Descrição de chapéu corrupção

Trafigura, com executivos processados na Lava Jato, se declara culpada de suborno no Brasil

Em 2020, procuradores acusaram negociadora de commodities de corrupção em negociações com a Petrobras; acordo nos EUA é acertado em US$ 127 milhões

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Lucia Kassai Archie Hunter Jack Farchy
Bloomberg

A Trafigura se declarou culpada de uma década de subornos no Brasil, no mais recente de uma série de casos que expuseram uma cultura de corrupção generalizada dentro das maiores tradings de commodities do mundo.

A empresa firmou um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA em um tribunal federal em Miami nesta quinta-feira (28), no valor de cerca de US$ 127 milhões (R$ 635 milhões), em linha com o que provisionou em dezembro para resolver o caso.

Sede da Trafigura, em Genebra, na Suíça
Sede da Trafigura, em Genebra, na Suíça - Reuters

Embora as suas maiores rivais tenham admitido ter pago subornos nos últimos anos para resolver investigações, esta é a primeira vez que a Trafigura faz isso. Investigações de anos revelaram uma cultura de irregularidades no setor em vários países do mundo.

O comércio de mercadorias é dominado por uma série de empresas, na sua maioria privadas, que operam com pouca regulamentação e supervisão, mas que exercem uma enorme influência na economia global. As tradings globais faturaram um total de cerca de US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) em 2023, de acordo com estimativas da consultoria Oliver Wyman.

Para a Trafigura —uma das maiores— a confissão de culpa por irregularidades entre 2003 e 2014 é uma nova mancha na sua reputação depois de a empresa ter passado as últimas duas décadas trabalhando para superar um incidente envolvendo a descarga de resíduos perigosos na Costa do Marfim em 2006.

"Estes incidentes históricos não refletem os valores da Trafigura nem a conduta que esperamos de cada funcionário. Eles são particularmente decepcionantes, dados os nossos esforços sustentados ao longo de muitos anos para incorporar uma cultura de conduta responsável na Trafigura", disse o CEO, Jeremy Weir, em comunicado.

"Estamos satisfeitos que o Departamento de Justiça tenha reconhecido as medidas que tomamos para investir em compliance, aprimorando nossas políticas, procedimentos, processos e controles e, a partir de 2019, proibindo o uso de terceiros para origem de negócios."

O caso é o mais recente que teve início na operação Lava Jato. As rivais da Trafigura, Vitol e Glencore, já admitiram que pagaram subornos no Brasil para resolver investigações de corrupção mais amplas, mas a Trafigura negava até agora as acusações de irregularidades.

Quando os procuradores brasileiros em 2020 processaram a Trafigura e vários de seus executivos em uma ação civil alegando corrupção em suas negociações com a Petrobras, a companhia disse que as acusações "não foram apoiados por evidências".

Rodrigo Berkowitz, ex-operador da Petrobras, se declarou culpado nos EUA, em 2019, de acusações de que recebeu subornos de várias tradings e concordou em cooperar com os investigadores.

A Trafigura revelou a investigação nos EUA em dezembro, dizendo que seria resolvida "em breve" e que havia feito uma provisão de US$ 127 milhões. A trading enfrenta também um caso separado na Suíça, onde a empresa e um de seus principais executivos de longa data foram acusados de suborno de funcionários públicos em Angola.

A rival Gunvor concordou este ano em pagar mais de US$ 660 milhões para resolver acusações de suborno, enquanto a Vitol assinou um acordo de diferimento da acusação em 2020 e pagou US$ 164 milhões depois de admitir que havia subornado autoridades no Equador, México e Brasil.

A Glencore pagou em 2022 mais de US$ 1 bilhão após se declarar culpada de acusações de suborno e manipulação de mercado nos EUA, Reino Unido e Brasil.

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