Descrição de chapéu varejo

Nissei, que hoje fatura R$ 2,7 bi, já recorreu a pastelaria para não depender de banco

Produtos de conveniência são relevantes no faturamento da sétima maior rede de drogarias do país, que chega a SP

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São Paulo

Sérgio Maeoka tinha uma decisão a tomar em 1986: a rede de farmácias que o empregava fechou as portas e ele pensava em abrir o seu próprio varejo de produtos farmacêuticos. O filho de cafeicultores já trabalhava no ramo desde os 14 anos, como office-boy. Foi também balconista e gerente, acumulando experiência em três pequenas redes do Paraná. Sabia que estava preparado.

Mas o dinheiro era curto: tinha US$ 10 mil (hoje cerca de R$ 50 mil) para começar. O ponto escolhido para a farmácia, em Curitiba, somava 40 metros quadrados. Temendo não ter capital de giro para manter o negócio de pé, ele usou parte do dinheiro para abrir também uma pastelaria.

"Imaginei que não iria conseguir sobreviver, tendo família para cuidar, pagar aluguel, as despesas... Decidi montar a pastelaria, que era o meu plano B, e toquei os dois negócios juntos", disse Maeoka à Folha.

Dois homens de origem oriental dentro de uma farmácia
Alexandre Maeoka, CEO da Nissei (à esq.), ao lado do pai, Sérgio Maeoka, fundador da rede: empresa nasceu em Curitiba em 1986, com uma pastelaria para ajudar no capital de giro. - Karime Xavier/Folhapress

Foi assim que teve origem a Nissei, a sétima maior rede de farmácias do país, dona de 386 lojas, que em 2023 fechou faturamento de R$ 2,7 bilhões e lucro de R$ 8,6 milhões. Líder no varejo farmacêutico do Paraná, a empresa tem capital aberto, mas suspendeu o plano de IPO (oferta pública de ações) em meio à pandemia e ainda aguarda o melhor momento para negociar os papéis.

Enquanto isso, mira a expansão na cidade de São Paulo e região metropolitana, Baixada Santista e Vale do Paraíba, regiões em que a Nissei desembarcou em outubro a partir da compra de pontos da Poupafarma, que está em recuperação judicial. A rede curitibana hoje é dona de 50 lojas em território paulista e deve dobrar o tamanho no estado até o final deste ano. Das 50 novas lojas, 20 devem estar na capital, boa parte delas na periferia.

"Não vamos abrir lojas em shopping, onde a margem é muito reduzida", diz Maeoka. "Prezamos nossos custos operacionais."

Outras 30 lojas devem ser abertas no Paraná (onde a rede está presente em todas as cidades com mais de 25 mil habitantes) e em Santa Catarina, estado que soma 20 pontos de venda. O investimento aproximado na expansão é de R$ 80 milhões, ou R$ 1 milhão por loja, em média.

As maiores redes de farmácias do país

Segundo ranking da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias)

  1. Raia Drogasil

    (Droga Raia e Drogasil)

  2. DPSP

    (Drogaria São Paulo e Drogaria Pacheco)

  3. Pague Menos

  4. Farmácias São João

  5. Panvel

  6. Drogaria Araújo

  7. Nissei

  8. Drogaria Venancio

  9. Farmácia Indiana

  10. Drogal

Os pontos da Nissei contam com um diferencial: vendem itens de conveniência e produtos de mercearia, no estilo das drugstores americanas. São lojas de 300 metros quadrados, maiores que a média das farmácias. Assim, é possível encontrar pão, leite, iogurte, salgadinhos, palmito e café nas gôndolas da rede, dividindo espaço com analgésicos e antitérmicos.

"É como ter uma Oxxo, um pouco menor", brinca Maeoka, referindo-se à rede de lojas de conveniência do grupo Nós (resultado da associação entre a brasileira Raízen e a mexicana Femsa), que acaba de atingir a marca de 500 lojas inauguradas em três anos de operação. Na Nissei, a conveniência responde por 9% a 12% das vendas, uma fatia significativa em comparação à concorrência, onde os itens de conveniência costumam ter importância marginal.

"A maioria dos concorrentes tem chicletinho no checkout e uma geladeira de bebidas", diz Alexandre Maeoka, presidente da Nissei, o filho mais velho do fundador (a irmã, Patrícia, não trabalha na rede). "Algumas lojas maiores têm freezer de sorvete. Mas nós temos o sorvete, o chiclete, o salgadinho, a bisnaguinha, o pão de hambúrguer, somos grandes revendedores de Coca-Cola", diz o CEO, formado em Engenharia da Computação. "Afinal, de analgésico você não precisa todo dia. Mas de leite, sim."

Para atender a expansão, o grupo vai abrir no segundo semestre um novo centro de distribuição na região metropolitana de São Paulo. "A reposição nas lojas é feita três vezes por semana", diz Alexandre.

loja com prateleira cheia de salgadinhos, ao lado de balcão refrigerado
Loja da Nissei, com uma divisão dedicada a produtos de conveniência, como salgadinhos, pães, bebidas e iogurtes. - Divulgação

Os recursos para expansão vêm de um aporte de R$ 179 milhões feito em dezembro pela família Maeoka, e de uma emissão de R$ 250 milhões em certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) realizada em julho.

"Deixei de depender de pastelaria para abrir farmácia a partir da quarta loja Nissei", diz Maeoka, um "sansei", neto de japoneses que, para cada uma das três primeiras lojas Nissei que abriu, inaugurou também uma pastelaria. "Você faz o pastel hoje, vende e o dinheiro entra", diz Maeoka. "Na farmácia, você precisa montar estoque e esperar o cliente. Não dava para arriscar."

Ele não tinha experiência com pastéis ou qualquer outro tipo de quitute: depois de aprender sobre controle financeiro, gestão de estoque e de pessoas nas redes de farmácia onde trabalhou, foi fazer um curso de salgados. Os oito primeiros anos tiveram um ritmo alucinante de trabalho.

"Eu chegava à pastelaria por volta das 6h da manhã. Deixava os pastéis prontos, o café, e um pouco depois das 7h ia abrir a farmácia, que ficava do outro lado da cidade", diz. A ex-esposa, a mãe e a irmã do empresário tocavam a pastelaria. Na hora do almoço, como o movimento era grande, Maeoka voltava para ajudar e almoçar. Depois regressava à farmácia e voltava de novo para os pastéis no fim do dia, para deixar a massa pronta.

"No começo eu tinha um Chevettinho. Mas depois tive que vender o carro e fazer tudo a pé ou de ônibus", diz o empresário de 63 anos. "Me virar, né? O dinheiro da pastelaria era para sustentar minha família."

Em 1994, vendeu as pastelarias para se dedicar apenas ao varejo farmacêutico. Na capital paulista, onde a colônia japonesa é expressiva e o consumo de pastéis é uma paixão local, Maeoka não pensa em reviver os velhos tempos.

"Tenho uma boa lembrança do passado, a pastelaria me ajudou bastante. Mas agora é hora de conquistar São Paulo com as farmácias."

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