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Eletrobras negocia com governo saída de Angra 3 para ceder vagas em conselhos

Impasse sobre poder de voto da União em ex-estatal é alvo de conciliação no Supremo

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Brasília e Rio de Janeiro

A Eletrobras negocia com o governo a venda de sua participação na Eletronuclear, que participa dos investimentos da usina de Angra 3, em meio às tratativas para ceder vagas em seus conselhos de administração e fiscal.

A participação no conselho da Eletrobras vem sendo buscada desde o ano passado pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) para decidir sobre o assunto. O movimento iniciou uma negociação entre governo e companhia.

Logo da Eletrobras na Nyse (New York Stock Exchange). - Brendan McDermid/Brendan McDermid-09.abr.2024/REUTERS

De acordo com fontes com ciência das negociações, o acordo tem caminhado e prevê pelo menos três cadeiras no conselho de administração. O governo gostaria de obter pelo menos quatro posições, mas uma delas deve ficar no conselho fiscal.

Em troca, a Eletrobras planeja se desfazer da participação na Eletronuclear —já que os investimentos previstos não são atraentes para a empresa. A perspectiva de aportes em Angra 3 tem, inclusive, afetado o preço da empresa na Bolsa. O governo tem negociado o valor da participação nuclear e quer desconto.

Os investimentos em Angra 3 foram uma espécie de herança não desejada pela Eletrobras após a privatização da empresa, feita em 2022. Naquele ano, para viabilizar a venda da companhia, o controle da Eletronuclear foi transferido para a estatal ENBPar (Empresa Nacional de Participações em Energia Nuclear e Binacional) para manter os ativos de energia nuclear sob a União, conforme determina a Constituição.

Mas a Eletrobras permaneceu com 35,9% das ações ordinárias e 99,99% das preferenciais da Eletronuclear, que passou a ser uma coligada do grupo de energia antigamente estatal.

A construção da usina, em Angra dos Reis (RJ), foi interrompida duas vezes. A paralisação mais recente ocorreu em 2015, devido aos esquemas de corrupção investigados pela operação Lava Jato. Naquele momento, cerca de 60% da obra estava pronta.

Segundo estimativas mais recentes, o projeto ainda demandaria outros R$ 20 bilhões em investimentos, mas ainda há dúvidas sobre sua viabilidade. No fim de 2023, consultoria do BNDES concluiu que a usina poderia gerar menos de R$ 500 por MWh (megawatt-hora).

Diante das incertezas, o governo decidiu não incluir Angra 3 no lançamento do Novo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), há um ano —mesmo que tenha apontado o projeto como uma de suas prioridades no setor de energia no início do terceiro mandato de Lula.

Para investidores, a transação seria benéfica à companhia. "A cessão de Angra ao governo terminaria com os provisionamentos feitos constantemente por Eletrobras", escreveu a Ativa Research, calculando que a empresa economizaria R$ 20 bilhões em investimentos ou R$ 12 bilhões para abandonar a usina.

As negociações por poder do governo na Eletrobras foram iniciadas em dezembro, depois de uma série de ameaças e declarações de integrantes da gestão petista contra a empresa, sob o argumento de que o modelo de privatização prejudicou a União.

A União continua acionista majoritária, com 43% das ações, mas o estatuto da empresa impede o exercício de voto com fatias maiores do que 10% do capital social. O governo Lula quer, portanto, um número maior de assentos no conselho para exercer mais controle sobre a empresa.

O processo vem sendo conduzido sob coordenação do ministro do STF Kassio Nunes Marques. Nesta quarta (31), a Eletrobras anunciou que serão solicitados mais 45 dias de prazo para uma solução amigável.

As tratativas envolvem também a antecipação de recursos a serem pagos pela Eletrobras à Conta de Desenvolvimento Energético, embora uma MP (medida provisória) publicada neste ano já tenha autorizado o movimento.

O governo quer usar os recursos antecipados no abatimento da conta de luz no curto prazo, embora possa haver um efeito rebote nos anos seguintes. Esse ponto também deve se mostrar vantajoso para a companhia, já que o montante não pago sofre uma correção anual.

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