Agência de aviação dos EUA investiga titânio usado em aviões da Boeing e Airbus

Suspeita é que material foi liberado com documentação falsa e sem os testes de segurança exigidos

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Mark Walker
Washington | The New York Times

Alguns jatos recentemente fabricados pela Boeing e Airbus têm componentes feitos de titânio que foram vendidos com documentação falsa. De acordo com um fornecedor das fabricantes de aviões, foi verificada a autenticidade do material levantando preocupações sobre a integridade estrutural dessas aeronaves.

Os documentos falsificados estão sendo investigados pela Spirit AeroSystems, que fornece fuselagens para a Boeing e asas para a Airbus, e também pela FAA (Administração Federal de Aviação Civil dos EUA). A investigação ocorre após um fornecedor de peças encontrar pequenos furos no material devido à corrosão.

Aviões em aeroporto de Toronto, no Canadá
Aviões da Boeing e Airbus estão sob investigação de agência da aviação dos EUA - Charly Triballeau/AFP

Em comunicado, a FAA disse que está investigando a extensão do problema e tentando determinar as consequências para a segurança a curto e longo prazo para os aviões que foram fabricados usando essas peças. Não está claro quantos aviões têm peças feitas com o material questionável.

"A Boeing fez uma divulgação voluntária à FAA sobre a aquisição de material por meio de um distribuidor que pode ter falsificado ou fornecido registros incorretos", disse o comunicado. "A Boeing divulgou um boletim descrevendo maneiras pelas quais os fornecedores devem permanecer alertas para o potencial de registros falsificados."

A revelação ocorre em um momento de investigação sobre a Boeing e a indústria da aviação em geral, que está lidando com uma série de contratempos e questões de segurança. Em janeiro, uma tampa de porta se soltou de um jato Boeing 737 Max 9 durante o voo, levando a várias investigações federais. A peça que causou o acidente foi montada pela Spirit, autora da denúncia sobre as peças de titânio.

Em abril, a Boeing informou à FAA sobre um episódio separado envolvendo registros de inspeção potencialmente falsificados relacionados às asas dos aviões 787 Dreamliner. A Boeing relatou à FAA que pode não ter realizado as inspeções necessárias envolvendo as asas do jato e que precisaria reinspecionar alguns dos Dreamliners ainda em produção.

Em 30 de maio, a Boeing apresentou um plano à entidade de aviação com melhorias de segurança que planejava fazer e se comprometeu a participar de reuniões semanais com a agência. O CEO da Boeing, Dave Calhoun, deve testemunhar na terça-feira (18) para um painel do Senado para falar sobre as questões de segurança da empresa.

O uso de titânio potencialmente falso, que não foi relatado anteriormente, ameaça estender os problemas da indústria para a Airbus, a concorrente europeia da Boeing.

As aeronaves que incluíam componentes feitos com o material foram construídas entre 2019 e 2023, incluindo alguns jatos Boeing 737 Max e 787 Dreamliner, bem como Airbus A220, de acordo com três pessoas familiarizadas com o assunto que falaram sob condição de anonimato porque não estavam autorizadas a falar publicamente. Não está claro quantos desses aviões estão em serviço ou quais companhias aéreas os possuem.

A Spirit está tentando determinar a origem do titânio, se ele atende aos padrões adequados apesar de sua documentação falsa, e se as peças feitas do material são estruturalmente sólidas o suficiente para resistir ao longo do tempo de uso projetado dos aviões, disseram autoridades da empresa. A Spirit disse que está tentando determinar a maneira mais eficiente de remover e substituir as peças afetadas, se isso acabar sendo necessário.

"Isso se trata de documentos que foram alterados, forjados e falsificados", disse Joe Buccino, porta-voz da Spirit. "Assim que percebemos que o titânio falsificado entrou na cadeia de suprimentos, imediatamente contivemos todas as peças suspeitas para determinar a extensão dos problemas."

