Tatuapé é queridinho das incorporadoras na zona leste

Bairro é responsável por dois terços dos lançamentos entre março de 2023 e fevereiro de 2024 na região

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Paulo Vieira
São Paulo

Se o emancipacionismo estivesse em voga, o bairro do Tatuapé poderia requerer armas, brasão e sua separação de São Paulo.

Essa capital informal da zona leste tem tudo: os prédios mais altos da cidade; a segunda maior reunião de bares e restaurantes dentre os bairros considerados polos gastronômicos paulistanos, segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes); o maior encontro de maritacas na hora do crepúsculo; e, no que concerne ao mercado imobiliário, números verdadeiramente superlativos.

Prédios do bairro Tatuapé, com fundo de céu azul sem nuvens; na porção abaixo da foto, o topo verde de árvores do parque Piqueri
Vista de predios do Tatuapé, na zona leste, com o parque Piqueri à frente - Eduardo Knapp/Folhapress

O Tatuapé é responsável por dois terços de todos os lançamentos residenciais entre março de 2023 e fevereiro de 2024 na zona leste (a parte mais central dela, que inclui Mooca, Brás e Belém), de acordo com o Secovi. E é ainda o bairro vice-campeão de toda São Paulo nos apartamentos vendidos entre janeiro e março, relata a consultoria Loft.

Se considerados os imóveis de tamanho médio (de 91 m² a 139 m²), lidera; entre os grandes (140 m² ou mais), ainda é pódio. O preço médio do metro quadrado do Tatuapé anunciado neste mês ficou em R$ 9.090, contra os R$ 10.013 de toda a cidade, ainda segundo a Loft.

Para os atores do setor, as virtudes do bairro são conhecidas há tempos. "É o epicentro da zona leste, onde todo mundo sonha morar", diz Guilherme Nahas, sócio-diretor da Diálogo Engenharia, que tem 30 edifícios na região.

No Tatuapé, estima o empresário, seus produtos são de 20% a 25% mais caros do que nos bairros vizinhos.

Para Helder Paranhos, diretor de incorporação da Tegra, com projetos por toda a cidade, "o Tatuapé é central em sua região, conhecido pela boa oferta de serviços e desejado por moradores do entorno, que querem elevar o padrão de moradia por conta dessa ótima estrutura de serviços do bairro."

Sob o nome Universo, a Tegra tem quatro produtos ali, dois deles já entregues, os condomínios Astro e Estrela, este último com 344 unidades de 55 m² a 65 m².

Já o Esfera, com previsão de entrega para 2024, visa quem quer mais espaço: os 288 apartamentos de até 109 m² dão direito a duas vagas de garagem e custam a partir de R$ 795.100. O Órbita, que demora um pouco mais para sair, vem com o plus das 31 salas comerciais.

O Universo está na avenida Celso Garcia, importante eixo de circulação que o uso e o tempo deteriorou, mas que começa, como mostra a própria movimentação do mercado imobiliário, a se recuperar.

Ali está uma das gemas do Tatuapé, a centenária confeitaria e restaurante Vera Cruz, que integra o Guia Turístico das Padarias do Estado de São Paulo e cujos bolos e pizzas têm seguidores fiéis.

Na ferramenta publicada pela Folha no aniversário da cidade deste ano e que indica o principal uso de cada bairro paulistano, o Tatuapé aparece como eminentemente residencial (45% de seu espaço), o que surpreende quem passa por suas ruas, especialmente a sul da Radial Leste, área de comércio vivíssimo, com presença inclusive de grifes que hesitam em cruzar o Tamanduateí.

É o caso da pizzaria Braz, que tem sete unidades em São Paulo, todas, exceto a do Tatuapé, nas zonas sul e oeste.

O Quintal do Espeto tem no bairro a maior de suas 11 casas, com capacidade para 2.000 pessoas e shows de medalhões do samba –na quarta (29), véspera do feriado de Corpus Christi, Péricles se apresenta por lá.

O mix, contudo, é bem mais variado, com direito a atrações hipsters que não fariam feio em Santa Cecília, Pinheiros ou na Vila Buarque.

Cervejarias artesanais, padarias que vendem pães de fermentação natural, barbearias, gastrobares e cafés com tabuletas charmosas na porta ocupam o centro nervoso do bairro, a sul da rua Azevedo Soares.

É por ali que está o edifício Figueira, o residencial mais alto da cidade, lançado em 2021 com 50 andares e 168 metros de altura. Aparentemente não satisfeita, a incorporadora Porte subiu no ano seguinte prédio ainda maior, o Platina 220, de uso misto e, este sim, o mais alto de São Paulo, com 172 metros.

Idealmente, o Platina 220 funcionaria como ímã para empresas na região, eliminando a necessidade de grandes deslocamentos dos trabalhadores habitantes da "leste" e os consequentes congestionamentos da Radial Leste e da linha 3 do metrô.

Caso perguntados, os moradores da região diriam em peso que querem mesmo é ficar por ali, mais ou menos como as muitas maritacas, que, lenda urbana ou não, insistem em voltar todo fim de tarde para o edifício de tijolinhos aparentes da rua Aguapeí, no coração do bairro.

O Tatuapé, como o Brasil naquela frase famosa, não é para principiantes.

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