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Comento o caso de Gabriel, 32, que planeja mudar de carreira

Leitor quer menos estresse profissional, mas tenta manter padrão de vida com salário menor

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Michael Viriato Araujo

É professor e assessor da Casa do Investidor e autor do blog De Grão em Grão, na Folha. Foi professor de finanças do Insper, da USP e da FGV nos últimos 15 anos. Possui as certificações financeiras CFA e CFP

Moro no Rio de Janeiro, tenho 32 anos e estou fazendo uma migração da minha carreira atual (corporativa) para a de guia de trilhas, mais gratificante. Devo sair da minha sociedade em junho e iniciar a nova carreira em 2025. No semestre em que ficarei parado não terei renda. Pretendo em 2025 alugar quartos de meu apartamento próprio em Copacabana em aplicativos de locação temporária, enquanto vou começando a nova carreira. Possuo aproximadamente R$ 800 mil em investimentos e gostaria de maximizar o rendimento, para complementar minha renda no período de transição de carreira. Como investir para que o patrimônio financeiro seja capaz de cobrir a totalidade ou parte de suas despesas mensais de R$ 6.200?

Gabriel

32 anos

Um bom salário não significa um bom trabalho. Entretanto, trocar um bom salário por uma carreira menos estressante demanda um estresse adicional antes da decisão. Este estresse adicional é o da execução de um bom planejamento financeiro.

Na decisão de troca, muitos fogem do estresse do trabalho, mas caem no estresse da falta de dinheiro, pois não se planejaram. Decisões precipitadas podem trazer novas fontes de estresse. A falta de dinheiro, sem dúvida, é uma das maiores responsáveis por preocupações.

Não estou afirmando que você só possa trocar de carreira quando estiver bem preparado financeiramente, mas a preparação possibilita com que a transição tenha mais chances de sucesso.

Homem coloca as mãos na cabeça enquanto observa tela de computador
Como tentar manter padrão de vida mesmo com uma redução salarial - Adobe Stock

Esse é o caso de Gabriel. Ele tem 32 anos e decidiu que 2024 será o último ano de trabalho no mercado corporativo. Seu novo trabalho será relacionado ao turismo e promete ser menos desgastante e estar mais conectado ao seu propósito de vida.

Embora conscientemente sua decisão tenha sido aceitar uma renda menor, ele não deixou de se preparar para evitar problemas que possa enfrentar na transição de carreira.

Ele possui um imóvel próprio de R$ 1,3 milhão e uma reserva de R$ 840 mil em aplicações financeiras.

Gabriel reforça que tem perfil conservador, ou seja, não aceita riscos.

Calcule o que falta para sua independência financeira

Um dos planos dele para cobrir suas despesas é alugar por meio de aplicativos os dois quartos adicionais que possui em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro. Sem dúvida, o perfil turístico da cidade e do bairro carioca podem facilitar este objetivo.

Como Gabriel já afirmou que não deseja vender seu apartamento, a decisão por alugar quartos é muito racional e vai ajudar bastante para que seu patrimônio financeiro não seja consumido. Mas confesso que essa decisão deve ser revisitada no futuro, pois o condomínio do prédio responde por 27,4% de sua despesa mensal.

Sua projeção é que apenas em 2026 sua nova carreira deve proporcionar renda de R$ 2.500, sendo, assim, capaz apenas de cobrir parte de suas despesas. Portanto, é muito importante que seu patrimônio financeiro proporcione o complemento.

Vamos considerar que ele consiga uma receita mensal de R$ 1.600 com os aluguéis esporádicos por aplicativo. Essa projeção foi do próprio Gabriel, mas acho otimista.

Se não considerarmos o novo salário de Gabriel, suas aplicações precisariam render mais de R$ 4.600 líquidos de IR e acima do IPCA. Portanto, seu portfólio deveria render pelo menos IPCA + 9% ao ano bruto de IR para garantir que este objetivo seja atendido.

A carteira atual de Gabriel está toda em renda fixa. Portanto, está bem alinhada com seu perfil conservador. Entretanto, não é razoável assumir que uma carteira conservadora e que aplique apenas em CDBs tenha esse rendimento no longo prazo.

Considerando o rendimento de R$ 2.500 do novo trabalho, seria necessário R$ 2.100 a mais para complementar vindos das aplicações. Nesse caso, as aplicações financeiras deveriam render no mínimo IPCA + 4,2% ao ano bruto de IR.

Considerando um portfólio formado apenas por CDBs e no longo prazo, é possível assumir um rendimento de IPCA + 5% ao ano bruto de IR. Logo, a meta de Gabriel é factível. Essa deve ser a meta, pois a receita de aluguel dos quartos pode não ser suficiente.

Para garantir este retorno, Gabriel deve alterar sua carteira de renda fixa. Apenas 23% da carteira está em ativos referenciados ao IPCA e o restante em CDBs referenciados ao CDI.

Esta distribuição de carteira é um risco para a meta de retorno mínimo de IPCA + 5% ao ano, pois a Selic e o CDI devem cair para 9% ao ano ou menos já nesse ano de 2024.

Gabriel investiu em CDBs com bom retorno. A média de rentabilidade é próxima de 120% do CDI para os títulos referenciados a este indexador. Entretanto, com a queda esperada para a Selic, mesmo sendo uma boa rentabilidade hoje, ela deve ser inferior a IPCA + 5% ao ano já no fim de 2024.

Portanto, o recomendado é que Gabriel, nas datas de vencimentos dos títulos, migre a parcela referenciada ao CDI —e que não será utilizada no primeiro ano — para CDBs referenciados ao IPCA.

A alocação nos CDBs referenciados ao IPCA deve buscar as seguintes características:

  1. Ter taxa de retorno acima de IPCA + 5,0% ao ano;
  2. Alocar em prazos longos e não em menos de um ano como fez;
  3. Respeitar a liquidez necessária de pelo menos R$ 48 mil por ano

Portanto, escalonar os vencimentos dos CDBs ao longo dos anos, ou seja, ter CDBs vencendo em 2025, 2026, 2027 e assim por diante.

Com essa alocação, Gabriel vai poder executar a transição de carreira com tranquilidade, pois seu patrimônio financeiro e o aluguel dos quartos vão permitir o financiamento de seu custo de vida.

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