Descrição de chapéu Financial Times Energia Limpa

Empresa fundada por Bill Gates quer iniciar construção de usina nuclear em junho

TerraPower se candidatou para construir reator refrigerado a sódio perto de usina a carvão em Wyoming, nos EUA

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Jamie Smyth
Nova York | Financial Times

A TerraPower, empresa fundada por Bill Gates, planeja começar a construir em junho a primeira de uma nova geração de usinas nucleares nos Estados Unidos, juntando-se a uma corrida com rivais russos e chineses para desenvolver e exportar reatores de custo mais baixo.

Chris Levesque, presidente-executivo da TerraPower, disse ao Financial Times que a empresa solicitará uma licença de construção dos reguladores dos EUA neste mês para seu reator, que é refrigerado com sódio líquido em vez de água.

Ele disse que os reatores Natrium da empresa poderiam ser construídos por cerca da metade do custo dos reatores padrão refrigerados a água, que têm sido o padrão do setor de energia nuclear desde meados do século 20.

Representação da usina nuclear de Natrium planejada para Kemmerer, Wyoming, nos Estados Unidos - Divulgação/Terrapower

A TerraPower, que arrecadou quase US$ 1 bilhão em financiamento privado, assinou um acordo com a Emirates Nuclear Energy Corporation em dezembro para gerar eletricidade e produzir hidrogênio com reatores Natrium nos Emirados Árabes Unidos.

O governo dos EUA prometeu à empresa fornecer até US$ 2 bilhões em incentivos para concluir sua primeira usina em Kemmerer, Wyoming.

Levesque disse que o trabalho de construção, perto de uma usina de energia a carvão, começaria em junho, independentemente de a empresa receber ou não uma licença da Nuclear Regulatory Commission [Comissão Reguladora Nuclear] até essa data.

Isso porque grande parte do trabalho inicial de construção está relacionado a atividades não nucleares devido ao design inovador do reator Natrium, disse Levesque, acrescentando que a TerraPower planeja colocar a usina em operação em 2030.

Chris Levesque (esq.), presidente-executivo da TerraPower, empresa de energia nuclear fundada por Bill Gates - Sarah Silbiger - 25.abr.2023/Reuters

"Usar sódio líquido para refrigeração em vez de água é um divisor de águas", disse Levesque, acrescentando que o alto ponto de ebulição de quase 900 °C para o metal líquido traz economias significativas em comparação com a água.

"As usinas Natrium custarão a metade do que custam as usinas com reatores de água leve. E estamos avançando com nosso projeto de forma bastante agressiva."

A TerraPower é uma das dezenas de empresas que disputam o desenvolvimento de uma nova geração de reatores menores e mais eficientes, que defensores da energia nuclear destacam como sendo essenciais para combater as mudanças climáticas.

Eles são frequentemente chamados de reatores modulares pequenos (SMRs, na sigla em inglês) e geralmente têm uma capacidade de energia de até 300 MW, o que equivale a cerca de um terço das usinas padrão.

Empresas dos EUA estão tentando alcançar os rivais da Rússia e da China, controlados pelo Estado, que implantaram duas usinas de energia com reatores SMR: uma usina de energia flutuante que abastece a cidade russa de Pevek e um reator em Shidao Bay, na China.

Nos EUA, o setor enfrenta desafios devido a taxas de juros mais altas, custos crescentes e escassez de urânio altamente enriquecido necessário para alimentar a nova geração de reatores.

Em novembro, a NuScale, concorrente com sede no Oregon, foi forçada a cancelar os planos de construir o primeiro SMR nos EUA quando empresas de energia se opuseram a um aumento de 50% no preço da energia, que ela propôs para cobrir os custos crescentes.

A TerraPower não forneceu estimativas dos preços que cobraria pela energia gerada pelo Natrium.

O reator de Kemmerer serviria como um projeto de demonstração, mas se tornaria uma usina comercial em pleno funcionamento após a conclusão.

A TerraPower e seu parceiro de serviços públicos PacifiCorp —uma unidade da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett— disseram em outubro de 2022 que estudariam a viabilidade de implantar mais cinco reatores Natrium até 2035.

Adam Stein, diretor de inovação em energia nuclear no Breakthrough Institute, um think-tank com sede em Washington, disse que a TerraPower está em uma posição melhor do que muitas de suas concorrentes dos EUA porque tem financiamento seguro, não depende de mercados públicos e tem um design de reator competitivo.

"Reatores refrigerados a sódio operam em pressões mais baixas, o que requer menos sistemas de segurança. Isso reduz problemas que poderiam ocorrer com a usina e reduz custos porque eles podem ser construídos com materiais mais simples e mantendo a segurança", disse.

O reator Natrium da TerraPower, desenvolvido em parceria com a GE Hitachi Nuclear Energy, é ligeiramente maior do que a maioria dos SMRs, com uma capacidade de energia de 345 MWe.

Ele também contém um sistema de armazenamento de energia baseado em sal fundido, que pode aumentar a saída do sistema para 500 MWe por mais de cinco horas e meia quando necessário.

"Estamos armazenando o calor em grandes tanques de sal fundido, como as usinas solares, e isso é uma grande bateria térmica. Uma usina como a Natrium que pode se ajustar rapidamente com esse armazenamento de energia embutido a torna muito valiosa", disse Levesque, que participará de uma cúpula de energia nuclear em Bruxelas esta semana.

Ele disse que a TerraPower enfrentou algumas críticas sobre o alto nível de financiamento governamental prometido para seu projeto em Wyoming, mas acrescentou que o valor estratégico do reator Natrium para os EUA é significativo.

"A energia nuclear tem ótimos atributos comerciais, mas também tem enormes atributos geopolíticos. Então você tem que olhar para a concorrência na China e na Rússia, que estão de olho na África, Indonésia e em outros lugares como mercados futuros."

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