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Educação empodera idosos na busca pela independência financeira

Pesquisa no Tocantins evidenciou impactos positivos de cursos de noções básicas de finanças para público de mais idade

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São Paulo

O avanço da medicina ao longo das últimas décadas tem contribuído para o aumento na expectativa de vida da população.

Relatório do Fórum Econômico Mundial em parceria com a consultoria Mercer mostra que a expectativa de vida média em escala global subiu de 48 anos, em 1950, para 66,8 anos, nos anos 2000, alcançando 73 anos em 2019. Segundo as estimativas das Nações Unidas, até 2100, a expectativa de vida deve alcançar 81 anos.

No Brasil, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a expectativa de vida era de 75,5 anos em 2022. O resultado é o maior desde 2019, no pré-pandemia.

À época, a esperança de vida era estimada em 76,2 anos. Porém, com as mortes provocadas pela crise sanitária, a expectativa diminuiu para 74,8 anos em 2020 e 72,8 anos em 2021.

Mulher com bengala faz conta em cima de uma calculadora gigante
Relatório do Fórum Econômico Mundial em parceria com a consultoria Mercer mostra que a expectativa de vida média em escala global subiu de 48 anos, em 1950, para 66,8 anos nos anos 2000, alcançando a marca de 73 anos em 2019 - Catarina Pignato

Em um cenário no qual as pessoas estão vivendo mais, saber lidar com as finanças na aposentadoria se torna um tema cada vez mais importante.

O estudo "Os efeitos da educação financeira no comportamento de consumo: um estudo com idosos de baixa renda", publicado em 2021 por pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins e da Universidade de Coimbra, em Portugal, evidenciou o papel da educação financeira para os idosos.

O trabalho acadêmico mostrou os impactos positivos que aulas com conceitos básicos sobre finanças pessoais trouxeram para um grupo de idosos com renda de até dois salários mínimos em Palmas.

Segundo os autores do estudo —Rafaela Aires Tavares Santos, Waldecy Rodrigues e Carine de Oliveira Nunes—, os idosos que participaram das oficinas apropriaram-se de novos conhecimentos, desenvolvendo práticas de planejamento como guardar dinheiro para comprar um bem à vista em vez da compra parcelada com juros e dividir as despesas básicas com aqueles que moram na mesma casa, não assumindo toda a responsabilidade sozinhos.

Analisar as despesas fixas antes de assumir novos compromissos, fazer a lista de compras para ir ao supermercado, utilizar um cofrinho como incentivo à poupança e pesquisar preços ou juros antes da tomada de uma decisão financeira também são citados pelos pesquisadores entre os benefícios trazidos pela educação financeira.

"As práticas de educação financeira podem contribuir com a criação da autonomia e empoderamento do consumidor idoso, pois, além de 'oportunizar' acesso às informações sobre os produtos financeiros, esse tipo de intervenção leva o indivíduo a uma leitura mais crítica sobre o seu comportamento financeiro diante das mais diversas situações cotidianas", dizem os pesquisadores.

Consultor e mestrando em ciências do envelhecimento, Edson Santos Moraes afirma que, para que a educação financeira chegue ao público mais velho, é preciso combater o preconceito e o tabu que existem quando se fala tanto sobre o envelhecimento como também sobre a importância do dinheiro.

Antes até da etapa de pensar em cálculos do quanto é preciso economizar no mês para chegar a uma renda que permita uma aposentadoria confortável, é preciso identificar as principais razões que fazem com que tantas pessoas cheguem à velhice sem ter tido nenhum planejamento financeiro prévio, diz Moraes.

Ele acrescenta que o preconceito para falar publicamente sobre envelhecimento e dinheiro é uma das hipóteses que podem justificar a falta de preocupação com o tema.

Moraes afirma que o envelhecimento da população e o crescimento do trabalho informal apontam para um desenho cada vez mais insustentável da previdência pública no Brasil, tornando o planejamento financeiro e a educação financeira para idosos temas críticos que precisam receber maior atenção por parte da sociedade de forma geral.

"Trabalhar a edução financeira para pessoas acima dos 50 anos é complicado porque normalmente as pessoas que chegam a essa idade e ainda não se preocuparam com a questão financeira têm aspectos culturais e comportamentais muito fortes de não querer olhar para o tema mais profundamente", diz Moraes.

Uma pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha mostrou que cerca de 60% da população ainda não começou uma reserva para a aposentadoria, mas pretende começar.

Entre as principais alternativas para a constituição de uma reserva previdenciária, estão os fundos de previdência privada, e, mais recentemente, os títulos públicos RendA+ do Tesouro Direto, que oferecem uma taxa fixa de remuneração acrescida da variação da inflação.