O titânio em questão foi usado em uma variedade de peças de aeronaves, de acordo com autoridades da Spirit. Para o 787 Dreamliner, isso inclui a porta de entrada de passageiros, portas de carga e um componente que conecta os motores à estrutura da aeronave. Para o 737 Max e o A220, as peças afetadas incluem um escudo térmico que protege um componente, que conecta o motor de um jato à estrutura, do calor extremo.

Tanto a Boeing quanto a Airbus disseram que seus testes dos materiais afetados até agora não mostraram qualquer indício de problemas.

A Boeing disse que comprou diretamente a maior parte do titânio usado em sua produção de aviões, então a maior parte de seu suprimento não foi afetado.

"Este problema que afeta toda a indústria diz respeito a alguns envios de titânio recebidos por um conjunto limitado de fornecedores, e os testes realizados até o momento indicaram que a liga de titânio correta foi usada", disse a Boeing em comunicado. "Para garantir a conformidade, estamos removendo quaisquer peças afetadas em aviões antes da entrega. Nossa análise mostra que a frota em serviço pode continuar voando com segurança."

Da mesma forma, a Airbus afirmou que "a aeronavegabilidade do A220 permanece intacta". "Foram realizados numerosos testes em peças provenientes da mesma fonte de fornecimento", disse um porta-voz da Airbus em comunicado. "A segurança e a qualidade de nossas aeronaves são nossas prioridades mais importantes, e estamos trabalhando em estreita colaboração com nosso fornecedor."

A Agência Europeia de Segurança da Aviação não respondeu a um pedido de comentário.

O problema relembre um caso de 2019, quando um fornecedor de material turco, Turkish Aerospace Industries, comprou um lote de titânio de um fornecedor na China, de acordo com pessoas familiarizadas com o tema. A empresa turca vendeu esse titânio para várias empresas que fabricam peças de aeronaves, e elas chegaram à Spirit, que as usou em aviões da Boeing e Airbus.

Em dezembro de 2023, uma empresa italiana que comprou o titânio da Turkish Aerospace Industries notou que o material parecia diferente do que a empresa normalmente recebia. A Titanium International Group também descobriu que os certificados que acompanhavam o objeto não pareciam autênticos.

A Turkish Aerospace Industries não respondeu a um pedido de comentário.

A Spirit começou a investigar o assunto, e a empresa notificou a Boeing e a Airbus em janeiro que não conseguia verificar a origem do titânio usado para fabricar certas peças. O Titanium International Group disse à Spirit que, quando comprou o material em 2019, não tinha ideia de que a documentação havia sido falsificada, de acordo com funcionários da Spirit.

Francesca Conti, gerente geral do Titanium International Group, disse que o episódio está sob investigação e que não pode fornecer detalhes adicionais. "Estamos cooperando com as autoridades relevantes para resolver qualquer problema eventualmente identificado", disse em um e-mail.

Os documentos em questão são conhecidos como certificados de conformidade. Eles servem um pouco como uma certidão de nascimento para o titânio, detalhando sua qualidade, como foi feito e de onde veio, disseram funcionários da Spirit.

Funcionários da Spirit disseram que começaram a testar peças de titânio para garantir que tenha sido usado material de qualidade de aviação. A empresa está testando componentes que ainda estão em estoque e que estão em fuselagens não entregues.

Até agora, os testes da Spirit confirmaram que o titânio é do grau apropriado para os fabricantes de aviões. Mas a empresa não conseguiu confirmar se o titânio foi tratado pelo processo aprovado de fabricação de aviões. O material passou em alguns dos testes de materiais realizados, mas falhou em outros.

Buccino disse que a Spirit estava trabalhando com os clientes para identificar os aviões afetados. As aeronaves que já estão em serviço serão monitoradas pelas companhias aéreas e retiradas de serviço mais cedo do que o normal, se necessário, disse ele. De acordo com Buccino, é provável que as peças afetadas serão removidas durante verificações de manutenção de rotina, independentemente de o titânio ser aprovado.

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