Comento caso de Fábio, empresário, 51, que questiona se investimento em educação de filhos pode comprometer aposentadoria

Caso mostra que se há possibilidade de cumprir meta com segurança, não há razão para ter investimentos de risco na carteira

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Michael Viriato Araujo

É professor e assessor da Casa do Investidor e autor do blog De Grão em Grão, na Folha. Foi professor de finanças do Insper, da USP e da FGV nos últimos 15 anos. Possui as certificações financeiras CFA e CFP

Gostaria de pagar um intercâmbio para meus filhos no valor de R$ 100 mil em 2025 e, depois, ainda garantir ensino superior para eles no exterior, o que custaria cerca de R$ 650 mil até 2032. Tenho uma agência de comunicação e minha esposa é médica. Nossa renda mensal fica em torno de R$ 37 mil mensais, o que empata as despesas. Conseguimos juntar, no entanto, entre R$ 100 mil e R$ 150 mil ao ano com dividendos da minha empresa. Temos R$ 3,5 milhões em investimentos diversos, um imóvel avaliado em 2,5 milhões e um carro de R$ 100 mil. Esse investimento em educação pode comprometer nossos planos de aposentadoria com renda de R$ 30 mil ao mês?

Fabio

51 anos

Ao contrário do que se imagina, conseguir acumular um patrimônio financeiro sendo um pequeno empresário é mais difícil que para um assalariado. Não me refiro que o empresário ganhe menos, embora algumas vezes isso ocorra. Ocorre que pela vontade de ver seu negócio crescer, tudo o que o empresário ganha, ele, usualmente, quer reinvestir no próprio empreendimento.

Se tudo der certo, reinvestir no próprio negócio pode ser a melhor alternativa. Entretanto, como em qualquer investimento de risco, se passamos por desafios, a concentração pode destruir o que você levou anos para construir.

Ilustração de pessoa que representa dúvidas puxando o tapete de dois homens, com moedas ao ar
Ilustração de pessoa que representa dúvidas puxando o tapete de dois homens, com moedas ao ar - Adobe Stock

Esse não foi o caso de Fábio.

Como ele comentou, a volatilidade nos negócios o incentivou a construir um colchão financeiro de segurança.

Desde cedo, ele se esforçou para conseguir guardar nem que fosse R$ 100,00 por mês. Entretanto, o sucesso permitiu que ele multiplicasse a poupança, que hoje é em média de R$ 10 mil mensais.

O esforço de poupança foi bem-sucedido e ele acumulou um patrimônio financeiro de R$ 3,26 milhões, além de contar com um imóvel próprio de R$2,5 milhões.

Entretanto, com dois filhos em idade de 13 anos ele planeja proporcionar uma educação internacional a eles.

Para isso, avalia dois investimentos. Um intercâmbio quando eles atingirem 15 anos e uma extensão universitária no futuro. Segundo o orçamento de Fábio, os investimentos seriam de R$100 mil e R$650 mil, respectivamente, para os dois filhos.

Portanto, sua dúvida é: ainda posso contar com meu desejo de ter uma renda de R$ 30 mil a partir dos 65 anos se realizar este investimento na educação de meus filhos?

A prioridade de Fábio sempre foi e continua na educação dos filhos. Portanto, sua questão reside no planejamento de sua aposentadoria.

Sua carteira de investimentos está distribuída da seguinte forma: 74% em produtos de renda fixa, 13% em fundos imobiliários, 9% em fundos multimercados e 4% em fundo de ações.

Seu portfólio possui 63% em produtos referenciados ao IPCA. Portanto, está praticamente adequado à sua meta, mas ainda sugiro mudar duas alocações.

Calcule o que falta para sua independência financeira

É importante entender que como empresário, ele já corre risco de ações. Sua participação em sua própria empresa representa uma proporção elevada de seu patrimônio e pode ser considerada um investimento similar ao de ações. Apenas não é uma ação negociada em Bolsa.

Portanto, a diversificação do risco de seu negócio deve ser realizada por meio de investimentos de renda fixa.

Assim, sugiro o resgate dos fundos multimercados e de ações. Estes recursos podem ser aplicados em títulos de renda fixa referenciados ao IPCA como ele já tem feito, aproveitando as taxas de juros mais elevadas do momento.

Com esta mudança, é muito factível esperar um retorno de IPCA+5% ao ano já líquido de IR. Fábio sabe se aproveitar de títulos de crédito privado isentos de IR em seu portfólio. Portanto, a rentabilidade esperada poderia até ser maior, mas vamos ser conservadores na projeção.

Usando a premissa de retorno acima e sem assumir qualquer aplicação adicional, seu portfólio financeiro deve atingir o valor de R$ 6,48 milhões, quando ele chegar aos 65 anos.

Entretanto, mesmo considerando um retorno ainda mais conservador de IPCA + 4% ao ano isento de IR, por 30 anos, ou seja, dos 65 aos 95 anos, Fábio precisaria de apenas R$ 6,32 milhões aos 65 anos para se aposentar com a renda desejada.

Portanto, seu portfólio se conservadoramente investido em renda fixa já será capaz de cumprir com sua meta de aposentadoria.

Aqui se extrai uma lição importante do benefício de um planejamento: conhecer o nível de risco necessário para que atinja seus objetivos.

Se você consegue cumprir sua meta sem correr risco, não há razão para ter investimentos de risco na carteira. Principalmente, se sua renda já vem de uma atividade de risco que é o empreendedorismo.

Mas e a educação dos filhos? Essa poderá ser financiada com a poupança mensal de Fábio.

Lembro que ele consegue poupar R$ 10 mil por mês. Esta aplicação mensal, se também investida a IPCA + 5% ao ano isento de IR, será mais que suficiente para cobrir os dois investimentos em educação internacional.

Portanto, o planejamento financeiro de Fábio está bem estruturado para cumprir com seus dois principais objetivos: investimento em educação internacional para os filhos e sua aposentadoria.

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