Descrição de chapéu The New York Times

Como Los Angeles, a cidade obcecada por carros, encara os veículos autônomos

Waymo, da Alphabet, e que já opera em San Francisco e Phoenix, começou a transportar passageiros na capital da Califórnia com táxis que andam sozinhos

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Corina Knoll
Los Angeles | The New York Times

Em matéria de trânsito, Los Angeles é para os fortes. Cidade onde a maioria não consegue nem imaginar a vida sem automóvel, ela também oferece um desfile diário de frustrações: congestionamento, acidentes, obras, brigas, tédio.

Todo mundo que vem de outro estado tem história para contar. "Você acaba contaminado pela energia do pessoal, mas a diferença na cultura automobilística é brutal. O que se vê é muito egoísmo, tipo: 'Tenho compromisso, sai da minha frente.'

Difícil alguém que coopere – tem muita buzina, excesso de velocidade, ziguezague", conta Tamara Siemering, atriz de 30 anos que chegou de Sacramento há um ano.

Um táxi Jaguar autônomo Waymo dirige ao longo de uma rua em Santa Monica, Califórnia - Getty Images via AFP

Entrando em cena agora, há um "motorista" completamente diferente, que se autointitula controlado e racional, respeitoso e obediente – ou seja, inexistente.

A Waymo, empresa de táxis autônomos que já opera em San Francisco e Phoenix, começou a transportar passageiros em uma pequena área do condado de Los Angeles.

A frota de utilitários brancos da Jaguar – caracterizados pelo dispositivo escuro giratório no teto que se comunica com uma série de câmeras e sensores – foi aprovada para uso comercial, por enquanto oferecendo corridas gratuitas para poucos, mas em breve será um serviço pago com preços semelhantes aos praticados pelo Uber e pelo Lyft.

Pertencente à Alphabet, empresa que também inclui o Google, a Waymo promove seus veículos oferecendo "os motoristas mais experientes do mundo".

Já há uma lista de 50 mil pessoas à espera da oportunidade de cruzar Los Angeles em um deles. Há quem se diga curioso para conferir a tecnologia; outros se confessam atraídos pela ideia de evitar papo furado e a pressão de dar gorjeta.

Entretanto, os líderes cívicos protestaram contra a novidade, alegando riscos para a segurança, enquanto os sindicatos temem os efeitos que podem ter sobre um mercado de trabalho já saturado. Além disso, muitos não sabem dizer se confiariam em ver o banco do motorista vazio.

Siemering faz parte desse grupo. Ela quer saber mais sobre o desempenho dos carros robôs no trânsito intenso da cidade antes de embarcar na tendência.

"Ainda me parece meio duvidoso; quero esperar mais um pouco para ver o que acontece. Não quero bancar a cobaia." Ela tem um Ford Taurus '96, mas se envolveu em um acidente em janeiro. Por enquanto, pretende continuar pegando ônibus e dependendo dos motoristas humanos do Uber e do Lyft para ir para o bar de caviar onde trabalha, em West Hollywood.

A princípio, a presença da Waymo será mínima; com menos de 50 carros, seu âmbito de atuação se resume a pouco menos de 165 quilômetros quadrados, que se estendem de Santa Monica ao centro de Los Angeles; também não vai operar no aeroporto, e seus carros não circulam pelas vias expressas tão características da região.

Segundo Chris Ludwick, diretor de gestão de produtos, a empresa reconhece essas limitações, mas prefere prudência em matéria de expansão, ao mesmo tempo que atende aqueles que precisam fazer corridas mais curtas – e espera que o passageiro mais nervoso em breve descubra que poucas experiências se comparam a uma corrida exclusiva em um carro de luxo.

"Ter um espaço próprio que se pode controlar é meio mágico. Você pode ouvir suas músicas favoritas, mudar a temperatura a seu gosto... é seu espaço. Pode ser o que quiser, fazer o que bem entender. Acima de tudo, nós nos empenhamos para garantir a segurança; por isso, levamos o comportamento no trânsito muito a sério."

No fim do ano passado, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, enviou uma carta à Comissão de Serviços Públicos da Califórnia, frisando que os veículos autônomos precisam de mais testes e que as jurisdições locais deveriam ter maior poder de atuação sobre eles.

Além disso, citou inúmeros problemas ocorridos em San Francisco, como casos em que o veículo ignorou a fita amarela de isolamento e as placas de sinalização, entrando na área em que ocorria um incêndio e estacionando sobre a mangueira, contribuindo para a morte de uma pessoa ao bloquear a passagem da ambulância e arrastando um pedestre por mais de seis metros. Algumas das ocorrências mais sérias envolveram a Cruise, empresa que, em outubro de 2023, recebeu ordens da agência reguladora estadual de suspender a oferta de táxis.

Entretanto, dezenas de grupos apoiaram a expansão da Waymo para Los Angeles quando o órgão estava avaliando a possibilidade, no ano passado, entre eles organizações de defesa de deficientes, alegando que o táxi autônomo proporciona mais liberdade, permitindo que esse passageiro não dependa de ninguém.

"É a realização do sonho de um número imenso de pessoas, o de ter autonomia completa sobre o transporte como qualquer outro cidadão com habilitação", escreveu Mark A. Riccobono, presidente da Federação Nacional dos Deficientes Visuais, à entidade, em fevereiro.

A companhia, que em outubro passado começou promovendo passeios pela cidade em período experimental, recebeu o sinal verde para a ampliação dos serviços no começo de março, e pretende atuar também no condado de San Mateo, região norte do estado, e em Austin, no Texas.

Os sindicatos e os trabalhadores da categoria temem que a chegada dos veículos autônomos ponha em risco sua subsistência, pressionando ainda mais os motoristas, que já penam com a inflação, o alto preço dos combustíveis e a baixa compensação. "Estamos tendo de trabalhar o dobro de horas para manter a renda e vemos aí os robôs assumindo o setor", disse Nicole Moore, presidente da Rideshare Drivers United, organização com 20 mil motoristas associados na Califórnia.

Embora a Waymo tenha fãs ardorosos em Phoenix e San Francisco, há quem diga que não cabe em uma metrópole cujo trânsito matou 340 pessoas em 2023, ano em que esse número de óbitos superou o de homicídios pela primeira vez em nove anos.

"Não confio em uma máquina de quase duas toneladas a cem quilômetros por hora, e também não acho que um software pode tomar decisões melhores que um ser humano. Somos sujeitos a erros, sim, mas inventamos o computador", afirmou Jim Honeycutt, gerente de obras de 75 anos que está trabalhando na construção de diversas estações de metrô em Los Angeles.

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