Descrição de chapéu Comento seu dinheiro

Comento o caso do aposentado Guilherme, que quer complementar a renda e estuda mudar investimentos

Engenheiro de 69 anos tem patrimônio de R$ 4 milhões e teme perder dinheiro se os bancos quebrarem

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Consegui juntar R$ 4 milhões e pretendo viver disto com retiradas de R$ 5.000 por mês para complementar a aposentadoria, que é de R$ 5.200. Tenho 85% em CDB, LCI e LCA, em corretoras, e 15% em renda fixa em bancões. Como tenho receio sobre quebra de alguma instituição/corretora e ficar na velhice sem dinheiro, pois o FGC pode não conseguir devolver a todos, numa crise generalizada. Penso em colocar 100% em Tesouro Selic, pois assim fico imune a alguma quebra. O que acha? Consigo viver só com Tesouro Selic?

Guilherme

engenheiro aposentado de 69 anos

Quando avaliamos alternativas de investimentos, devemos considerar não somente a habilidade e a capacidade do investidor em correr risco, mas também o entendimento correto dos fatores de risco. A falha em considerar todas estas variáveis tem como consequência decisões erradas ou perdas de oportunidades.

Quando se fala no entendimento dos fatores de risco nos investimentos, não se pode deixar de falar do papel das mídias sociais. Por um lado, elas trouxeram uma maior difusão da educação financeira.

Entretanto, também veio junto a desinformação ou informação errada, que é ainda mais rapidamente propagada nos canais digitais que as informações corretas.

mãos de homem idoso digitando em teclado
Informação falsa que FGC não terá como cobrir todos os investimentos se bancos quebrarem ao mesmo tempo gera pânico em investidores - Adobe Stock

Discuto uma destas informações erradas, mas também a questão da compreensão do risco que pode afetar o engenheiro aposentado Guilherme, de 69 anos.

Atualmente, ele se beneficia de uma aposentadoria do INSS de R$ 5.200, mas deseja complementá-la com retiradas mensais de R$ 5.000 provenientes de seu patrimônio financeiro.

Ao longo de sua carreira, ele acumulou um patrimônio de R$ 4 milhões que está aplicado como ele retrata: "85% em CDB, LCI e LCA por meio de corretoras, e 15% em renda fixa em bancões".

Calcule o que falta para sua independência financeira

Sua dúvida é bem peculiar, pois retrata uma informação errada propagada pela internet e também uma falha de entendimento do risco na aposentadoria: "Como tenho receio sobre quebra de alguma instituição/corretora e ficar na velhice sem dinheiro, pois o FGC pode não conseguir devolver a todos, numa crise generalizada, penso em colocar 100% em Tesouro Selic, pois assim fico imune a alguma quebra de banco. O que acha? Consigo viver só com Tesouro Selic?"

Seu questionamento reflete uma confusão que frequentemente é divulgada sobre o FGC (Fundo Garantidor de Crédito).

Muitos "educadores" financeiros repercutem nas mídias digitais que o FGC não seria capaz de cobrir todo o volume em títulos bancários emitidos. Isso é um mito. Eles falam isso para incutir o medo e, assim, levar investidores a alguma atitude que os convém.

Aqui é preciso considerar dois elementos: o que é a garantia do FGC e a probabilidade sobre o receio de quebra generalizada de bancos.

O FGC garante apenas até R$ 250 mil por emissor e por CPF ou CNPJ, limitados a R$ 1 milhão a cada 4 anos. Considerando essa restrição, ele atende a praticamente todos os investidores, mesmo que todas as instituições quebrem.

Entretanto, convenhamos, desconheço qualquer crise financeira já ocorrida no mundo, em que todas as instituições financeiras quebraram. Isso é tão ou mais difícil que contar com sua sorte para ganhar na Mega-Sena.

O receio sobre este fato pode ser mitigado com mais conhecimento em fontes confiáveis.

Entretanto, a situação de Guilherme é confortável o suficiente para que ele não precise contar com o prêmio de títulos privados. Portanto, ele, sim, pode investir apenas em títulos públicos.

Pelas suas atuais aplicações, percebe-se que ele é um investidor conservador e não deve ter habilidade de correr risco. Todas as aplicações estão concentradas em renda fixa e na maioria em títulos referenciados ao CDI. Entretanto, quando se fala em aposentadoria, ser conservador não significa investir no CDI ou Selic.

Devido à sua idade e momento de vida, sua capacidade de correr risco é baixa. Ou seja, por já estar vivendo como aposentado, ele não pode mais se dar ao luxo de errar, pois um erro, pode custar sua aposentadoria. E errar na escolha do indexador para sua renda fixa pode comprometer sua segurança na aposentadoria.

Nesse sentido, Guilherme deve atentar com cuidado o desejo de aplicar apenas em Tesouro Selic como forma de aplicação para aposentadoria. Essa seria uma aplicação arriscada para seu caso e não é destinada ao objetivo de viver de renda.

O Tesouro Selic é uma aplicação apropriada a investimentos de curto prazo e para liquidez em resgates. Portanto, deve-se manter nesta aplicação apenas o montante que se pretende usar em até um ano.

Para além deste prazo, a aplicação recomendada é aquela que garante ao investidor a reposição da inflação e um juro real. Desta forma, é possível criar um planejamento da renda real a ser recebida.

Logo, a recomendação para os recursos para prazo superior a 1 ano é o Tesouro IPCA.

Os títulos dos programas Tesouro Renda+ em conjunto com o Educa+ podem ser usados para receber os pagamentos mensalmente como uma renda de aposentadoria.

Neste momento, as taxas de juros reais de títulos públicos federais estão em 5,5% ao ano, acima da inflação. Quando subtraída do IR, essa rentabilidade equivale a 0,33% ao mês.

Se o montante de R$ 4 milhões for distribuído nestes títulos públicos e nesta taxa de retorno, Guilherme terá garantida uma renda de mais de R$ 18 mil mensais até os 100 anos de idade.

Portanto, ele pode assegurar o recebimento de mais de três vezes a renda desejada se aplicar agora em títulos públicos federais de longo prazo e referenciados ao IPCA. Entretanto, a mesma garantia não existe se o patrimônio for aplicado apenas em Tesouro Selic.

Michael Viriato Araujo

É professor e assessor da Casa do Investidor e autor do blog De Grão em Grão, na Folha. Foi professor de finanças do Insper, da USP e da FGV nos últimos 15 anos. Possui as certificações financeiras CFA e CFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.