ministério da Fazenda.

"Não conversamos sobre tópicos específicos. O presidente [Lula] deixou claro o respeito que tem pela instituição. A reciprocidade foi muito boa da parte do Roberto [Campos Neto], foi uma conversa de alto nível", disse.

O encontro começou com uma hora de atraso, por causa de reuniões que foram prolongadas na agenda de Lula. Na parte da tarde, ele se reuniu com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), para tratar das inundações no estado.

Na sequência, ainda teve uma cerimônia pública para assinatura dos primeiros contratos de concessão de linhas de transmissão do atual governo.

Os dois e mais Haddad permaneceram reunidos também por cerca de 1h20. Após o encontro, o titular da Fazenda e o chefe do BC desceram juntos no mesmo elevador para a garagem do Planalto, conversando sobre o encontro com Lula.

Segundo uma fonte ouvida pela Folha, Haddad comentou que o encontro havia sido "bom" e, na sequência, perguntou a opinião do presidente do Banco Central, que teria respondido: "excelente".

Lula vem criticando a alta taxa de juros no Brasil desde os primeiros meses do governo. Essas críticas, não raro, também eram acompanhadas de ataques ao próprio Campos Neto, a quem Lula pegou o costume de chamar apenas de "cidadão". Também já falou que ele era "louco" e que não tinha compromisso com o Brasil, insinuando que ele buscava beneficiar terceiros.

"Ele não tem nenhum compromisso comigo. Ele tem compromisso com quem? Com o Brasil? Não tem! [...] Ele tem compromisso com o outro governo, que o indicou. Isso é importante ficar claro. Ele tem compromisso com aqueles que gostam de taxa de juros alta. Porque não há outra explicação. Não há outra explicação", afirmou o presidente, durante viagem ao Reino Unido.

"Outro dia, numa entrevista, ele disse 'para eu atingir a meta [de crescimento] de 3%, a taxa de juro tem de ser acima de 20%'. Está louco? Esse cidadão não pode estar falando a verdade. Então, se eu como presidente não puder reclamar dos equívocos do Banco Central, quem vai reclamar? O presidente americano?", afirmou.

Na quarta-feira passada (20), o Copom reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual, de 13,25% para 12,75% ao ano. A decisão foi tomada de forma unânime pelos nove membros do colegiado.

Esse foi o segundo corte consecutivo na mesma intensidade promovido pelo comitê, que levou os juros ao menor nível desde maio de 2022.

Segundo um interlocutor do governo, o início da flexibilização dos juros e o voto de desempate de Campos Neto por um corte de 0,5 ponto percentual na reunião que inaugurou o ciclo de queda da Selic, em agosto, ajudaram a criar um clima mais favorável para Lula receber o presidente do BC no Planalto.

Antes, Campos Neto e Lula tiveram um único encontro presencial, ainda no período de transição de governo, em 30 de dezembro de 2022, no hotel onde o petista estava hospedado.

O pedido de agenda com o chefe do Executivo partiu do presidente do BC, de acordo com relato ouvido pela Folha. A ponte foi construída por Haddad depois de um almoço com Campos Neto na última quinta-feira (21).

"Não havia necessidade de trabalhar, esse encontro ia acontecer. Eu ajudo no que eu posso", disse o titular da Fazenda, após a reunião.

Mais cedo, Campos Neto fez um aceno a Haddad em audiência pública na Câmara dos Deputados e defendeu o compromisso de perseguir a meta fiscal estabelecida pelo governo.

"Hoje, o importante é persistir na meta, é o que a gente tem dito e o que foi delineado na comunicação oficial. A razão pela qual existe um questionamento é porque precisa de receitas adicionais bastante grandes para cumprir esse número", afirmou.

O chefe da instituição disse que "todo mundo" entende a dificuldade do governo de cortar gastos e de atingir a meta estabelecida, mas reforçou o discurso de perseverança.

"Nossa mensagem é de persistência. Está bem alinhado com o que o ministro [Fernando] Haddad tem dito, a gente acha que esse é um caminho bem promissor. Mesmo que a meta não seja cumprida exatamente, o que os agentes econômicos vão ver é qual o esforço que teve na direção de cumprir a meta", acrescentou.

A equipe econômica traçou como objetivo zerar o déficit primário já no ano que vem –meta vista com ceticismo pelo mercado e até por membros do próprio governo.

Campos Neto prestou esclarecimentos sobre política monetária na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, em audiência solicitada pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).

Questionado pelos deputados se a política conduzida por Haddad estava no caminho certo, Campos Neto disse que o governo tomou "várias decisões corretas" e endossou o discurso do titular da Fazenda sobre harmonização entre as políticas monetária e fiscal.

O presidente do BC disse também ser favorável à taxação de super-ricos e de offshores, defendendo uma alíquota de 10%. Em agosto, Lula assinou uma medida provisória para taxar rendimentos de fundos exclusivos dos chamados super-ricos e enviou ao Congresso Nacional um projeto.

"Sobre arrecadação de super-ricos, sou a favor de arrecadação de fundos exclusivos, sou a favor de arrecadação de offshores", afirmou Campos Neto na comissão.

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