Segundo especialistas do mercado, tanto os fundos de previdência como os títulos públicos destinados à aposentadoria têm vantagens e desvantagens, por isso é importante variar as aplicações e não apostar as fichas em um único tipo de investimento.

O relatório do Fórum Econômico Mundial e da Mercer mostrou também que, ao mesmo tempo que a expectativa de vida aumenta no mundo, as pessoas querem se aposentar antes dos 60 anos.

O levantamento indica que, entre aqueles com menos de 40 anos, 44% gostariam de parar de trabalhar até os 60 anos ou antes, a despeito do aumento da expectativa de vida e do baixo nível de reservas financeiras acumuladas para a aposentadoria.

Ainda de acordo com a pesquisa, 55% dos participantes disseram que não guardaram o suficiente ou não sabem se terão o necessário para manter o padrão de vida na aposentadoria.

"Isso mostra uma desconexão significativa entre o que as pessoas desejam idealmente e o que pode acontecer na realidade. Na prática, deixar de trabalhar nessa idade precoce irá exacerbar a lacuna na poupança e na meta de renda na aposentadoria", diz o relatório.

Aumentar as contribuições periódicas para a formação da poupança previdenciária, trabalhar por mais tempo, aceitar uma renda menor na aposentadoria e adotar estratégias de maior risco nos investimentos são apontados pelos pesquisadores como as alternativas que podem ser adotadas para melhorar a situação financeira no futuro.

"Ficou claro que, para ajudar as pessoas a planejar uma vida longa, saudável, resiliente e sustentável, faz-se necessária uma abordagem holística, que enfatize mais do que apenas resiliência financeira, mas também priorize a saúde, as conexões humanas, propósito e qualidade de vida", aponta o relatório.


EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA IDOSOS

Os impactos sobre idosos com renda de até 2 salários mínimos:

  • apropriação de novos conhecimentos; e
  • práticas de planejamento:
  1. guardar dinheiro para comprar um bem à vista em vez da compra parcelada com juros
  2. dividir as despesas básicas com aqueles que moram na mesma casa, não assumindo toda a responsabilidade sozinhos
  3. analisar as despesas fixas antes de assumir novos compromissos
  4. fazer a lista de compras para ir ao supermercado
  5. utilizar um cofrinho como incentivo à poupança e pesquisar preços ou juros antes da tomada de uma decisão financeira

Fonte: Os efeitos da educação financeira no comportamento de consumo: um estudo com idosos de baixa renda, da Universidade Federal do Tocantins e da Universidade de Coimbra


CARTEIRA DE INVESTIMENTOS PARA QUEM TEM MAIS DE 50
Levantamentos com três corretoras

1) Nova Futura

Renda fixa
Títulos pós-fixados : 40%
Títulos pré-fixados: 5%
Títulos indexados à inflação: 40%

Renda variável
Ações de empresas que pagam bons dividendos: 15%

2) Warren

Renda fixa
Títulos do Tesouro pós-fixados: 40%
Títulos do Tesouro indexados à inflação: 10%
Crédito privado (CRI, CRA, debêntures): 20%

Renda variável
Ações de empresas brasileiras: 5%
Fundos imobiliários: 15%

Estruturados
Fundo multimercado: 10%


3) Rico

Renda fixa
Fundos de investimento em renda fixa: 30%
Títulos de renda fixa indexados à inflação: 30%

Renda variável
Fundos imobiliários: 20%
Fundos de investimento em dividendos: 10%

Estruturados
Fundos multimercado: 10%


GLOSSÁRIO

Carteira de investimentos: conjunto de todas as aplicações financeiras de uma pessoa
Renda fixa: são aplicações que possuem critérios predefinidos de rendimento, ou seja, quais são as formas de correção do título investido e o limite de tempo para o dinheiro ficar investido
Renda variável: são investimentos com menor previsibilidade e que, por isso, são considerados mais arriscados. Estão mais sujeitos às oscilações do mercado, como juros, câmbio e preços de commodities. Em compensação, justamente por serem mais arriscadas, são aplicações com expectativas de maiores rendimentos

Perfis de investidor:
- Conservador: com baixa tolerância ao risco, busca ativos mais seguros para investir, com garantias maiores de retorno, mesmo que a rentabilidade seja menor
- Moderado: tem uma tolerância maior ao risco, portanto possui mais ativos arriscados em sua carteira de investimentos, embora esse tipo de investidor ainda preze por segurança e garantias de retorno
- Arrojado: é o investidor com a maior disposição de enfrentar o risco de uma aplicação, desde que ela potencialmente traga retornos maiores. Está disposto a perder dinheiro com as oscilações de mercado se for preciso para alcançar uma maior rentabilidade em contrapartida

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