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O que a Folha pensa Banco Central

BC indica mais incerteza com queda da inflação

Embora incipiente, preocupação pode tornar lento o corte de juros; caminho seguro seria o controle dos gastos do governo

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Fachada do Banco Central, em Brasília (DF) - Leonardo Sá/Agência Senado

A onda inflacionária que se seguiu à pandemia tem sido contida, no Brasil e no mundo, a um custo surpreendentemente baixo para a atividade econômica e o mercado de trabalho. O outro lado da moeda é que o fenômeno, ainda a ser compreendido por inteiro, pode tornar mais lento o controle definitivo da escalada dos preços.

Não por acaso, a palavra "incerteza" e suas variações aparecem nada menos que 17 vezes na ata, divulgada nesta semana, da mais recente reunião do Banco Central destinada a definir a taxa básica de juros. Trata-se de uma elevação de mais de 100% ante as 8 menções encontradas na ata de janeiro.

Aqui e lá fora, as dúvidas principais dizem respeito ao cumprimento das metas de inflação num cenário de desemprego relativamente baixo e renda em alta —que favorece o consumo e pressiona preços, em particular nos serviços.

O BC relata que não mudou suas projeções para o IPCA, de 3,5% neste ano e 3,2% em 2025, compatíveis com a meta de 3% e a margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Indicou, entretanto, que está menos convicto.

Ao reduzir seus juros de 11,25% para 10,75% ao ano, previu nova queda de 0,5 ponto "na próxima reunião", abandonando o plural que vinha empregando até então.

Em português claro, a instituição deixou aberta a possibilidade de adotar um ritmo mais lento no corte dos juros, de modo a esfriar mais a atividade econômica e a geração de empregos.

Pode parecer cruel —e é material farto para demagogia política. No entanto a tolerância com a inflação não raro resulta em danos sociais mais graves e duradouros que os gerados por uma política circunstancial de aperto monetário.

Como divulgou o IBGE nesta quinta (28), o desemprego foi de 7,8% no trimestre encerrado em fevereiro, a menor taxa para o período desde os 7,5% de 2015. A renda média do trabalho subiu 4,29% acima da inflação em um ano.

Não são números espetaculares, mas bastante benignos para um período de juros ainda elevadíssimos, que muito dificilmente cairão abaixo de 9% anuais neste 2024. As estimativas centrais de mercado, aliás, são de uma Selic não inferior a 8,5% até o final de 2026.

Mesmo que não chegue a provocar estagnação ou recessão econômica, uma taxa dessa magnitude é constrangimento óbvio à expansão da atividade. O caminho virtuoso para reduzi-la não é leniência com a inflação, que prejudicaria sobretudo a população pobre, mas o controle de gastos orçamentários.

Ao rechaçar esse rumo, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) leva o país a um desempenho provavelmente medíocre, além de mais sujeito a riscos e incertezas.

editoriais@grupofolha.com.br

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