Comento o caso de Marcos, médico, 43 anos, que deseja se aposentar aos 65

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Michael Viriato Araujo

É professor e assessor da Casa do Investidor e autor do blog De Grão em Grão, na Folha. Foi professor de finanças do Insper, da USP e da FGV nos últimos 15 anos. Possui as certificações financeiras CFA e CFP

Pretendo me aposentar aos 65 anos pelo INSS (estimei cerca de R$ 5.000 a $ 6.000) e complementar a aposentadoria com R$ 10 mil. Se eu aplicar o valor do aluguel de meu imóvel (R$ 1.900) no Renda+ 2045, segundo os cálculos do site do governo, atinjo esse objetivo. Minha dúvida é o que fazer além disso e no que investir?

Marcos

médico, de 43 anos

A maioria das pessoas adia o planejamento para aposentadoria até o instante em que muitas vezes em que o plano é impraticável. Fazendo uma analogia, seria como se os indivíduos estivessem correndo em direção a um penhasco e só pensassem em parar de correr quando a própria inércia do movimento não permite mais salvar a queda. Hoje vamos avaliar o caso de Marcos, que está se planejando desde cedo.

A aposentadoria é um período que faz parte da vida de todos e só pode ser evitado em caso de morte precoce. Portanto, deve fazer parte dos planos de todos desde cedo e quanto antes planejar, menor é o custo a se pagar para ter o mesmo benefício.

Marcos já iniciou seu planejamento e tem um tempo adequado para revisar caso algo não ocorra dentro de sua estimativa. Entretanto, ainda lhe restam dúvidas sobre se seu plano já é suficiente para gerar a renda desejada.

Fachada de prédio do INSS na rua Santa Cruz, Vila Mariana
Fachada de prédio do INSS na rua Santa Cruz, Vila Mariana - Folhapress

Ele é médico, tem 43 anos, uma renda mensal de R$ 10 mil e tem capacidade de poupar quase metade desta renda.

Em sua mensagem, ele afirma que: "Pretendo me aposentar aos 65 anos pelo INSS (estimei cerca de R$ 5.000 a R$ 6.000) e complementar a aposentadoria com R$ 10 mil. Se eu aplicar o valor do aluguel de meu imóvel (R$ 1.900) no Renda+ 2045, segundo os cálculos do site do governo, atinjo esse objetivo. Minha dúvida é o que fazer além disso e no que investir?"

O patrimônio de Marcos hoje é formado por R$ 20 mil em produtos de liquidez, R$ 350 mil no imóvel que acabou de quitar e que pretende alugar, e R$ 8.000 em títulos do Tesouro Renda+ 2045.

Nesse planejamento sobre onde investir, uma falha natural de indivíduos é acreditar que devem aplicar hoje em ativos geradores de renda desde já. Lembre-se, o plano para a aposentadoria é formado de duas etapas básicas: o de formação de patrimônio e o de usufruto do benefício da aposentadoria.

Marcos está na primeira etapa. Nela, o foco do investimento não é o de ativos geradores de renda, mas naqueles mais adequados para fazerem você chegar à segunda etapa.

Calcule o que falta para sua independência financeira

Por exemplo, pensando em gerar renda no futuro, Marcos comprou um imóvel por meio de financiamento. A compra de imóvel financiado, só deve ser realizada em duas situações: se você precisa comprar para morar, ou se imagina que, durante o período de financiamento, o imóvel vai se valorizar mais do que a taxa do empréstimo. Essa segunda situação dificilmente ocorre.

Portanto, é possível que Marcos tenha pagado mais caro pelo imóvel que comprou do que o necessário e talvez, investindo em ativos de renda fixa já tivesse alcançado hoje um maior patrimônio.

Outra falha relevante na compra de imóvel para aposentadoria é considerar o aluguel como algo certo e assumir seu valor integral como renda líquida. Imóveis costumam ficar, em média, 6 meses sem alugar a cada 5 anos.

Isso quer dizer que, pelo menos, 10% do valor do aluguel estimado não será recebido devido a esta vacância. Além disso, nesse período de vacância, o proprietário terá que arcar com custos de condomínio e impostos, aumentando assim o consumo do aluguel. Também, parte do aluguel deverá ser gasto em manutenção, renovação do imóvel e taxas de aluguel. Logo, o percentual a descontar do aluguel estimado ultrapassa os 30%. Sem contar a maior alíquota de IR que o aluguel sofre em relação a outras aplicações.

Considerando a segunda conta de Marcos, ou seja, a relacionada ao título do Tesouro, ela está apenas meio certa. Ele concluiu que se investisse R$ 1.900 por mês no título do Tesouro Renda+2045 sua aposentadoria de R$ 10 mil mensais estaria garantida após os 65 anos. Esta não é a conclusão que o site do Tesouro apresenta.

O site do Tesouro Direto explica quantos títulos devem ser comprados por mês e que a renda só vale por 20 anos. O valor de R$ 1.800 que o portal divulga é apenas o valor da primeira compra.

Os títulos do Tesouro devem se valorizar por dois motivos: variação do IPCA e queda das taxas de juros. Portanto, Marcos logo pagará um valor bem superior ao da primeira aquisição.

Mas, ainda mais relevante é chamar a atenção que a renda desse título do Tesouro se extingue aos 85 anos. Portanto, se Marcos além desta idade, não terá mais patrimônio para usufruir de renda.

Portanto, se Marcos pretende usar os títulos do Tesouro Renda+, deve considerar também o investimento no título Tesouro Renda+ 2065 para que tenha uma renda de R$ 10 mil também a partir do momento que encerra a anterior.

Se fizer estes dois investimentos, na quantidade que a plataforma do Tesouro Direto recomenda que é de 565,83 para cada um dos dois títulos ao longo dos meses até os 65 anos no primeiro caso e até os 85 anos no segundo caso, terá sua aposentadoria desejada garantida.

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