Como Jeff Bezos está tentando consertar o Washington Post

Fundador da Amazon reiterou apoio ao CEO do jornal, Will Lewis, que enfrentou críticas após renúncia de editora-executiva

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Benjamin Mullin Katie Robertson
Nova York | The New York Times

Quando a equipe do jornal The Washington Post se reuniu na Redação no início de maio para celebrar a conquista de três prêmios Pulitzer, uma pessoa estava visivelmente ausente: Will Lewis, o publisher e CEO da empresa.

Isso porque Lewis estava em Nova York se encontrando com Jeff Bezos, o bilionário fundador da Amazon e dono do Post, que estava na cidade para participar do Met Gala, segundo duas pessoas a par da reunião.

A dupla estava discutindo uma reorganização para melhorar a perspectiva de negócios do Post. Isso incluía a criação de um "terceiro departamento de notícias" dentro do Post para se concentrar em novos produtos editoriais, uma ideia que teve respaldo de Bezos, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas.

O empresário Jeff Bezos, fundador da Amazon e dono do jornal The Washington Post - Mandel Ngan - 22.out.2019//AFP

A decisão de Lewis de dar sequência ao plano abalou o Post. Sally Buzbee, editora-executiva do jornal, renunciou abruptamente, deixando muitos na Redação chateados.

Desde então, revelações sobre a resposta de Lewis a um escândalo antigo levantaram suspeitas sobre seu comportamento antes e depois de se juntar ao Post —e até mesmo dúvidas sobre se ele sobreviveria em seu cargo.

Até agora, Bezos parece estar apoiando Lewis, que assumiu o cargo no jornal neste ano. O bilionário recentemente expressou seu apoio ao publisher durante uma de suas conversas periódicas, segundo pessoas com conhecimento da interação.

As decisões de Bezos de reformular o Post destacam o seu papel central no jornal que comprou por mais de US$ 250 milhões há mais de 10 anos.

O empresário, no entanto, dedica mais tempo a outros projetos, incluindo sua empresa de exploração espacial Blue Origin, deixando as operações diárias e a estratégia editorial para o CEO e os principais editores. Mas ele é, em última instância, a figura mais importante do Post.

Ele nomeia os CEOs do Post e define a agenda de seus negócios, de acordo pessoas com conhecimento de suas interações com pessoas no jornal. Ele aprova o orçamento e aconselha o jornal em questões de negócios por meio de ligações regulares com o CEO e reuniões ocasionais com sua equipe de liderança.

Bezos disse a interlocutores que acredita que o Post poderia alcançar 100 milhões de assinantes pagantes, uma conquista que o catapultaria muito à frente dos concorrentes —o jornal hoje tem cerca de 2,5 milhões.

Durante a última conversa que Buzbee teve com Bezos antes de renunciar, ele a encorajou a liderar o "terceiro departamento de notícias", que abrigaria o jornalismo de serviço e redes sociais, de acordo com uma pessoa com conhecimento das conversas.

No passado, Bezos com frequência instigou Buzbee a pensar de forma ousada ao considerar iniciativas digitais ambiciosas, disseram outras duas pessoas.

Bezos não respondeu a vários pedidos de comentário. Em comunicado, o Post disse: "Somos gratos pelo apoio contínuo e compromisso de nosso proprietário com o The Washington Post."

Nos sete primeiros anos após a aquisição, a equipe mais do que dobrou e as assinaturas aumentaram consideravelmente, ajudadas por reportagens vigorosas sobre o governo Trump. Mas a audiência do Post foi reduzida pela metade desde a eleição de 2020, Lewis disse recentemente à redação, e a empresa teve prejuízo de US$ 77 milhões em 2023.

Sede do jornal The Washington Post, em Washington, nos EUA - ERIC BARADAT/Eric Baradat/AFP

Bezos, ciente dos crescentes problemas, começou a prestar mais atenção à sua aquisição no ano passado. Em junho de 2023, a empresa anunciou que Fred Ryan, CEO desde 2014, deixaria o cargo e que Patty Stonesifer, uma executiva de tecnologia experiente e confidente de Bezos, assumiria temporariamente.

Stonesifer organizou reuniões entre Bezos e os principais editores e executivos de negócios na sede do Post em outubro.

Ao longo das reuniões, Bezos fez perguntas sobre a cobertura jornalística, muitas delas focadas em como o Post poderia transformar suas reportagens em produtos úteis aos usuários, de acordo com duas pessoas familiarizadas com seus comentários. Ele também estava focado em alcançar novos leitores, especialmente aqueles no interior do país.

Ele contratou Lewis, um ex-repórter que se tornou executivo de mídia, depois que Stonesifer trabalhou com a empresa de recrutamento Sucherman para encontrar um CEO permanente.

Antes de Lewis ser contratado, o Post examinou alegações de que ele tinha ligações com um dos períodos mais sombrios da história da imprensa britânica.

Lewis disse que, enquanto trabalhava para a News Corp de Rupert Murdoch na década anterior, foi encarregado de limpar um escândalo de grampos telefônicos que levou ao fechamento de um dos tabloides mais populares do país.

Algumas vítimas alegaram que ele ajudou a encobrir evidências de dolo —acusações que Lewis negou repetidamente.

Stonesifer pesquisou as consequências do escândalo, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. Ela ficou satisfeita com sua explicação e confiante de que ele era o executivo certo para comandar o Post, disse o interlocutor.

Lewis, que é britânico, foi nomeado CEO em novembro, após um jantar com Stonesifer e Bezos em sua mansão no bairro de Kalorama, em Washington, e começou em seu novo cargo em janeiro.

As coisas pareciam relativamente calmas até Lewis substituir Buzbee este mês. Depois que Buzbee renunciou, o New York Times relatou que ela havia entrado em conflito em meados de maio com Lewis sobre uma decisão de cobrir uma decisão judicial envolvendo ele e outros executivos em um caso ligado ao escândalo de interceptação telefônica. Lewis negou pressionar Buzbee.

A ex-editora-executiva do Washington Post, Sally Buzbee, em evento do jornal realizado em 2022 - Anna Moneymaker/Anna Moneymaker/Getty Images via AFP

Um repórter da NPR, David Folkenflik, posteriormente confirmou a notícia e disse que Lewis, depois de ter sido contratado para o cargo no Post, ofereceu a ele uma entrevista exclusiva em troca de ignorar uma reportagem sobre o escândalo, um acordo mal visto no jornalismo.

Lewis reconheceu ter tido uma conversa privada com Folkenflik, a quem chamou de "ativista".

As revelações indignaram muitos jornalistas do Post. Lewis desde então emitiu um memorando conciliatório aos membros Redação e se reuniu com eles nesta semana em pequenos grupos para explicar ssua visão para o jornal e os eventos das últimas semanas.

A equipe do Post também recebeu uma pesquisa de opinião interna em 5 de junho sobre os novos planos de Lewis, como a criação da terceira divisão e o uso de inteligência artificial.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.